De acordo com um estudo, feito em conjunto com profissionais de universidades dos Estados Unidos, as primeiras infecções confirmadas do novo coronavírus no país, descobertas em janeiro, não provocaram as epidemias que se seguiram. Em vez disso, os surtos da doença começaram semanas depois.

Como exemplo disso, os pesquisadores indicaram as proibições impostas pelos EUA para a chegada de viajantes da China ao país. Segundo eles, isso não foi suficiente para conter o vírus, já que duas semanas depois, a epidemia chegou ao estado de Washington.

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Isso reforça a ideia de que o surgimento relativamente tardio do surto significa que mais vidas poderiam ter sido salvas por ações iniciais, como testes e o chamado rastreamento de contatos, em que pessoas que tiveram contato com infectados são acompanhadas para verificação da presença do vírus.

Ao que parece, alguns casos de infecção em Washington foram notificados no início de fevereiro, considerando isso, muitos modelos sugerem que a epidemia começou próximo dessa época. No entanto, os especialistas do novo levantamento descartam uma conexão entre os primeiros confirmados e o surto posterior.

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Sequenciamento da doença

Os vírus desenvolvem mutações genéticas a uma taxa regular à medida que se multiplicam. Os cientistas podem usar essas mutações para reconstruir o movimento feito pela doença ao infectar a população e estimar quando um surto começou em determinada região.

O primeiro caso confirmado de coronavírus nos Estados Unidos foi um homem que voou da China para o Aeroporto Internacional de Seattle-Tacoma em 15 de janeiro. Pesquisadores sequenciaram o genoma de seu vírus, que passou a ser conhecido como WA1. O indivíduo, que morava no condado de Snohomish, Washington, foi hospitalizado e ficou sob isolamento até se recuperar.

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Reprodução

Especialistas acreditam que o surto da doença teve início algum tempo depois do que foi apontado anteriormente. Foto: iStock/ Manjurul

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Em 24 de fevereiro, um adolescente do mesmo condado apresentou sintomas semelhantes aos da gripe e, após um tempo, apresentou resultado positivo para o novo coronavírus. Nesse caso, também houve sequenciamento, mas a conclusão foi diferente. 

Trevor Bedford, geneticista da Universidade de Washington e do Centro de Pesquisa em Câncer Fred Hutchinson, e seus colegas descobriram que esse genoma viral era quase idêntico ao WA1, exceto por duas novas mutações. Por isso, eles o chamaram de WA2.

Alarmados, ele e seus colegas concluíram que a explicação mais provável para a pequena diferença era que o WA1 circulou no estado de Washington por seis semanas, ganhando as mutações ao longo do caminho.

Com a epidemia aumentando, Bedford decidiu continuar as análises para encontrar correspondências entre o primeiro caso e o surto que se abateu sobre Washington. Porém, nenhum dos genomas testados correspondeu ao WA1. Todos eles compartilhavam as duas mutações encontradas em WA2.

Com isso, pode-se concluir que o vírus responsável pela pandemia em alguns lugares não é o mesmo encontrado no primeiro paciente diagnosticado com a doença nos Estados Unidos. Era quase impossível que o WA1 fosse responsável pelo surto devido à impossibilidade de desenvolver essas mutações em apenas algumas semanas, concluíram os cientistas.

De acordo com os especialistas, é muito provável que o vírus WA2 já estava dentro dos EUA ou chegou de outros países – já que apenas viajantes da China estavam proibidos de desembarcar. De acordo com o The New York Times, cerca de 40 mil pessoas chegaram no país após a imposição das restrições.

Conclusão

De acordo com os especialistas, em todo o mundo, o novo coronavírus foi introduzido mais de uma vez antes de iniciar os surtos. Nesses casos, houve pouca transmissão, o que fez com que ele desaparecesse momentaneamente, até que outra variação começasse a ser transmitida.

Para Michael Worobey, um dos coautores do estudo e biólogo evolucionário da Universidade do Arizona, o tempo antes de a pandemia atingir os Estados Unidos foi uma oportunidade perdida. “Houve semanas antes do vírus realmente se estabelecer”, disse. Segundo ele, medidas que antecipassem a chegada da doença poderiam “ter feito grande diferença”.

Vale lembrar que, obviamente, o estudo não é a última palavra. A compreensão científica do vírus evolui diariamente, e esse tipo de pesquisa gera uma série de resultados possíveis, não uma certeza completa. Por esse motivo, especialistas correm contra o tempo para tentar entender o máximo possível sobre a doença para que uma possível cura possa ser descoberta.

Via: The New York Times