Documento milenar descreve “ressurreição” de animais e intriga pesquisadores

Um pergaminho egípcio provavelmente escrito entre 1782 e 1550 a.C traz a história de um truque feito para impressionar um faraó
Por Matheus Chaves, editado por Lucas Soares 10/12/2025 05h40
Papiro
Papiro de Westcar (Imagem: Keith Schengili-Roberts via Wikimedia Commons)
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O papiro de Westcar, atribuído ao Egito Antigo, traz uma narrativa que muitos consideram a mais antiga menção — literal ou literária — de um truque de mágica: a “mágica da cabeça decapitada”. Mas, acima de tudo, ilustra como mitos e histórias já surgiam no imaginário humano há milênios.

O que o papiro descreve

  • O texto seria originário do período conhecido como Segundo Período Intermediário (entre 1782 e 1550 a.C.), mas suas histórias se passam num tempo anterior — cerca de mil anos antes — sob o reinado do Khufu, faraó da Antiga Civilização do Egito.
  • Entre as cinco pequenas histórias narradas, há uma no­ quarto conto em que o filho de Khufu, Hordjedef, apresenta ao rei um mago chamado Djedi — descrito como uma pessoa de 110 anos que, segundo a lenda, era capaz de beber 100 jarras de cerveja diariamente.
  • Mas o feito lendário atribuído a Djedi vai além da bebida: o papiro afirma que ele conseguia reimplantar cabeças cortadas e “ressuscitar” animais decapitados. Para provar o poder do, Khufu pede para chamarem um prisioneiro que deve ser utilizado no truque. Porém, Djedi não aceita usá-lo e escolhe um ganso. Assim, remove a cabeça dele e, após um encantamento, anda normalmente novamente, com a cabeça reimplantada. Depois, o truque seria repetido com outro pássaro, um pássaro aquático e até um boi.
Representação artística de um papiro antigo (Crédito: CC0 Domínio Público)

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Ficção ou realidade? 

Não há evidência arqueológica ou histórica confiável de que o mago Djedi tenha existido de fato. O “truque” provavelmente faz parte da tradição literária e mítica do Egito Antigo.

Outras pistas de “mágica” no Egito antigo — e seus limites

Alguns estudiosos já apontaram ilustrações na tumba de um oficial real chamado Baqet III (séc. XXI a.C.) como possível evidência de truques clássicos da mágica ocidental. No entanto, essa interpretação é controversa: muitos defendem que o desenho representa um jogo ou outra atividade não relacionada à prestidigitação.

De fato, a primeira menção confiável a um truque data da Roma Antiga. Foi quando o filosofo Sêneca, o Jovem, registrou em suas Cartas Morais a Lucílio, no ano 65 d.C., a descrição do “copo e os dados do malabarista”. 

Para ser preciso, são esses malabaristas romanos que podem ser considerados os primeiros praticantes documentados dessa forma de mágica. Ainda assim, o episódio do ganso decapitado preserva o título de relato mais antigo conhecido envolvendo uma performance que se assemelha a um truque de mágica.

Matheus Chaves
Colaboração para o Olhar Digital

Matheus Chaves é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.