Imagens de satélite capturadas pela Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), mostram o quão grave é a seca que acomete o centro e sul do Brasil. Esta é considerada a pior em quase um século.

Os registros foram capturados no Lago das Brisas, no rio Paranaíba, em Minas Gerais, pelo Operational Land Imager (OLI), ferramenta do satélite Landsat 8, em 17 de junho, e comparados com as imagens de 12 de junho de 2019.

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Mapa do Brasil, segundo Índice de Estresse Evaporativo (ESI, na sigla em inglês)
Imagem: Nasa via BBC

Cinco reservatórios próximos registraram níveis de água mais do que dois metros abaixo da média (1993-2002), segundo o Global Reservoir and Lake Monitor, que monitora variações no nível da água de cerca de 70 lagos e reservatórios em todo o mundo. Eles usam uma combinação de conjuntos de dados de altimetria de radar de satélite.

Segundo a Nasa, os baixos níveis de água são identificados ao redor de vários lagos na bacia do rio Paraná, que abrigam diversas barragens hidrelétricas e reservatórios que ajudam a fornecer energia à região.

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Ministério de Minas e Energia nega racionamento

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Ministério de Minas e Energia voltou a negar a possibilidade de racionamento.

Após reunião extraordinária no fim de maio, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, ligado ao Ministério de Minas e Energia, afirmou que a escassez de chuvas faz com que seja importante flexibilizar restrições à operação de algumas hidrelétricas, incluindo Jupiá, Porto Primavera e Ilha Solteira, em São Paulo, e Furnas, em Minas Gerais.

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Imagem em alta resolução do entorno do Lago das Brisas (MG) registrada em 12 de junho de 2019 pelo instrumento Operational Land Imager (OLI), do satélite Landsat 8.
Imagem: Nasa via BBC
Imagem em alta resolução do entorno do Lago das Brisas (MG) registrada em 17 de junho de 2021 pelo instrumento Operational Land Imager (OLI), do satélite Landsat 8.
Imagem: Nasa via BBC

Os níveis de água do rio Paraná estão em torno de 8,5 metros abaixo da média perto da fronteira do Brasil com o Paraguai. A vazão baixa pode interromper o tráfego de navios de carga na bacia e tornar o transporte de mercadorias mais caro.

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Clima seco afeta agricultura

O clima mais seco do que o normal também está afetando a produção de importantes safras brasileiras, como café, milho, cana-de-açúcar e laranja.

A produtividade da segunda safra de milho no Estado do Mato Grosso, por exemplo, foi reduzida ainda mais, e pode atingir o menor nível em, pelo menos, quatro anos. É o que aponta a Consultoria AgResource, especializada em análise de tendências do mercado agrícola.

Já a produção de café no Estado de São Paulo pode sofrer queda de mais de 30%, em um ano que já seria de menor produtividade por conta do ciclo bianual, segundo relatório recente da Organização Internacional de Café (OIC).

Imagens da Nasa alertam quanto aos impactos na vegetação

Outra imagem compartilhada pela Nasa mostra o impacto da falta de chuvas na vegetação.

O chamado Índice de Estresse Evaporativo (ESI, na sigla em inglês) incorpora observações das temperaturas da superfície da terra dos satélites NOAA e do índice de área foliar (do inglês Leaf Area Index, ou LAI) do Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS) nos satélites Aqua e Terra da Nasa.

As observações do ESI são uma medida de evapotranspiração, ou quanta água está evaporando da superfície da terra e das folhas das plantas.

“Com base nas variações nas temperaturas da superfície da terra, o mapa ESI indica como a taxa de evapotranspiração de 7 de maio a 4 de junho se compara com condições normais. As áreas marrons indicam plantas estressadas devido à umidade inadequada, mesmo que suas folhas ainda não tenham murchado ou se tornado visivelmente marrons. Grande parte da vegetação estressada está localizada em Estados agrícolas importantes, incluindo Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná”, diz a Nasa, em seu site.

Chuvas abaixo da média têm sido uma constante no Brasil desde, pelo menos, outubro de 2019. A estação chuvosa de novembro a março de 2020/2021 trouxe chuvas excepcionalmente baixas nos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Segundo especialistas, essa escassez de chuvas está relacionada, em grande parte, ao fenômeno La Niña, resfriamento periódico nas águas do Oceano Pacífico que tende a reduzir as chuvas no centro-sul do país.

Mas, em entrevista à BBC News Brasil, eles lembram que esses grandes fenômenos “são só parte da resposta”.

O desmatamento do Cerrado, de acordo com os estudiosos, agrava a escassez nos reservatórios do Paraná, responsáveis pela maior capacidade de geração de energia hidrelétrica do país.

“É uma resposta preguiçosa atribuir a variação nos reservatórios apenas ao El Niño ou à La Niña”, disse o geógrafo Yuri Salmona, doutorando em Ciências Florestais pela Universidade de Brasília (UnB).

Nos últimos anos, vários especialistas têm relacionado o desmatamento na Amazônia à diminuição das chuvas em outras partes do Brasil. Segundo eles, a derrubada das árvores faz com que a floresta deixe de bombear para a atmosfera uma imensa quantidade de água que posteriormente se transformaria em chuva, os chamados “rios voadores”.

ANA declara situação crítica; órgãos reguladores assinam alerta inédito

No início de junho, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) declarou “situação crítica” de escassez de recursos hídricos na bacia do rio Paraná de junho a novembro de 2021.

O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM) assinaram o Alerta de Emergência Hídrica pela primeira vez em função das previsões de chuvas próximas ou abaixo da média entre maio e setembro deste ano.

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