Todo mundo alguma vez já se perguntou “e se?” ao imaginar como a vida seria caso algo ocorresse de forma diferente. A pergunta também povoa os quadrinhos e virou o título ‘What If…?’, da Marvel, que desde os anos 1970 se propõe a imaginar diferentes destinos para seus personagens. É dessa linha de HQs que vem a inspiração para a série animada de mesmo nome atualmente em exibição no Disney+.

No Brasil, a série em quadrinhos não foi traduzida literalmente para ‘E se’ e ganhou um título mais longo: ‘O que aconteceria se…’. A primeira edição de ‘What If’ foi publicada em 1977 e trazia como proposta imaginar o que aconteceria caso o Homem-Aranha se juntasse ao Quarteto Fantástico, formando um quinteto.

Apesar de inusitada, a premissa não era de todo inédita, já que o aracnídeo de fato já havia se oferecido para se juntar à família de super-heróis da Marvel, na edição número 1 da revista do Homem-Aranha (‘The Amazing Spider-Man, de 1963). Se originalmente o escalador de paredes teve sua entrada rejeitada, na versão alternativa de ‘What If’ ele acaba por ingressar no time, que vira um quinteto.

Imagem exibe capas das primeiras edições de The Amazing Spider-Man e de What if...?
Primeira edição de ‘What if…?’ (direita) aproveitou plot apresentado na edição número 1 de ‘The Amazing Spider-Man’. Crédito: Marvel Comics/Reprodução

Uma dose extra de dramaticidade

Algumas outras histórias da série ‘O que aconteceria se…’ foram marcantes por imaginarem não apenas realidades alternativas, mas pelo fato de trazerem alguns acontecimentos dramáticos não vistos nos quadrinhos originais. Veja alguns exemplos:

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  • O que aconteceria se Wolverine tivesse matado o Hulk?
  • O que aconteceria se Kraven, o Caçador, tivesse matado o Homem-Aranha?
  • O que aconteceria se os X-Men tivessem morrido em sua primeira missão?
  • O que aconteceria se os Vingadores nunca tivessem existido?
  • O que aconteceria se Magneto tomasse os EUA?
Por vezes, o título serviu para imaginar cenários mais dramáticos para as jornadas dos super-heróis da editora. Crédito: Marvel Comics/Reprodução

Por outro lado, outras histórias traziam argumentos menos sombrios e apontavam para cenários em que certas tragédias marcantes nas vidas dos heróis simplesmente não ocorriam. O Homem-Aranha, por exemplo, foi alvo alguns ‘What if…?” com essa proposta, como um que imaginava a vida de Peter Parker caso o Tio Ben não fosse assassinado e outro em que Gwen Stacy, sua primeira namorada, não morria após ser arremessada de uma ponte pelo Duende Verde.

Realidades alternativas do ‘What if…?’ que viraram cânone

Nem tudo que foi apresentado nas revistas ‘What if…?’ ficou restrito a realidades alternativas da Marvel. Alguns conceitos apresentados na série especulativa acabaram incorporados à cronologia dos heróis. Um dos exemplos mais emblemáticos é ‘O que aconteceria se Jane Foster encontrasse o martelo de Thor?’. Publicada na edição 10 da série original, em 1978, a história traz a coadjuvante encontrando o Mjolnir e se transformando na deusa Thordis.

Capa da revista exibe Jane Foster com uniforme simular ao de Thor empunhando o martelo do deus nórdico.
Premissa apresentada nos anos 1970 serviu de inspiração para arco de histórias iniciado em 2014 e que, por sua vez, será adaptado para o cinema no terceiro filme de Thor. Crédito: Marvel Comics/Reprodução

Embora com diferenças significativas, Jane Foster de fato veio a empunhar o Mjolnir na série regular de Thor, quando o Deus do Trovão se tornou indigno de utilizar o martelo. A ideia foi desenvolvida pelo roteirista Jason Aaron em um arco de histórias iniciado em 2014, que servirá também de base para o filme ‘Thor: Love and Thunder’.

Do mesmo modo, a aventura da segunda edição de ‘What if…?’ trouxe um conceito que seria levado posteriormente às HQs tradicionais e ao cinema. No caso, o título imaginava algo inédito até então: o Hulk tendo a inteligência de Bruce Banner. Originalmente, sempre que se transformava no Gigante Esmeralda, a consciência de Banner ficava em segundo plano, passando a seguir apenas os instintos primais de Hulk.

Bem antes de uma versão inteligente do Hulk aparecer na série regular em quadrinhos do personagem, ideia foi explorada na HQ especulativa ‘What if…?’, nos anos 1970. Crédito: Marvel Comics/Reprodução

Eventualmente, vimos isso ocorrer também na HQ principal do personagem, a partir de 1991, quando roteirista Peter David estabeleceu o chamado Professor Hulk, que unia a força bruta com o intelecto de Banner. Posteriormente outros autores desenvolveram ideias similares nos quadrinhos. Finalmente, vimos algo parecido nos cinemas, em ‘Vingadores: Ultimato’ (2019).

Na televisão

Bem como nos quadrinhos, a série televisiva ‘What if…?’ mostra realidades paralelas em que determinados eventos ocorreram de formas diferentes para os heróis. A principal mudança é que a animação da Disney+ é baseada especificamente no Universo Cinematográfico Marvel (MCU), que, por sua vez, segue caminhos distintos em relação às HQs.

Da mesma forma que os quadrinhos especulativos acabaram tendo alguns de seus conceitos incorporados à cronologia, a série animada também deve ter relevância dentro do MCU. Em recente entrevista ao IGN, o roteirista chefe do programa, AC Bradley, afirmou que os eventos da animação farão parte do cânone do Universo Cinematográfico Marvel.

“Os eventos de ‘What If…?’ são cânone. É parte do multiverso do MCU. O multiverso está aqui. É real, e é absolutamente fantástico”, declarou.

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