Conforme noticiado pelo Olhar Digital, um sério incidente com o módulo russo Nauka alterou a posição da Estação Espacial Internacional (ISS) na última quinta-feira (29). Cinco horas após se acoplar à estrutura, às 13h34 (horário de Brasília), o módulo inadvertidamente disparou seus propulsores e começou a “empurrar” a estação.

Ilustração mostra o módulo Nauka chegando à estação espacial internacional
Ilustração mostra o módulo Nauka chegando à estação espacial internacional. Imagem: Financial Express/Reprodução

Minutos depois, a ISS começou a perder o controle de atitude, responsável por manter sua orientação em relação à Terra. Algo preocupante, já que a orientação correta é necessária tanto para manter a comunicação com as antenas na Terra quanto para manter os painéis solares, responsáveis pela produção de energia elétrica, apontados para o Sol.

O controle de atitude foi perdido completamente às 13h42. Para compensar a aceleração, os propulsores do módulo de serviço da ISS foram acionados, seguidos dos propulsores de uma espaçonave de carga Progress que atualmente está acoplada à estação. O controle de atitude só foi recuperado às 14h29, quando o combustível dos propulsores do Nauka se esgotou.

Na ocasião, a Nasa se manifestou no Twitter, explicando brevemente o ocorrido: “Seguindo o acoplamento desta manhã do módulo Nauka à Estação Espacial, os propulsores do módulo começaram a disparar às 12h45 ET inadvertidamente e inesperadamente, movendo a estação 45 graus fora de posição”.

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Inclinação da Estação Espacial Internacional foi muito mais severa do que 45 graus

No entanto, o novo relatório oficial traz informações diferentes dessa versão, que também havia sido repetida por funcionários da agência em comentários públicos. De acordo com reportagem do The New York Times, Zebulon Scoville, o diretor de vôo da Nasa que liderou o controle da missão em Houston durante o evento, disse que a estação teve uma inclinação muito mais severa do que apenas 45 graus. 

Segundo Scoville, depois que Nauka disparou incorretamente seus propulsores, a estação girou uma rotação e meia – cerca de 540 graus – antes de parar de cabeça para baixo. “A estação espacial então deu um salto de 180 graus para frente para voltar à sua orientação original”.

Scoville também afirmou que essa foi a primeira vez que ele declarou uma “emergência de espaçonave”.

Nesta segunda-feira (2), representantes da agência espacial norte-americana confirmaram ao site Space.com que a declaração de Scoville sobre o incidente é precisa. “Esses números que representam a mudança de atitude estão corretos”, disseram. “Reiteramos que a taxa máxima na qual a mudança ocorreu foi lenta o suficiente para passar despercebida pelos membros da tripulação a bordo e todos os outros sistemas da estação operaram normalmente durante todo o evento”.

Outro representante da Nasa acrescentou que “o número de 45 graus foi inicialmente oferecido nos primeiros minutos após o evento ter ocorrido por nosso oficial de orientação, navegação e supervisão no Controle da Missão, mas foi atualizado posteriormente após uma análise da divergência real”.

Tripulação a bordo da ISS não correu perigo

Scoville garante que os astronautas a bordo nunca correram perigo, conforme a Nasa já havia declarado na coletiva de imprensa. No entanto, ele revelou alguns detalhes sobre os eventos do dia que mostram que o acidente foi um pouco mais sério do que a agência parecia querer sugerir de início.

De acordo com o relatório, Scoville assumiu o controle da missão após a atracação. Na verdade, era seu dia de folga, mas ele estava no local porque ajudou a se preparar para o encaixe do módulo e queria ver como seria. 

Então, ele acabou assumindo o lugar do líder anterior, Gregory Whitney, que tinha uma reunião para comparecer. “Recebemos duas mensagens – apenas duas linhas de código – dizendo que algo estava errado”, disse Scoville. 

Depois de inicialmente pensar que a mensagem talvez pudesse ser um erro, ele logo percebeu que não era, e que Nauka não estava apenas disparando seus propulsores, mas sim que estava realmente tentando se afastar da estação espacial, com a qual tinha acabado de atracar. 

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Ainda de acordo com Scoville, a estação atingiu uma taxa de rotação máxima de 0,56 graus por segundo. “Isso não foi rápido o suficiente para os astronautas sentirem, no entanto”, afirmou Scoville, corroborando o que foi dito no relatório da Nasa.

A tripulação, trabalhando junto com as equipes de solo, ajudou a neutralizar os propulsores de Nauka, disparando contra-propulsores no módulo russo Zvezda e na nave de carga Progress. Além disso, 15 minutos após o início do disparo, os propulsores de Nauka pararam.

Essa série combinada de eventos e medidas contra-ativas permitiu que a equipe fizesse a estação parar de se mover e retornar à sua posição correta. “Depois de fazer aquele salto mortal para trás uma vez e meia, ele parou e voltou para o outro lado”, disse Scoville.

Alívio depois do susto

Depois do que certamente não foi o dia de folga relaxado que havia planejado, Scoville deu um suspiro de alívio no Twitter, depois que a estação voltou ao seu lugar e a situação se estabilizou. “Yeehaw! That. Was. A. Day.”, exclamou (algo como “Uhul, hoje foi O dia”).

Apesar do susto que o ocorrido deu na Nasa, Scoville afirmou que está tranquilo com a parceria que a Rússia e os EUA têm a bordo da estação. “Tenho total confiança nos russos”, disse ele. “Eles são uma parceria fantástica com a Nasa e todo o programa da Estação Espacial Internacional.”

O incidente forçou a Nasa e a Boeing a cancelarem o lançamento da espaçonave Starliner em sua segunda missão de teste orbital, previsto para sexta-feira (30). Para garantir que a situação com Nauka e a estação espacial se estabilizasse antes de tentar atracar outro veículo com a estação, o lançamento ficou para terça-feira (3), às 13h20 EDT (14h20, pelo horário de Brasília).

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