Angela Villela Olinto é uma cientista brasileira que hoje faz parte de um hall muito seleto: a Academia Americana de Artes e Ciências. Ao tornar-se membro da instituição, a física está ao lado de nomes como Albert Einstein, Martin Luther King, Nelson Mandela, Charles Darwin e outros gigantes da história mundial.

Angela Villela Olinto figura entre os maiores nomes da história mundial ao assumir cadeira na Academia Americana de Artes e Ciência. Imagem: Arquivo Pessoal

De acordo com o site da instituição, os membros da academia são líderes mundiais nas artes e ciências, negócios, filantropia e relações públicas, localizados nos EUA e em todo o mundo. “Esses membros eleitos se unem a outros especialistas para explorar os desafios que a sociedade enfrenta, identificar soluções e promover recomendações apartidárias que promovam o bem público”, diz o informativo.

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Professora da Universidade de Chicago, nos EUA, e reitora da Divisão de Ciências Físicas e Matemáticas da instituição, a brasileira é especialista em física de astropartículas, sendo líder no ramo, e trabalha em projetos em parceria com a agência espacial dos EUA, a Nasa. Ela é formada em Física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e doutora em Física pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

“Na faculdade, me interessei por física de partículas e, no doutorado, pela astrofísica. Do pós-doutorado em diante, me dediquei a construir este novo campo que reúne as duas áreas de meu interesse anterior”, disse a cientista em entrevista à Exame.

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Além da importante cadeira que agora ocupa na Academia Americana de Artes e Ciências, na mesma semana, Olinto passou a integrar, também, a Academia Nacional de Ciências, que, em 2021, elegeu 120 membros, sendo 59 mulheres (o maior número já eleito em um único ano). É uma instituição privada sem fins lucrativos, que foi estabelecida sob uma carta do Congresso assinada pelo presidente Abraham Lincoln, em 1863. Ela reconhece a conquista em ciência por meio de uma eleição do conselho, e – ao lado da Academia Nacional de Engenharia e da Academia Nacional de Medicina – fornece conselhos e pesquisas sobre ciência, engenharia e saúde para o governo federal e outras organizações.

Contribuições importantes ao longo da carreira

A cientista construiu uma carreira de muito sucesso, com importantes contribuições teóricas e experimentais sobre astropartículas, como pesquisas sobre o estudo da estrutura das estrelas de nêutrons, teoria inflacionária, origem e evolução dos campos magnéticos cósmicos, natureza da matéria escura e a origem das partículas cósmicas de maior energia: raios cósmicos, raios gama e neutrinos.

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A brasileira é especialista em física de astropartículas, sendo líder no ramo, e trabalha em projetos em parceria com a agência espacial dos EUA, a Nasa. Imagem: Arquivo Pessoal

Em conjunto com a Nasa, Olinto é responsável por diversos projetos, entre eles o EUSO-SPB (“Observatório espacial do universo em um balão de superpressão”, em tradução livre). O projeto trata-se de um balão de alta pressão que viaja numa altitude de 33 quilômetros, com o objetivo de detectar raios cósmicos de ultra alta energia. A previsão de decolagem é para 2023.

Outro programa é a futura missão espacial chamada POEMMA (“Sonda dos multi-mensageiros astrofísicos extremos”, em português). “O projeto foi desenhado pelo meu time internacional de quase 80 investigadores para uma missão dedicada a estudar as astropartículas mais energéticas, os raios cósmicos e neutrinos ultra energéticos, e descobrir as suas fontes e interações”, conta a pesquisadora. Se aprovada para construção e voo, a missão espacial ocorrerá até o fim desta década.

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O que é a física das astropartículas

“O termo ‘física das astropartículas’ refere-se à aliança interdisciplinar entre a astrofísica e a física de partículas. Estudando as astropartículas, entendemos mais sobre as leis fundamentais da natureza”, explica a cientista.

Astropartículas são partículas que compõem ou interagem com a matéria, como os núcleos atômicos e os neutrinos, que vêm de fontes astrofísicas distantes do sistema solar. Imagem: Nasa/ESA/Allison Loll

Segundo Olinto, as astropartículas são partículas que compõem ou interagem com a matéria, como os núcleos atômicos e os neutrinos, que vêm de fontes astrofísicas distantes do sistema solar. As possíveis fontes das astropartículas, de acordo com a especialista, incluem “buracos negros supermassivos, galáxias com formação intensa de estrelas, estrelas dissociadas por buracos negros e colisões que produzem ondas gravitacionais”.

Pesquisadora se sente honrada pelas nomeações

Sobre se tornar membro das duas academias, ela se diz muito lisonjeada. “É uma imensa honra ser membro de uma destas duas instituições históricas, as academias mais importantes na ciência nos EUA. Sou privilegiada por ter seguido perguntas inspiradoras sobre o nosso universo, e ter construído parcerias e colaborações brilhantes no caminho. É uma grande alegria ser reconhecida pelos meus colegas cientistas, especialmente em um ano tão desafiador”.

Olinto incentiva as mulheres que se sentirem inspiradas por sua trajetória: “A beleza da ciência, como da arte, é, ou deveria ser, acessível a todos nós. Se esta beleza lhe inspirar, não deixe ninguém dizer que não é para mulheres. Leia, estude, aprenda com sinceridade e tenha respeito pela beleza complexa da área que escolher”.

O segredo é confiar em si mesma. “Seguindo a sua intuição, dedicação e convicção, você pode ir muito longe. Como numa escalada, se focar no caminho a frente, quando chegar no alto pode olhar para trás com orgulho da escalada cumprida”, encoraja a cientista.