Um acessório nunca lançado para o Mega Drive finalmente pode ser experimentado pelo público, graças aos esforços de profissionais da Video Game History Foundation, organização que visa preservar a história dos games. Desenvolvido na década de 90, o Sega VR era um capacete de realidade virtual que prometia colocar os jogadores dentro dos jogos, muito antes de equivalentes modernos como o PlayStation VR ou Oculus Rift.
O produto foi apresentado aos lojistas e à imprensa em 1993, e chegou a ser demonstrado durante a edição de verão da CES daquele ano, realizada em Chicago. A Sega pretendia vendê-lo por US$ 200, um preço baixíssimo considerando a tecnologia da época, algo se tornou possível graças à aquisição dos direitos sobre uma unidade de medição inercial patenteada por uma empresa chamada Ono-Sendai, que podia ser produzida por apenas US$ 1.
Entretanto, o Sega VR foi cancelado antes que pudesse chegar às lojas. A desculpa oficial da Sega foi que a experiência era “tão realista” que os jogadores poderiam se machucar ao tentar se locomover enquanto usavam o acessório. Mas segundo a Video Game History Foundation, o motivo real teria sido um estudo feito pelo Stanford Research Institute, que alertava que o aparelho poderia causar tonturas, dores de cabeça e enjôos, especialmente em usuários mais jovens e crianças.
Desde então nenhum protótipo do acessório, nem de jogos desenvolvidos para ele, foi encontrado e sua tecnologia permaneceu um mistério por quase 30 anos. Isso até que Dylan Mansfield, do site Gaming Alexandria, conseguiu entrar em contato com Kenneth Hurley, co-fundador da Futurescape Productions, empresa que desenvolveu um jogo para o Sega VR chamado Nuclear Rush.
Hurley ainda tinha um CD-ROM datado de 6 de agosto de 1994 com o código-fonte completo de Nuclear Rush, além do código-fonte e ferramentas de desenvolvimento usadas em alguns outros jogos para o Mega Drive nos quais trabalhou.
De posse do código-fonte o programador e diretor de conservação digital da Video Game History Foundation, Ric Whitehouse, iniciou um processo de engenharia reversa do Sega VR. Basicamente, ele analisou a forma como o código interagia com o driver do headset (cujo código-fonte também estava no CD-ROM de Hurley) para descobrir como o acessório deveria se comportar em cada situação.
Todo o processo de desenvolvimento foi descrito, em detalhes, em um artigo no site da Video Game History Foundation. O resultado foi uma ROM (arquivo com o executável e dados do jogo) de Nuclear Rush, e um emulador capaz de simular o comportamento do Sega VR usando os óculos de realidade virtual Oculus Rift. Pela primeira vez em 27 anos Nuclear Rush pode ser jogado como idealizado por seus desenvolvedores.
Tanto o código-fonte do jogo quanto o emulador podem ser baixados gratuitamente em repositórios no Github. Refletindo sobre a experiência, Whitehouse afirma que ela reforça a importância da preservação de código-fonte e dados.
“O repositório do jogo nos conta uma história mais aprofundada sobre seu desenvolvimento sob circunstâncias singulares. O código-fonte, via comentários e estrutura que seria perdida em um binário compilado, nos dá uma visão ainda melhor tanto do jogo quanto do hardware do Sega VR. Nuclear Rush nos deu a capacidade única de recriar partes de uma experiência baseada em hardware, mais de um quarto de século depois que tal hardware foi visto em público pela última vez. Isto é realmente incrível!”, afirma.