Cientistas da Universidade da Califórnia Riverside (UCR) concluíram, em pesquisa publicada nesta quinta-feira (2) no The Astrophysical Journal Letters, que relatórios recentes indicando que o Telescópio Especial James Webb (JWST) detectou supostos sinais de vida em planeta fora do Sistema Solar são prematuros, o que não significa que isso não possa acontecer no futuro.

O furor em torno da suposta descoberta iniciou-se em 2023, quando o James Webb detectou possíveis elementos de “bioassinatura” na atmosfera do exoplaneta K2-18 b, uma espécie de super-Terra que está a cerca de 120 anos-luz de nosso planeta, rememora o Space.com.

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Normalmente, exoplanetas são extremos, violentos e de natureza que não se assemelha à vida como conhecemos. Eles podem ser atingidos por forte radiação de suas estrelas, não ter superfície sólida ou até serem congelados, mas no caso do K2-18 b, a situação foi um tanto diferente, pois ele se assemelha bastante à Terra.

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Ilustração de como seria a vista de K2-18 b (Imagem: Shang-Min Tsai [gerado com IA]/UCR)

James Webb não descobriu vida em K2-18 b?

  • O exoplaneta em questão tem entre duas e três vezes a largura da Terra e 8,6 vezes sua massa;
  • Ele se encontra em zona habitável de sua estrela, região ideal para suportar água líquida;
  • Dessa forma, esse exoplaneta é teorizado como um oceano, ou um mundo “hiciano”, cheio de água líquida;
  • Contudo, ele tem uma diferença em relação ao nosso planeta: sua atmosfera parece ser composta, principalmente, por hidrogênio e não por azoto (que compõe 78% de nossa atmosfera).

Este planeta recebe quase a mesma quantidade de radiação solar que a Terra. E, se a atmosfera for removida como fator, o K2-18 b tem temperatura próxima à da Terra, o que também é situação ideal para encontrar vida.

Shang-Min Tsai, membro da equipe e cientista do projeto UCR, em comunicado

A investigação de 2023, realizada por cientistas da Universidade de Cambridge com o James Webb, determinaram a presença de dióxido de carbono e metano no K2-18 b.

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Tais moléculas foram encontradas sem vestígios de amoníaco, indicando que o exoplaneta seria mesmo um mundo hiciano, com vasto oceano sob atmosfera rica em hidrogênio. Mas algo bem emocionante também foi sugerido.

“O que foi a cereja do bolo, em termos de busca por vida, é que, no ano passado, esses pesquisadores relataram tentativa de detecção de sulfeto de dimetila, ou DMS, na atmosfera daquele planeta, produzido pelo fitoplâncton oceânico da Terra”, informou Tsai.

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Tal dado incute que, se o DMS estiver se acumulando a níveis detectáveis, pode haver algo, talvez até alguma forma de vida, que está produzindo esse DMS em K2-18 b a taxa 20 vezes superior à que encontramos na Terra.

Representação artística do Telescópio Espacial James Webb investigando galáxia (Imagem: Dima Zel/Shutterstock)

Detecção do DMS foi mesmo confirmada?

Mas há um porém: a detecção do DMS foi inconclusiva, e até mesmo o cientista da Universidade de Cambridge, Nikku Madhusudhan, foi cauteloso acerca da descoberta.

Ele afirmou que futuras observações do Webb são necessárias para confirmar sua presença na atmosfera do exoplaneta. A inclusão acerca da detecção do DMS levou a equipe do UCR a acompanhar a detecção.

O sinal DMS do JWST não era muito forte e só apareceu de certas maneiras durante a análise dos dados. Queríamos saber se poderíamos ter certeza do que parecia ser uma dica sobre o DMS.

Shang-Min Tsai, membro da equipe e cientista do projeto UCR, em comunicado

O que esse grupo descobriu, a partir de modelos computacionais que contabilizam atmosferas baseadas em hidrogênio e para a física e química do DMS, foi que é improvável que os dados coletados primeiro apontassem para detecção de DMS.

“O sinal se sobrepõe fortemente ao metano e pensamos que distinguir DMS do metano está além da capacidade deste instrumento”, informou Tsai.

Dessa forma, o JWST vai precisar analisar o exoplaneta com outros instrumentos além do Near-Infrared Imager and Slitless Spectrograph (NIRISS) e Near-Infrared Spectrograph (NIRSpec), que foram utilizados na investigação inicial.

Atualmente, a equipe de Madhusudhan segue observando o K2-18 b com outro instrumento primário do telescópio espacial, o Mid-Infrared Instrument (MIRI), que vem ajudando a reunir mais informações sobre o exoplaneta que é similar à Terra.

Os exoplanetas estão perdendo tamanho (Crédito: NASA, ESA, CSA e D. Player (STScI))
Imagem: NASA, ESA, CSA, D. Player (STScI)

As melhores bioassinaturas em um exoplaneta podem diferir significativamente daquelas que encontramos hoje mais abundantes na Terra. Em planeta com atmosfera rica em hidrogênio, é mais provável que encontremos DMS produzido pela vida em vez de oxigênio produzido por plantas e bactérias, como na Terra.

Eddie Schwieterman, líder da equipe e astrobiólogo da UCR

“Por que continuamos explorando o cosmos em busca de sinais de vida?” Tsai perguntou retoricamente. “Imagine que você está acampando em Joshua Tree [parque estadual dos EUA] à noite e ouve algo. Seu instinto é acender uma luz para ver o que há lá fora. De certa forma, é isso que estamos fazendo também.”