Noland Arbaugh, 30 anos, foi o primeiro paciente da Neuralink, empresa de chips cerebrais de Elon Musk. Sendo a primeira pessoa a ter um chip instalado no cérebro, era de se esperar que ele apresentasse defeitos.

Após 100 dias de uso, o paciente tem apenas 15% dos conectores funcionais. Os demais se soltaram do cérebro, assim, a Neuralink precisou “recalibrar” o sistema para que Arbaugh seguisse utilizando-o.

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Segundo o g1, o problema foi revelado pela Neuralink no início de maio, tendo sido detalhado na quarta-feira (22) pelo The New York Times, que informou que o chip foi ajustado, de modo que o homem voltasse a controlar um computador com o pensamento.

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Detalhe do Telepathy, chip cerebral da Neuralink (Imagem: Divulgação/Neuralink)
  • Arbaugh perdeu os movimentos abaixo do pescoço depois que bateu sua cabeça ao mergulhar em um lago;
  • Ele se candidatou para receber o chip da Neuralink quando a empresa realizava testes, em 2023;
  • Contudo, ele admitiu ter ficado com medo após ter sido selecionado para ser o primeiro a receber o chip;
  • Ele tinha a opção de deixar o estudo e retirar o chip no início deste ano, mas quer seguir trabalhando com a Neuralink;
  • A companhia de Musk informou que vai finalizar seu estudo em cerca de seis anos.

Sou tetraplégico e tudo que eu realmente tenho é meu cérebro. Então, deixar alguém mexer lá e bagunçar é um grande compromisso. Eu queria ajudar e não queria deixar meus medos atrapalharem isso.

[O chip] me tornou mais independente e isso ajuda não só a mim, mas todos ao meu redor. Me faz sentir menos desamparado e menos um fardo. Além de estar curado, acredito que o que a maioria dos tetraplégicos deseja é independência.

Noland Arbaugh, em entrevista à WIRED

O paciente quer controlar o Optimus, robô da Tesla, com sua mente, mas por enquanto, ele consegue navegar na internet e jogar no computador, como xadrez e Mario Kart, tudo a partir do controle de cursor do mouse.

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No momento, [a possibilidade do controle da mente] está apenas em um Macbook, mas eles [os cientistas da Neuralink] estão planejando mover [o controle] para outros dispositivos. Em breve, mudará para um telefone e continuaremos a partir daí [a evolução da tecnologia].

Noland Arbaugh, em entrevista à WIRED

Durante o período de inscrição, ele passou por vários testes, incluindo entrevistas e bateria de exames. “Durante todo esse processo, eles me disseram que, a qualquer momento, se eu não atendesse a um dos critérios, eles seguiriam em outra direção”, contou Arbaugh.

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Tentei diminuir qualquer expectativa porque não queria ter muita esperança e me decepcionar. Foi difícil não ficar animado, mas acho que precisava disso para me manter com os pés no chão durante todo o processo.

Noland Arbaugh, em entrevista à WIRED

Sobre controlar um robô, Arbaugh afirmou que “seria muito legal se eu tivesse um robô Optimus [da Tesla] para que pudesse controlá-lo. [Ele] faria basicamente tudo por mim e seria um zelador”. Mas ele quer mais: quer se conectar a um carro da Tesla.

Ele também ficou receoso por ser o primeiro a receber um chip no cérebro por conta dos problemas que o dispositivo poderia sofrer. “Não sabia se queria ser o primeiro a colocar isso na cabeça caso algo desse errado com o implante. E se ele quebrar ou parar de funcionar e eu só ficar com ele por um dia, uma semana? Achei que talvez outra pessoa devesse entender primeiro, e eu conseguirei a versão melhor”, explicou.

Implantação do chip

Depois de aprovado, o paciente fez mais testes e exames no hospital da cirurgia. Foram oito horas de exames de sangue e urina, além de testes no cérebro. “Se alguma coisa mudasse [em termos cognitivos], eles poderiam saber como eu estava quando comecei. Foi um longo dia”, disse.

O chip implantado nele, chamado de Telepathy, analisa sinais cerebrais e os transforma em comandos que são enviados para outro dispositivo eletrônico. Só que, para funcionar, ele precisa de calibração. Arbaugh pensou, diversas vezes, em movimentos, como mexer os dedos para os lados e apertar botões.

O paciente informou que o chip é bem intuitivo e o permite navegar no PC sem muito esforço. “O que estou pensando o tempo todo é exatamente onde quero que o cursor vá”, contou.

No dia da cirurgia, paciente passou por mais baterias de exames; Elon Musk foi conferir de perto (Imagem: Reprodução/Neuralink)

Perda de conexão entre chip e cérebro

Quando os fios se soltaram, Arbaugh percebeu o ocorrido quando não tinha mais controle total sobre os movimentos do cursor do computador. Ele achava que a Neuralink poderia ter mudado o programa no qual o chip se baseia.

Não sabia que isso era possível [fios se soltarem]. Não acho que eles já tinham visto isso em um dos testes com animais. Nunca foi previsto que isso aconteceria em mim.

Noland Arbaugh, em entrevista à WIRED

A forma que a Neuralink achou para contornar a questão foi recalibrar o sistema, de modo que ficasse mais sensível a sinais cerebrais mais sutis. Na visão da empresa de Musk, a situação se estabilizou, não sendo necessária nova cirurgia.

O homem percebeu que seu controle sobre o sistema melhorou, de fato, após a regulagem. “Foi apenas um pequeno ajuste que eles fizeram no lado do software e, a partir desse ponto, as coisas foram melhorando cada vez mais”.