Cientistas das universidades de Edimburgo, Heriot-Watt e Strathclyde, na Escócia, criaram um novo formato de esterilização de ambulâncias e salas clínicas por meio de microondas, prometendo limpar por completo esses ambientes em poucos minutos e, nas palavras dos próprios, “revolucionar” a medicina atual.

Atualmente, a limpeza de ambientes médicos leva entre 30 e 40 minutos. No caso de salas de operação ou o “baú” de uma ambulância, isso significa que esse será o tempo onde elas ficarão inutilizadas: até que a limpeza, que usa produtos químicos, termine, nada ali poderá ser aplicado no salvamento de vidas.

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Esquema mostra método de esterilização por microondas em uma ambulância. Formato reduz o tempo de parada de um veículo para limpeza
Gráfico mostrando como a esterilização por microondas poderia limpar ambulâncias em poucos minutos: sistema conta com um emissor das ondas, e um sensor de direcionamento para as superfícies infectadas. Imagem: Universidade de Heriot-Watt/Divulgação

Com esse novo método, os criadores do método – que consistem de engenheiros de microondas, especialistas em doenças infecciosas e cientistas de polímeros – empregaram ondas eletromagnéticas direcionadas, sensores e um meio líquido para rapidamente aquecer superfícies, permitindo que uma pessoa esterilize o ambiente clínico à distância e evite tocar em locais potencialmente contaminados.

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Pesquisas de novos métodos de esterilização não são exatamente novas: ao longo dos anos e com o avanço da pandemia causada pela Covid-19, muitos experimentaram com formatos diferenciados, indo desde sprays de peróxido de hidrogênio até lâmpadas ultravioleta de alta capacidade. O problema, com todos esses, é que a sua aplicação a longo prazo pode trazer danos às superfícies onde são aplicados – e problemas de saúde em quem os aplica.

O novo método elimina esse risco, com o benefício adicional de reduzir o tempo gasto na limpeza, por exemplo, de uma ambulância, efetivamente permitindo que ela volte ao trabalho mais cedo e possa atender mais ocorrências ao longo do dia.

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“Eu tive essa ideia há mais ou menos um ano, quando usei meu microondas de casa para esterilizar a mamadeira do meu filho recém-nascido. Foi bem no início da pandemia da Covid-19 no Reino Unido, no começo de 2020”, disse o doutor Symon Podilchak, engenheiro de tecnologia de radiofrequência da Universidade de Edimburgo e autor primário do estudo. “Eu percebi que, se mamadeiras poderiam ser esterilizadas em apenas alguns minutos e ainda permaneciam seguras para um bebê, então deveria ser possível escalar essa técnica para superfícies contaminadas. Só que eu ainda precisava de muita pesquisa para determinar, por exemplo, a distância relativa de segurança entre a superfície e a antena, ao mesmo tempo em que garantia níveis seguros de energia”.

Então, Podilchak procurou o professor Marc Desmulliez, engenheiro e físico da Universidade de Heriot-Watt e que já era conhecido por ter criado um forno de microondas que funcionava sem tampas ou portas. Juntos, eles testaram o dispositivo criado e constataram sua eficácia em eliminar o coronavírus (HCoV-229E) em 30 segundos, a uma temperatura de 60 graus Celsius (ºC).

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“A beleza dessa técnica reside na não degradação das superfícies onde ela é aplicada”, disse Desmulliez. “O dispositivo de microondas pode também ser portátil, o que significa que ele pode ser usado em outros ambientes, e não só salas clínicas. Imagine usá-lo em mesas de restaurantes, na limpeza de aviões e trens antes de estes embarcarem novos viajantes”.

Finalmente, os dois procuraram o professor Nico Bruns, engenheiro de polímeros da Universidade de Strathclyde, para provar que as ondas estavam de fato atingindo as superfícies. “Nós usamos a proteína da clara do ovo de galinha, que são conhecidas por desnaturarem [serem alteradas] nessa temperatura. Ao ver a solução ficar branca, nós conseguimos mostrar que a temperatura certa para a desativação do vírus havia sido atingida, o que ajuda o operador desse sistema”.

A pesquisa que levou à criação desse novo método foi publicada no IEEE Journal of Electromagnetics, RF and Microwaves in Medicine and Biology e está em revisão pendente pelos seus pares.

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