O campo magnético da Terra se formou nos primeiros bilhões de anos de existência do planeta. Pelo menos, é o que sugerem evidências descobertas recentemente. A revelação é crucial pois se aproxima de responder à questão debatida há muito tempo sobre a origem do campo magnético da Terra e sua correlação com a formação inicial do planeta.

Para quem tem pressa:

  • Evidências recém-descobertas sugerem que o campo magnético da Terra se formou nos primeiros bilhões de anos de existência do planeta. Isso oferece insights cruciais para entender sua origem e correlação com a formação inicial do planeta;
  • O campo magnético é essencial para proteger a Terra da radiação solar. Por isso, é fundamental para a formação e manutenção da vida. Tanto que a existência e força desses campos em outros planetas rochosos permanecem uma questão debatida e crucial para a possibilidade de vida avançada em outros lugares da galáxia;
  • Cientistas encontraram pistas nas formações de ferro bandado do Cinturão Supracrustal de Isua, na Groenlândia, onde a magnetita nas rochas se alinha segundo a direção do campo magnético. Essas orientações, confirmadas como originais e não alteradas por reaquecimentos, fornecem registros valiosos sobre a intensidade e a direção do campo magnético antigo;
  • A pesquisa liderada pela professora Claire Nichols da Universidade de Oxford aponta que movimentos convectivos no núcleo externo líquido da Terra podem ter ocorrido antes da formação do núcleo sólido, sugerindo que o campo magnético é anterior à vida multicelular. Essas descobertas têm implicações significativas para entender o calor que escapou do núcleo terrestre e como isso influenciou a atividade vulcânica e o desenvolvimento geológico e biológico do planeta.
(Imagem: Mopic/Shutterstock)

O campo magnético da Terra protege parcialmente o planeta da radiação solar. Por isso, é considerado essencial para a formação e manutenção da vida. Enquanto planetas gigantes como Júpiter possuem campos magnéticos poderosos, a prevalência desses campos em planetas rochosos ainda é uma questão de debate. Para você ter ideia, a raridade ou a fraqueza desses campos poderia limitar a possibilidade de vida avançada em outros planetas da galáxia.

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O estudo que aponta as evidências em questão, publicado no Journal of Geophysical Research: Solid Earth, oferece uma visão fundamental sobre a história magnética da Terra e suas implicações para a evolução geológica e biológica do planeta.

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Origens do campo magnético da Terra

Renderização 3D de uma visão do planeta Terra vista do espaço.
(Imagem: Vitaly Sosnovskiy/Shutterstock)

A busca pelas origens do campo magnético da Terra tem sido uma prioridade para os geólogos. As rochas podem preservar evidências da formação do campo, mas essas evidências podem se perder se as rochas se aquecerem o suficiente para alterar a orientação de partículas de ferro internas. Agora, cientistas encontraram pistas em algumas das rochas mais antigas e preservadas do planeta.

O Cinturão Supracrustal de Isua, na Groenlândia Ocidental, é composto por alguns dos primeiros materiais da crosta continental e tem partes que permaneceram relativamente inalteradas pelo processamento geológico. Esta região, apesar de ser um dos locais mais inóspitos para pesquisas de campo, provou ser fundamental para compreender melhor a história magnética terrestre.

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As formações de ferro bandado (tipo de rocha) do Cinturão de Isua mostram a direção e, em certa medida, a intensidade do campo magnético durante sua formação. A magnetita (mineral ferromagnético mais importante da natureza e presente em rochas ígneas, sedimentares e metamórficas) nessas formações se alinha na direção do campo magnético, similar a limaduras de ferro ao redor de um ímã. 

Por dentro do campo magnético

(Imagem: orin/Shutterstock)

A professora Claire Nichols, da Universidade de Oxford, liderou a pesquisa e está confiante de que essas orientações são originais e não resultantes de reaquecimentos posteriores. Claire expressou entusiasmo ao confirmar a presença de sinais magnéticos primários nas amostras analisadas. 

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“Extrair registros confiáveis de rochas tão antigas é extremamente desafiador”, disse ela, em entrevista ao IFLScience. A importância desses sinais é amplificada pela possibilidade de eles ajudarem a entender o papel do campo magnético antigo na emergência da vida na Terra.

Ainda não se compreende completamente o que causa o campo magnético terrestre. Mas sabe-se que ele surge de movimentos no núcleo externo líquido da Terra. Esses movimentos de convecção, impulsionados pela solidificação do núcleo interno, funcionam como um dínamo que sustenta o campo magnético.

As rochas estudadas por Nichols e sua equipe indicam que tais movimentos convectivos podem ter ocorrido antes mesmo da formação do núcleo sólido. Estas descobertas sugerem que o campo magnético é provavelmente mais antigo que a vida multicelular, tendo implicações sobre a quantidade de calor que escapou do núcleo da Terra no início e como isso influenciou o manto e a atividade vulcânica.