O mundo ainda tenta entender qual é o impacto das variantes do coronavírus na pandemia, e um novo indício de que elas podem trazer mais transtornos veio de um estudo realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Eles analisaram a variante P.1, detectada originalmente no Amazonas, e concluíram que ela tem o poder de se replicar mais dentro do corpo, causando maior carga viral nos pacientes.

Entre os pacientes analisados no estudo, ainda não revisado por pares, mas disponível neste link, houve um aumento da carga viral consistente entre quase todos os grupos acompanhados. O único em que não houve diferença foi o formado por homens de mais de 59 anos, o que pode ser explicado por uma resposta imunológica mais fraca nesta população.

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A carga viral não está necessariamente associada a uma doença mais agressiva, como explicou o pesquisador Felipe Naveca ao G1. No entanto, mesmo que não cause complicações maiores no nível individual, ela pode trazer complicações no enfrentamento da pandemia no nível coletivo.

Isso porque a alta carga viral está associada a maior transmissibilidade. Com mais vírus nas vias respiratórias do paciente, ele tende a expeli-los em maior quantidade quando respira, fala, tosse, espirra ou canta. Assim, alguém contaminado com a variante P.1 teria mais risco de infectar outras pessoas ao seu redor do que quem foi atingido pelo Sars-Cov-2 “selvagem”, descoberto em Wuhan em 2019, ou outras mutações mais antigas.

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E já está demonstrado que, mesmo não sendo proporcionalmente mais letal, um vírus mais transmissível tem um poder destrutivo imenso. Se um vírus mata 0,5% dos infectados, 1 milhão de contaminados resultam em 5 mil mortes; 2 milhões, por sua vez, causam 10 mil. Além disso, também aumenta muito a pressão sobre o sistema hospitalar, causando o colapso que já é visto em várias capitais brasileiras, causando risco de que portadores de outras doenças não possam receber atendimento.

Uma outra preocupação com a variante P.1, que não foi respondida com o estudo da Fiocruz,  é a de que ela possa escapar da resposta imunológica montada pelas vacinas ou contra infecções prévias. A suspeita vem do fato de ela portar mutações em comum (em especial, uma chamada E484K, associada a evasão imune) com a variante B.1.351, descoberta na África do Sul, que já demonstrou que tem o poder de reduzir a eficácia de imunizantes em estudos conduzidos no país. As vacinas da Novavax e da Johnson & Johnson apresentaram resultados mais frágeis contra a variante, e existe o risco de uma situação similar acontecer no Brasil.

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Variante P.1 já circula pelo mundo

A variante P.1 já está em livre-circulação pelo Brasil, com pelo menos 18 estados já registrando casos de Covid-19 causados por ela detectados com sequenciamento genético. Não seria surpresa se os demais também a tenham em seus territórios, mas apenas não conseguiram detectá-la até o momento.

Além disso, ela também já está circulando pelo mundo. O boletim epidemiológico semanal mais recente da Organização Mundial de Saúde, de 23 de fevereiro, já mostra que há transmissão comunitária (quando não é mais possível descobrir a origem do contágio) em três países: Brasil, Colômbia e Peru.

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Variante p.1
Variante P.1 já circula de forma descontrolada pela América do Sul, e tem casos confirmados em 18 países. Imagem: Reprodução/OMS

Outros 18 países já apresentavam casos importados e esporádicos confirmados, com 8 países com resultados apresentados como “pendente”.

De lá para cá, o Reino Unido já confirmou pelo menos seis casos causados pela P.1, conforme anunciado no último sábado pelo governo.