Civilização alienígena pode usar um buraco negro como fonte de energia? Cientistas respondem

Por Marcelo Zurita, editado por André Lucena 23/08/2021 11h18, atualizada em 23/08/2021 12h28
Ilustração artística de uma Esfera de Dyson ao redor de uma estrela
Ilustração artística de uma Esfera de Dyson ao redor de uma estrela. Créditos: Renaud ROCHE
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Os buracos negros estão entre os objetos mais energéticos do Universo. Mas, sua imensa massa gera um campo gravitacional tão intenso que nem mesmo a luz é capaz de escapar dele. Então, seria possível uma uma civilização alienígena tão avançada que conseguiria usar um buraco negro como fonte descomunal de energia? Cientistas dizem que sim.

Em 1960, o físico e matemático inglês Freeman Dyson, propôs que, a crescente demanda por energia experimentada por nós humanos, indicaria que civilizações alienígenas, muito mais avançadas que a nossa, precisariam extrair quase toda a energia emitida por sua estrela mãe. Para isso construiriam megaestruturas esféricas envolvendo sua estrela, captando sua energia e direcionando-a até seu planeta.

Essa estrutura hipotética ficou conhecida como Esfera de Dyson, e encontrá-la um dia seria a prova inequívoca da existência de civilizações alienígenas super avançadas.

O problema é que até hoje, nunca encontramos uma dessas. Está tudo no campo das ideias e, no campo das ideias, os cientistas se permitiram especular se Esferas de Dyson ao redor de buracos negros poderiam fornecer energia para civilizações alienígenas. E de acordo com um artigo publicado agora no Monthly Notices of Royal Astronomical Society, isso não só seria possível, como seria uma fonte de energia fenomenal.

Simulação da visão de um buraco negro. Seu disco de acreção circunda o horizonte de eventos mas, devido ao intenso campo gravitacional, sua imagem é distorcida quando visto de lado, permitindo que se enxergue o disco de acreção atrás do horizonte de eventos. Créditos: Goddard Space Flight Center/NASA/Jeremy Schnittman

Isso porque nos arredores de um buraco negro ocorrem processos extremamente energéticos. Segundo o estudo, seu disco de acreção, corona e jatos relativísticos seriam uma excelente usina de energia. Apenas o disco de acreção de um buraco negro relativamente pequeno, poderia fornecer 10 mil vezes mais energia do que uma estrela como o Sol.

O disco de acreção é formado por plasma de matéria superaquecida girando, a velocidades próximas à da luz, em torno do horizonte de eventos, que é o ponto de não-retorno do buraco negro. Mas o disco de acreção não é sua melhor fonte de energia. Se nossos alienígenas hipotéticos conseguissem coletar a energia dos jatos relativísticos, com certeza, afastariam por um bom tempo, qualquer risco de apagão.

Ilustração artística de um buraco negro com jatos relativísticos emanando de seus pólos
Ilustração artística de um buraco negro com jatos relativísticos emanando de seus pólos. Créditos: NASA/JPL-CALTECH

Os jatos relativísticos são jatos de plasma extremamente energéticos que emergem dos pólos de um buraco negro e são lançados no espaço à velocidades próximas à da luz. Se conseguissem captar toda a energia dos jatos relativísticos, inclusive a cinética, poderiam gerar até 5 vezes mais energia no total. Ou seja, uma Esfera de Dyson completa ao redor de um buraco negro, poderia fornecer 50 mil vezes mais do que toda a energia gerada pelo nosso Sol.

O estudo conclui que algo assim é fisicamente possível, embora nos pareça muito distante da realidade. Mas exercícios de imaginação como esse são importantes para determinar, não o que de fato exista, mas o que seria possível existir. Assim, poderíamos identificar mais facilmente as evidências de uma civilização alienígena, se um dia nos depararmos com elas.

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Megaestruturas como a Esfera de Dyson são, provavelmente, inviáveis. Mesmo para as civilizações mais avançadas, se é que elas existem. A quantidade de matéria e energia necessárias para sua construção, tornaria essa solução praticamente impossível.

Uma ideia mais realista seria, invés de uma esfera completa, um enxame de Dyson. Um grande número de satélites orbitando o buraco negro e coletando parte de sua energia. Agora, como esses satélites suportariam o calor intenso e como eles transmitiriam a energia coletada para o planeta, aí, é problema dos alienígenas.

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Marcelo Zurita
Colunista

Pres. Associação Paraibana de Astronomia; membro da Sociedade Astronômica Brasileira; diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros – e coordenador regional do Asteroid Day Brasil

André Lucena
Ex-editor(a)

Pai de três filhos, André Lucena é o Editor-Chefe do Olhar Digital. Formado em Jornalismo e Pós-Graduado em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte, ele adora jogar futebol nas horas vagas.