Fábrica de chips “portátil”: o jeito inédito da USP para produzir semicondutores

A PocketFab da USP aposta em estrutura compacta e modular para reduzir dependência do Brasil em chips; entenda como funciona
Pedro Spadoni16/12/2025 10h40
Ilustração de uma fábrica portátil de semicondutores (chips) de inteligência artificial (IA) como proposto pela USP
Imagem meramente ilustrativa (Imagem: Pedro Spadoni via ChatGPT/Olhar Digital)
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A Universidade de São Paulo (USP) anunciou nesta terça-feira (16) o lançamento da PocketFab, apresentada como a primeira fábrica portátil, modular e sustentável de semicondutores do mundo. 

A iniciativa busca inserir o Brasil no mapa global dos chips, setor estratégico que hoje concentra produção e tecnologia em poucos países. 

Desenvolvido no InovaUSP, em parceria com a indústria, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o projeto propõe um modelo alternativo ao das fábricas tradicionais.

A ideia: em vez de plantas gigantes, caras e altamente concentradas, uma estrutura compacta e reconfigurável, pensada para aproximar pesquisa, startups e indústria da fabricação de chips.

Menor, modular, acessível: o novo jeito de fabricar chips proposto pela USP

Na prática, a PocketFab funciona como uma linha piloto de semicondutores que “cabe em qualquer lugar”. Ela reúne, em módulos integrados, etapas que normalmente exigem fábricas de grande porte.

Wafer em fábrica de chips de inteligência artificial (IA)
(Imagem: asharkyu/Shutterstock)

Isso permitiria que universidades e centros de inovação tivessem acesso a processos avançados de fabricação sem investimentos bilionários.

Essa estrutura compacta concentra desde a criação dos circuitos até a montagem final dos chips. O processo inclui técnicas de micromanufatura, litografia e metalização, usadas para desenhar os circuitos em lâminas de silício. 

Além disso, inclui empacotamento heterogêneo, que combina vários chips menores, os chamados chiplets, num único sistema mais eficiente.

Para garantir qualidade, a PocketFab também incorpora módulos de salas limpas, ambientes altamente controlados, além de estações de teste e metrologia. 

Isso permite que a fábrica seja usada tanto no desenvolvimento de chips voltados à inteligência artificial (IA) quanto na produção de dispositivos conectados à internet, sensores ambientais e componentes usados em áreas como saúde, automação e indústria. 

Na configuração inicial, a capacidade produtiva estimada é de cerca de 20 wafers por dia. Para quem não sabe: wafers são as lâminas de silício onde os circuitos são gravados. 

Cada wafer pode gerar milhares de chips, dependendo do tamanho. A ideia não é competir com grandes fabricantes globais, mas viabilizar produção contínua, testes e protótipos em escala suficiente para pesquisa e inovação. 

Projeto mira soberania tecnológica, sustentabilidade e reconstrução da capacidade nacional

A proposta da PocketFab surge num contexto de alerta global. A pandemia expôs a fragilidade das cadeias de chips, que são altamente concentradas. E mostrou como a falta de semicondutores pode paralisar setores inteiros. Desde então, chips deixaram de ser apenas um insumo industrial e passaram a ser vistos como questão de segurança econômica.

Braços robóticos em linha de produção de fábrica de semicondutores (chips)
Fábricas tradicionais de chips são estruturas grandes, caras e com alto impacto ambiental, segundo a USP (Imagem: IM Imagery/Shutterstock)

Segundo a leitura da USP, fábricas tradicionais são estruturas grandes, caras e com alto impacto ambiental. E a PocketFab aposta no caminho oposto: reduzir escala e custo para tornar a manufatura mais acessível, replicável e compatível com ambientes acadêmicos. 

A lógica é semelhante à de unidades menores que podem ser multiplicadas, em vez de poucas plantas gigantes concentradas num só lugar. 

A sustentabilidade é outro eixo central do projeto. A fábrica foi concebida para consumir menos energia, usar menos água e produtos químicos e demandar áreas menores de salas limpas. 

Com isso, a USP vê espaço para, no futuro, avançar na certificação de “chips verdes”, alinhando microeletrônica a metas ambientais e climáticas. 

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No cenário brasileiro, a iniciativa se soma aos esforços de reconstrução da capacidade nacional em semicondutores, após o esvaziamento do setor nos últimos anos e a retomada gradual do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec).

Assim, a PocketFab aparece como um caminho complementar, integrado ao ecossistema acadêmico e de inovação, com ambição de formar profissionais, gerar tecnologia local e ampliar a autonomia do país numa área considerada estratégica.

(Essa matéria usou informações dos jornais Estadão e Folha de S. Paulo.)

Pedro Spadoni
Redator(a)

Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, revistas e até um jornal. No Olhar Digital, escreve sobre (quase) tudo.