A Arábia Saudita conta com um fundo de investimento governamental que, segundo informou a Al Jazeera, adquiriu US$ 3,3 bilhões (R$ 17,82 bilhões, na conversão direta) em três empresas de primeira linha (“AAA” ou “triple A”, como diz o jargão do setor) dos videogames: Activision Blizzard, Electronic Arts (EA) e Take-Two Interactive. A aquisição foi conduzida ao longo do último trimestre de 2020.
O mercado mundial de jogos é, há anos, muito respeitado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, filho do rei saudita Salman bin Abdul Aziz Al-Saud. Segundo a Al Jazeera, o príncipe já afirmou em diversas ocasiões ser parte da primeira geração do reino a crescer “jogando videogames”, chegando a afirmar à Business Week, em uma entrevista de 2016, que sua série favorita é a franquia ‘Call of Duty‘ de jogos de guerra da Activision.
A Arábia Saudita vem empregando ações do tipo há algum tempo, fazendo investimentos públicos em várias vertentes como parte do plano “Saudi Vision 2030”, que ambiciona alavancar o interesse de grandes empresas no país, bem como torná-lo um polo do turismo global e mudar a percepção pública que o resto do mundo tem da nação. A aquisição das ações de empresas de videogames não é exatamente parte desse plano, mas segue o mesmo padrão visto em outras ações, como investimentos em times de futebol europeus, equipes de eSports e até a luta livre profissional (o chamado “pro wrestling”, com lutas de resultado pré-determinado).
Além da Activision, EA (que faz as franquias ‘Fifa‘, ‘Mass Effect’, ‘Dragon Age’, ‘UFC’ e várias outras, além de ter recentemente finalizado a compra do estúdio Codemasters) e Take-Two Interactive (dona de franquias como ‘Grand Theft Auto’ e ‘Red Dead Redemption’), o príncipe herdeiro da Arábia Saudita também já havia adquirido, em novembro, ações equivalentes a um terço da SNK Corporation, dona de videogames como ‘King of Fighters’ e ‘Samurai Shodown’. Na ocasião, a MiSK Foundation, a entidade beneficente dirigida pelo príncipe e que assinou a aquisição, disse que ampliaria essa propriedade para 51% “no futuro”.
Apoio da Arábia Saudita aos videogames não disfarça controvérsias
Apesar da ação aparentemente progressista, a Arábia Saudita ainda se mostra bastante envolvida em controvérsias globalizadas. Isso porque Mohammed bin Salman, além de príncipe herdeiro ao trono e chairman do fundo de investimento público do país, é também o seu ministro da defesa e, como tal, já viu seu nome envolvido em alguns escândalos.
Em 2018, o príncipe foi acusado de ter ordenado o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, morto na embaixada saudita em Istambul, na Turquia. Jamal, além de jornalista colaborador de diversos veículos americanos, era ferrenho opositor à realeza do país e teve suas conversas privadas, mantidas via WhatsApp e iMessage, capturadas pelo spyware “Pegasus”, da firma israelense de segurança e espionagem NSO Group – o governo da Arábia Saudita é um dos clientes da companhia.
Um relatório da CIA, divulgado em meados de 2019, reforçou que existem “amplos indícios” do envolvimento do príncipe na morte do jornalista, o que causou descontentamento por toda a comunidade internacional. O príncipe negou qualquer participação no caso.
Em março de 2020, um julgamento feito no Tribunal da Família de Londres, que julgava o divórcio entre o emir Mohammed de Dubai e a princesa Haya da Jordânia, tornou pública a informação de que o príncipe Mohammed bin Salman agiu para assegurar o casamento dele próprio com a princesa Jalila, filha do emir, com apenas 11 anos de idade. O contrato em questão foi um dos motivos que levou a princesa Haya a fugir para o Reino Unido com os filhos, pedindo na corte britânica o seu divórcio.
Fonte: Al-Jazeera / CBC / Monitor do Oriente Médio