Durante uma conferência na embaixada japonesa em Londres, o roboticista Hiroshi Ishiguro disse que, da mesma maneira como PCs e smartphones se tornaram plataformas para as quais diversas pessoas e empresas escrevem programas, no futuro os robôs serão plataformas semelhantes.

“Robôs são plataformas, assim como PCs, consoles e smartphones. Muitas pessoas criam programas para elas. (…) Nós esperamos fazer a mesma coisa com andróides e robôs humanoides um dia”, disse Hiroshi, roboticista premiado da Universidade de Osaka.

Cabeça nas nuvens

Um ponto importante notado por Ishiguro é que a computação nas nuvens não poderá, ao menos no futuro próximo, ser aproveitada pelos desenvolvedores de andróides. Isso porque mesmo em condições ideais de conectividade, o tempo que os robôs demorariam para acessar a nuvem seria incompatível com a verossimilhança que os criadores de robôs almejam. “Acessar um computador na nuvem demora demais. O atraso de meio segundo é muito facilmente notável para um humano”, opinou.

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Assim, mesmo com redes de fibra óptica incrivelmente rápidas, a demora em responder deixaria óbvio para o interlocutor que se trata de um robô, e seria inconveniente para interações com humanos. Por esse motivo, Ishiguro acredita que os andróides precisarão de processadores e memórias potentes para poder responder com presteza aos humanos

Cérebro eletrônico

Ishiguro citou como exemplo Erika, a andróide que ele e sua equipe criaram. A andróide possui um total de dez computadores que são responsáveis por sua “inteligência”. Entre outras funções, os computadores realizam reconhecimento facial, reconhecimento de voz, criam respostas adequadas a situações e controlam até mesmo músculos pneumáticos no rosto e tronco da andróide, simulando gestos humanos. Um vídeo de Erika em ação pode ser visto abaixo:

Embora ela já esteja em desenvolvimento há 5 anos, Ishiguro ainda enxerga muitas maneira de melhorá-la. Uma delas seria criar uma espécie de “motor de intenção” para ela. “Hoje em dia, os robôs apenas memorizam comportamenos e os repetem, é simples demais”. Ele pretende criar uma maneira de permitir que Erika entenda qual é a intenção do interlocutor com cada frase, já que, sem isso, se ela não entende uma frase, a conversa se encerra.

“Para o robô, é melhor entender as intenções e os desejos do humano para que eles tenham interações melhores com humanos. Essa é uma preocupação fundamental para nós”, disse Ishiguro. Esse trabalho, no entanto, custa caro: “O corpo dela custou 200 mil euros [cerca de R$ 851.650], e a voz – e é uma voz perfeita, capaz de expressar emoções – outros 200 mil euros. E isso com desconto”, disse.

Além disso, Ishiguro também revelou que Erika conseguirá falar inglês “em alguns meses”. Ele acredita que isso é importante, porque permitirá que mais pessoas e empresas desenvolvam programas e rotinas para ela, ampliando colaborativamente seu leque de habilidades. 

Outros projetos

Além de Erika, Ishiguro também já criou uma série de outros robôs interessantes. Entre eles estão um robô-paciente no qual alunos de odontologia podem praticar, um celular-robô que imita os gestos do interlocutor, um travesseiro robótico que permite abraços virtuais e até mesmo Geminoid F, que foi atriz principal de um filme.

Um dos grandes sonhos de Ishiguro, no entanto, é criar um andróide que seja uma réplica perfeita de si mesmo. “Minha esposa diz que, como eu estou sempre viajando, talvez fosse melhor ter a minha cópia, o meu andróide, em casa”, disse ele em entrevista ao ArsTechnica. Ele já começou a criar sua réplica robótica, que pode ser vista em ação abaixo: