Mesmo que tivesse sido lançado em sua data original, em maio de 2020, ‘Viúva Negra’ seria um filme atrasado. E o adiamento da estreia em razão da pandemia de Covid-19 evidenciou ainda mais a demora da Marvel em criar uma aventura solo para a heroína. Recém-lançado nos cinemas e no Disney+, o longa faz justiça, ainda que tardia, à personagem vivida na tela grande por Scarlett Johansson.
Criada nos quadrinhos na década de 60, a espiã russa Natasha Romanoff (Johansson) apareceu pela primeira vez nos cinemas em ‘Homem de Ferro 2’ (2010) e foi, progressivamente, ganhando mais destaque no Universo Cinematográfico Marvel.
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Natasha Romanoff parecia a personagem ideal para ser primeira personagem feminina a ganhar uma superprodução própria na fase atual dos super-heróis nos cinemas. Porém, aparentemente, ter uma heroína carismática, uma intérprete renomada e um estúdio com recursos de sobra não foi suficiente para isso ocorrer antes. Sabe-se lá por quê.
Apesar de chegar mais de dez anos após a estreia da Viúva Negra nos cinemas, o filme não soa como um produto lançado em um momento inoportuno. Demorou muito, é verdade, mas não é exatamente tarde para Natasha Romanoff.
Revivendo o passado
Enquanto a maior parte dos integrantes dos Vingadores teve filmes próprios para consolidar sua entrada no MCU, a Viúva Negra acabou fazendo o caminho inverso. Dirigido por Cate Shortland (‘Lore’), o longa se divide entre ser uma história de origem e também uma aventura solo de uma personagem já bem estabelecida.
Mesmo apresentada há mais de uma década, Natasha Romanoff teve pouco de seu passado explorado em filmes anteriores da Marvel, até mesmo para reforçar a aura de mistério da espiã. Em ‘Viúva Negra’, podemos acompanhar parte da infância dela e o caminho trilhado até ela se tornar a combatente implacável que conhecemos.
O filme não se concentra apenas nesse passado distante. Maior parte da trama é mesmo ambientada em um período mais recente da cronologia Marvel nos cinemas, especificamente após acontecimentos de ‘Capitão América: Guerra Civil’ (2016).
Por isso, embora inaugure a Fase 4 do MCU, ‘Viúva Negra’ não avança a história mostrada até ‘Vingadores: Ultimato (2019)’. Mas a cena pós-créditos pode dar pistas do que vem por aí.
Passagem de bastão
No filme, aprendemos mais sobre a célebre Sala Vermelha, onde Natasha e outras mulheres foram treinadas na arte da espionagem. E, também, conhecemos a sua disfuncional família, formada pelos pais, Alexei (David Harbour) e Melina (Rachel Weisz) – também espiões russos, e sua irmã mais nova, Yelena (Florence Pugh), que foi igualmente treinada na Sala Vermelha.
O núcleo familiar é excelente. Harbour, que também é o Guardião Vermelho, um decadente herói soviético, entrega um equilibrado senso de ridículo ao personagem, sem deixar que a atuação caia no pastelão. Weisz, uma figura materna ambígua, mostra a profundidade de Melina mesmo sem ter tanto tempo de tela.
Já Florence Pugh é a maior surpresa do filme. Igualmente uma Viúva Negra, sua personagem pode sinalizar a continuidade do legado de Natasha Romanov no MCU. Mais impulsiva e menos experiente, Yelena ainda não parece uma heroína em sua plenitude, mas é tão cativante quanto sua irmã mais velha.
Ação, espionagem e humor
‘Viúva Negra’ está mais próximo da trama contida de ‘Capitão América 2: o Soldado Invernal’ (2014) do que dos acontecimentos grandiosos da série ‘Vingadores’.
É um filme de ação e espionagem que remete a títulos como a franquia ‘Bourne’ ou ‘Missão Impossível’, porém com uniformes chamativos e um descolamento maior da realidade.
A direção de Cate Shortland transita bem entre esses universos por vezes conflitantes e imprime sobriedade quando é necessário, mas também abraça os excessos do gênero super-herói.
O humor, por vezes excessivo em algumas produções da Marvel, é bem dosado e assertivo, condizente com a trama. Acerto do roteiro de Eric Pearson (‘WandaVision’).
O saldo final fica acima da média dos títulos do MCU e ‘Viúva Negra’ se sai como uma aventura competente e divertida. Após dois anos sem um novo filme da Marvel – um respiro involuntário, mas válido -, é bom reencontrar esses personagens em uma trama de duas horas.
Não dá para saber se esta será a última aparição de Natasha Romanoff no MCU. Pode ser a despedida de Scarlett Johansson, mas definitivamente não é um adeus da Viúva Negra, seja lá quem assuma o manto no futuro.
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