O presidente dos EUA, Joe Biden, autorizou sua equipe a adquirir 100 milhões de unidades da vacina produzida pela Janssen, o braço farmacêutico da Johnson & Johnson, contra a Covid-19. A previsão é de que as doses sejam entregues a partir de agosto de 2021.

O volume de vacinas adquiridas por Biden deve complementar expectativas já consideravelmente altas nos EUA. Fora as 100 milhões de doses da Janssen, ainda há a expectativa de outras 200 milhões de unidades ficarem disponíveis até maio, se a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA) aprovar o uso dos imunizantes Covishield (produzido pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, no Reino Unido) e NVX-CoV2373 (da Novavax).

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Joe Biden, autorizou compra de mais vacinas contra a Covid-19, é exibido usando máscara de proteção durante comício eleitoral na Flórida.
O presidente americano Joe Biden autorizou a compra de milhões de unidades da vacina da Janssen. Imagem: Devi Bones / Shutterstock.com

“Nós queremos estar com excesso de estoque e excesso de preparação”, diz Jen Psaki, secretária de comunicação da Casa Branca. Ela ressalta que Biden deseja se antecipar a imprevistos. “Ainda não sabemos qual das vacinas será mais eficaz em crianças nem o impacto das variantes ou a necessidade de doses de reforço. Obviamente, isso tudo vem sendo estudado pela FDA mas, mais uma vez, nós queremos a preparação mais ampla possível.”

A medida de Biden busca garantir a segurança do povo americano, mas atrapalha outras nações: apesar dos acordos já firmados, vários países da Europa enfrentam atrasos na entrega de vacinas, pois a demanda é mais alta que a capacidade de produção das farmacêuticas.

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Em conversa com o Olhar Digital, Massimo Della Justina, professor do curso de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), disse que a medida adotada por Biden pode afetar outros países, mas que é muito mais a organização orçamentária que determina a capacidade de aquisição de cada nação.

“Essa relação existe: cada unidade que vai para os EUA evidentemente fica indisponível para outro país”, avalia o economista. “Então é certo dizer que os EUA trazem um ‘custo de morte’ para os países menos ricos, mas não há o que ser feito quanto a isso, já que eles se prepararam melhor, enquanto outros países optaram por um plano de contingência que não priorizou a aquisição de imunizantes — isso quando o tiveram. Existe uma percepção equivocada de que ‘compra quem tem dinheiro’, mas, na realidade, pode comprar quem melhor organiza seu orçamento para isso.”

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Della Justina afirma ainda que Brasil e EUA — os dois países com pior quadro de Covid-19 atualmente — dependem, hoje, de fatores externos à sua própria estrutura. “De forma bem simples, os maiores entraves foram os presidentes — daqui e de lá. Sem demagogia e com o devido respeito a todas as opiniões políticas, o Brasil tem orçamento trilionário: então, talvez devêssemos ter buscado protagonismo antes. O Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, é um caso de sucesso lá fora, mas, no atual cenário, nem o sistema público, nem o privado conseguem absorver essa demanda.”

O economista diz que poderíamos estar em uma situação diferente se a abordagem do governo federal tivesse sido diferente. “Se as redes de farmácia — esquecendo SUS e o restante — atuassem na recepção de vacinas doadas ou vendidas a preço reduzido pelas farmacêuticas, o público poderia procurar estabelecimentos locais para receber a imunização”, exemplifica. “Nós temos a logística para isso. Ficaria, então, a cargo dos laboratórios aceitar essa demanda, vender as vacinas a preço de atacado, para reduzir o custo de aquisição e responder à nossa necessidade. A centralização no poder público complicou a gestão por aqui.”

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Vacinação no Brasil: novos rumos

No Brasil, a situação é problemática: com pouco mais de 294 mil óbitos e uma média diária acima de 2 mil mortes, apenas agora o ministério da Saúde assegurou a compra de 100 milhões de doses da Comirnaty, desenvolvida pela Pfizer em parceria com a BioNTech, e 38 milhões de unidades do imunizante da Janssen. Desde o início da vacinação no país, porém, é a Coronavac, do Instituto Butantan em parceria com o laboratório Sinovac, que lidera a campanha.

Recentemente, foi revelado que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem buscado dialogar com outras nações para assegurar a aquisição de imunizantes para o Brasil: em novembro de 2020, ele participou de uma videoconferência com Kirill Dmitriev, diretor do fundo de investimento direto russo (RDIF). O convite para a reunião partiu do próprio russo, quando viu o nome de Lula em um abaixo-assinado em prol da distribuição gratuita da vacina pelo mundo.

Imagem mostra o ex-presidente Lula em 2016, durante uma palestra
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva age nos bastidores para assegurar que países produtores de vacinas voltem a considerar o Brasil em suas distribuições. Imagem: Salty View/Shutterstock

Segundo Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, o fundo russo estava prestes a desistir das negociações com o Brasil quando Lula pediu que Dmitriev tentasse negociar com o Consórcio do Nordeste. Com isso, a entidade confirmou a compra de 37 milhões de doses da Sputnik V na semana passada — o exemplo mais recente de uma série de ações tomadas pelos governos estaduais, que alegam falta de auxílio federal.

Lula também apelou ao presidente da França, Emmanuel Macron, para que ele convocasse uma reunião do G20 para discutir a distribuição igualitária de vacina no mundo. Finalmente, o próprio Biden foi alvo de um apelo de Lula, que, em uma entrevista à CNN americana, pediu para que o presidente dos EUA participasse da oferta de doses excedentes para o Brasil.

O Brasil vacinou 11.721.357 pessoas com a primeira dose. Destas, 4.140.109 já tomaram a segunda dose, segundo informações do consórcio de imprensa formado por G1, O Globo, Extra, Estadão, Folha e Uol.

Fontes: Associated Press / CNN Brasil / iG / Carta Capital / O Globo / G1