A assustadora capacidade de transmissão da chamada variante Delta – várias vezes superior à cepa original do coronavírus – deu sobrevida à pandemia em lugares que indicavam queda nos índices de contaminação. O fato sinaliza que a mutação pode se tornar dominante em todo o mundo, como já tem sido em alguns locais, e desperta a preocupação de especialistas. Eles acreditam que a ameaça se dê principalmente pela baixa cobertura vacinal em países emergentes, como o Brasil. Desse modo, a desigualdade de acesso aos imunizantes pode gerar, muito em breve, a necessidade de denominar uma nova variante.
“O que virá depois da Delta? Teremos novas ondas, de morbimortalidade reduzida? Ou será como na Gripe Espanhola, que atingiu todo o planeta no início do século XX, em que a segunda onda foi mais letal do que primeira?”. Estes são alguns dos questionamentos da pneumologista Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz e doutora pela UNIFESP, para o jornal O Globo. Ela demonstra angústia ao refletir sobre as incertezas do já longo período pandêmico, que pode se estender por ainda mais tempo em razão das novas variantes.

Dentre as variações do Sars-Cov-2 original, a cepa descoberta em Wuhan, quatro são consideradas preocupantes pela Organização Mundial da Saúde (OMS) atualmente. Para descomplicar os nomes científicos, bem como visando não estigmatizar a sua origem, o órgão nomeou as variantes através de letras gregas: Alfa, Beta, Gama e Delta.
Essas mutações ocorrem, segundo Dalcolmo, devido a própria natureza dos vírus. Estes são negados como seres vivos por muitos cientistas, uma vez que não possuem capacidade metabólica e precisam invadir a célula de um hospedeiro para ganhar energia e se reproduzir. Acontece que, ao entrar em contato com tecidos vivos, esses microrganismos que a primeira vista parecem insignificantes – são centenas de vezes menores do que as bactérias – encontram um ambiente propício para a reprodução e transformação dos seus quase 900 genes.
Dessa maneira, as variações surgem para aperfeiçoar características predominantes na intenção de que os vírus se adaptem ao meio e consigam sobreviver. Assim, a cada variante, novas características são acrescentadas aos vírus, tornando-os possivelmente mais perigosos.
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Das variantes descobertas até o momento, a Delta é a mais transmissível, portanto, a mais temida pelos especialistas em saúde. Ela já está se espalhando de forma desproporcional em muitos países, inclusive aqueles que vacinaram grande parte da população – mas não toda.
À vista disso, crescem os debates acerca da eficácia das vacinas. Os especialistas confirmam que elas são seguras, mas indica que a vacinação deve ser administradas em larga escala para conferir os resultados esperados.
Para a pneumologista da Fiocruz, de todas as surpresas e descobertas durante a pandemia, a mais desesperadora delas é ter que provar a todo momento a eficácia das vacinas. Dalcolmo avalia o impacto dos baixos índices de vacinação, por incompetência de autoridades locais ou pela convicção negacionista de algumas pessoas, e afirma que a cobertura vacinal insuficiente em grande parte do mundo é um dos principais motivos pela origem de novas – e ameaçadoras – variantes.
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