Com o trágico incêndio que consumiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 2018, diversas peças — entre elas fósseis extremamente relevantes para a ciência nacional e mundial — foram total ou parcialmente destruídos. Entre eles estava o fóssil humano mais antigo já descoberto nas Américas.

Conhecido como “Luzia”, este achado arqueológico de meio século atrás, encontrado na Gruta Lapa Vermelha, em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, é crucial para entendermos a história do povoamento do continente.

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Por sorte, os especialistas estimam que cerca de 80% do crânio de Luzia foi salvo do fogo, segundo o g1. No entanto, a restauração enfrenta dilemas complexos. Atualmente, os fragmentos do fóssil estão temporariamente armazenados, aguardando o processo de reconstituição. Os pesquisadores debatem cuidadosamente a melhor abordagem, cientes de que o uso de substâncias durante a restauração pode prejudicar análises futuras.

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Fragmentos do crânio de Luzia resgatados do incêndio no Museu Nacional em 2018. (Imagem: Raphael Pizzini / UFRJ via NatGeo)

Luzia: o fóssil humano mais antigo das Américas

  • Em 1971, uma pequena equipe de pesquisadores, liderada pela renomada arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire, lançou-se em buscas arqueológicas nas terras da Lapa Vermelha, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais.
  • O objetivo era encontrar vestígios que revelassem segredos enterrados sob as rochas do local.
  • Após intensos esforços, em 1973, a equipe retornou com reforços, somando cerca de 25 pessoas, e logo encontraram as primeiras pinturas rupestres, indícios de uma rica história humana na região.
  • O ano seguinte, 1974, marcou o início da descoberta dos primeiros ossos de “Luzia”.
  • O legado de Luzia permanece vivo na Gruta Lapa Vermelha, preservado no Monumento Natural Estadual que leva seu nome.
  • Por mais que o espaço não esteja aberto ao público em geral, sua importância como um tesouro arqueológico das Américas é inegável.

Morte misteriosa

Os achados revelaram uma mulher ancestral que habitou a região há aproximadamente 11 mil a 12 mil anos. Seu esqueleto, fragmentado e disperso pela erosão ao longo do tempo, ofereceu pistas intrigantes sobre a vida e a morte de Luzia. No entanto, os mistérios persistem até hoje, especialmente em torno das circunstâncias de seu falecimento.

“O que ela estava fazendo no fundo do buraco?” questionou o arqueólogo André Prous. “Era uma mulher jovem, e não encontramos evidências de morte por causas naturais. Nós não sabemos e, para nós, isso é irrelevante em termos de reconstituição do povoamento das Américas.”

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Qual a aparência de Luzia?

A aparência de Luzia também continua a ser um enigma. Batizada em homenagem a “Lucy”, um esqueleto encontrado na Etiópia, “Luzia” intrigou cientistas com sua morfologia facial. Estudos iniciais sugeriram que ela poderia pertencer a uma das primeiras levas de humanos a ocupar a América, com características distintas de grupos indígenas posteriores.

No entanto, pesquisas mais recentes desafiam essa narrativa, sugerindo que o código genético de Luzia é mais semelhante ao dos indígenas americanos contemporâneos. “É um mistério ainda”, admite Leandro Vieira, arqueólogo do IEF.