A existência de flashes misteriosos na Lua vem desde, pelo menos, o fim da década de 1960: os astrônomos Barbara Middlehurst e Patrick Moore revisaram a literatura científica e encontraram quase 400 relatos desses eventos. Pequenas regiões da superfície lunar ficam subitamente mais claras ou mais escuras, sem explicação. 

Ainda em 1967, a pesquisa deles sobre flashes e escurecimento, que eles chamaram de “fenômenos transitórios lunares”, foi publicada na revista Science. Mais tarde, os cientistas trocaram a ordem dos termos e a classificação dos eventos passou a ser “fenômenos lunares transitórios”.

“A luz emitida geralmente é descrita como avermelhada ou rosada, às vezes com aparência espumante ou fluida”, escreveu o astrônomo AA Mills na revista Nature, em março de 1970. “A coloração pode se estender por 16Km ou mais na superfície lunar, com pontos mais claros de 3Km a 5Km de diâmetro (…). A duração de um evento é de cerca de 20 minutos, mas pode persistir de forma intermitente por algumas horas.”

Simpatizantes da astronomia podem identificar os flashes com a ajuda de um telescópio profissional, embora eles sejam imprevisíveis — encontrar um pode demorar horas ou dias. Mills observou que os eventos não deixam marcas perceptíveis na superfície lunar.

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Os cientistas retornam ao assunto periodicamente, mas nunca encontram explicações conclusivas. Os fenômenos acontecem algumas vezes por semana, segundo especialistas. Neste ano, uma nova equipe de astrônomos voltou sua atenção a ele, com um observatório especialmente projetado para a tarefa.

O instrumento observa o satélite natural da Terra constantemente com duas câmeras localizadas a 100Km ao norte de Sevilha, na Espanha. Quando elas detectam um flash, gravam fotos e vídeos detalhados e enviam para a Julius-Maximilians-Universität Würzburg (JMU), na Alemanha, que opera os telescópios.

O observatório ainda está em desenvolvimento e recebe melhorias contínuas em seu software desde que entrou em operação em abril. Ainda assim, os pesquisadores têm suspeitas sobre o que vão descobrir. “Atividades sísmicas também foram observadas na Lua. Quando a superfície se move, os gases que refletem a luz do sol podem escapar de seu interior”, diz Hakan Kayal, pesquisador da JMU e chefe do projeto do telescópio, em comunicado. 

Isso explicaria os fenômenos luminosos, alguns dos quais duram horas. Segundo Kayal, dados os planos atuais para estabelecer uma base na Lua, é importante saber exatamente o que acontece lá — assim, os astronautas que forem morar na estação espacial podem se preparar para o ambiente.