O rover Perseverance da NASA em Marte coletou amostras que podem conter evidências de vida microbiana antiga no planeta vermelho. Este desenvolvimento é um marco significativo na missão do rover dentro da Cratera Jezero.

A descoberta de materiais nos tubos de amostras do rover, tanto os deixados na superfície de Marte quanto os contidos no próprio rover, gerou entusiasmo entre os cientistas. Esses materiais podem fornecer informações críticas sobre o passado do planeta, particularmente em relação à possibilidade de vida antiga.

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Kenneth Farley, o cientista líder do programa Perseverance da Caltech, está na linha de frente da análise dessas amostras. Suas descobertas foram compartilhadas na reunião do Grupo de Análise de Materiais Extraterrestres (ExMAG, na sigla em inglês) em Houston, Texas, gerando interesse e discussão na comunidade científica.

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Descoberta de sílica hidratada

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Amostra denominada Lefroy Bay na Unidade de Margem. (Imagem: NASA/JPL-Caltech/Ken Farley via Space.com)

Uma das descobertas mais promissoras envolve uma amostra denominada “Lefroy Bay”, que foi encontrada contendo sílica hidratada.

Na Terra, este mineral é conhecido por sua capacidade de preservar sinais de vida antiga, como micróbios fossilizados. A presença de sílica hidratada na amostra de Lefroy Bay sugere que uma preservação semelhante pode ter ocorrido em Marte, aumentando a possibilidade de descobrir formas de vida marcianas antigas.

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A amostra Lefroy Bay e outras duas amostras da mesma unidade — a ‘Unidade de Margem’ — estão a bordo do Perseverance. As amostras da Unidade de Margem possuem abundante carbonato e sílica, indicando claramente um papel dominante da água líquida em sua formação.

Kenneth Farley, o cientista líder do programa Perseverance da Caltech, ao Space.com

As capacidades de preservação da sílica hidratada significam que, se alguma vida microbiana já existiu na região onde a amostra foi coletada, traços dela ainda podem estar presentes. Esta descoberta está alinhada com a missão principal do Perseverance de buscar sinais de vida passada e coletar amostras para estudos futuros.

Importância do retorno das amostras

Farley enfatizou a necessidade crucial de retornar essas amostras para a Terra para desbloquear seu potencial completo.

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As amostras coletadas pelo Perseverance, incluindo aquelas da “Unidade de Margem”, contêm abundância de carbonato e sílica. Esses minerais indicam a presença histórica de água líquida, que é um ingrediente chave para a vida como a conhecemos.

Determinar se a água nessas amostras veio de fontes superficiais, como lagos ou rios, ou de águas subterrâneas, é essencial para entender a habitabilidade do Marte antigo. Esta informação poderia revelar se Marte teve ambientes estáveis e favoráveis à vida há mais de 3,4 bilhões de anos. A capacidade dessas amostras de preservar biossinais as torna singularmente importantes para estudar as condições antigas de Marte e seu potencial para vida.

Objetivos e desafios da missão Perseverance

Desde seu pouso em Marte em 18 de fevereiro de 2021, o Perseverance fez progressos significativos em sua missão. O rover percorreu aproximadamente 27 quilômetros dentro da Cratera Jezero, uma região que se acredita ter sido um leito de lago com um antigo delta de rio.

Este local foi escolhido porque os cientistas acham que foi uma vez inundado com água, criando condições potencialmente favoráveis para a vida. A missão do rover é “buscar sinais de vida antiga e coletar amostras de rocha e regolito para um possível retorno à Terra”, segundo a NASA.

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Terreno irregular desafia o rover Perseverance da NASA na Cratera Jezero. (Imagem: NASA/JPL-Caltech/Ken Farley via Space.com)

No entanto, o terreno da Cratera Jezero apresenta desafios para a mobilidade e operações do rover. A área não é ideal para a travessia do rover, exigindo planejamento e navegação cuidadosos para evitar obstáculos e garantir a segurança da missão.

Apesar desses desafios, o Perseverance continua cumprindo seus objetivos, coletando amostras valiosas e dados que ajudarão os cientistas a entender os ambientes passados de Marte.

Saúde do rover e problemas técnicos

A saúde geral do rover Perseverance permanece forte, mas ele encontrou alguns problemas técnicos. Notavelmente, os sensores de vento do Mars Environmental Dynamics Analyzer (MEDA), construídos por uma equipe internacional liderada pelo Centro de Astrobiologia da Espanha, não estão mais funcionando. Esses sensores desempenhavam um papel crucial no monitoramento do clima e das condições atmosféricas de Marte, e sua perda é um revés para a missão.

Além disso, há problemas com a tampa da lente do instrumento SHERLOC (Scanning Habitable Environments with Raman & Luminescence for Organics & Chemicals). O SHERLOC está montado no braço robótico do rover e é vital para identificar moléculas orgânicas e produtos químicos.

A tampa da lente com defeito afetou as capacidades de espectroscopia do instrumento, mas esforços estão sendo feitos para restaurar sua funcionalidade. Trabalhos preliminares sugerem que os cientistas podem conseguir recuperar as habilidades do SHERLOC, com mais informações esperadas nos próximos meses.

Progresso na coleta de amostras

O Perseverance foi enviado a Marte com 38 tubos de amostra, projetados para coletar rochas, regolito e amostras atmosféricas. Até agora, o rover usou cerca de dois terços desses tubos, coletando uma variedade diversificada de amostras, incluindo rochas ígneas, argilito, conglomerado de arenito/pedregulho, carbonato-sílica-olivina e areia marciana.

A variedade de materiais coletados fornece uma visão abrangente da história geológica e das condições ambientais da Cratera Jezero.

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Fotomontagem mostra os 10 tubos de amostra depositados pelo rover Perseverance da NASA no depósito de amostras Three Forks. (Imagem: NASA/JPL-Caltech/MSSS via Space.com)

Além dessas amostras, o Perseverance também conseguiu capturar uma amostra da atmosfera marciana. No início de sua missão, o rover depositou 10 tubos de amostras selados em um local de depósito denominado “Three Forks” na Cratera Jezero.

Este movimento estratégico foi planejado para facilitar a recuperação futura por uma missão de Retorno de Amostras de Marte (MSR), um esforço colaborativo entre a NASA e a Agência Espacial Europeia (ESA).

Planos futuros para a missão Perseverance

  • A missão de Retorno de Amostras de Marte (MSR), que visa trazer as amostras coletadas de volta à Terra, está atualmente sob revisão devido ao seu custo projetado de US$ 11 bilhões e à logística complexa envolvida.
  • Apesar desses desafios, o Perseverance continuará seus esforços de exploração e coleta de amostras.
  • Espera-se que o rover percorra até 90 quilômetros durante sua missão, permitindo-lhe estudar mais amplamente a geologia marciana.
  • Os próximos passos do Perseverance envolvem completar tarefas em uma área chamada Bright Angel, para então se mover em direção à borda da cratera.
  • Esta nova localização promete oferecer insights geológicos fundamentalmente diferentes em comparação com o fundo da cratera
  • O progresso da missão nessas áreas será crucial para entender a história geológica de Marte e avaliar sua habitabilidade passada.
  • A jornada do rover e as amostras que ele coleta desempenharão um papel fundamental nos esforços futuros de exploração de Marte.