O tema da saúde mental tem crescido cada vez mais em importância no debate público. Filmes, séries, livros e até jogos abordam o assunto, com as mais variadas abordagens. Alguns são sérios – e até de certa forma pesados – como no sensacional ‘Hellblade’. Em outros casos, o assunto é tratado com leveza e comicidade, mas sem diminuir sua relevância, como é o caso de ‘Psychonauts 2’, que será lançado na próxima quarta-feira (25), para consoles e PC.

A continuação do clássico jogo de plataforma criado por Tim Schafer em 2005 traz de volta Razputin Aquato, o mais jovem cadete em treinamento dos Psiconautas, um grupo de agentes dotados de poderes psíquicos especiais. Em ‘Psychonauts 2’, desenvolvido pela Double Fine Productions, estúdio fundado pelo próprio Schafer, a história começa logo após os eventos do primeiro jogo, e Raz (agora um estagiário) deve ajudar os agentes a investigar o que levou o Dr. Caligosto Loboto a sequestrar o fundador dos Psiconautas, Truman Zanotto.

Como toda criação de Schafer, ‘Psychonauts 2’ esbanja beleza artística e humor. Para o pessoal mais novo que não conhece o artista, ele é responsável por alguns dos jogos mais criativos dos últimos 30 anos, como ‘Full Throttle’, ‘Grim Fandango’ e ‘Brütal Legend’, além de ter cooperado em títulos como ‘Day of the Tentacle’ e ‘The Secret of Monkey Island’. Muito do que vemos em termos narrativos dos jogos atuais, especialmente em games focados no enredo como os da Telltale e da Quantic Dream, se deve bastante ao trabalho de Schafer.

Em ‘Psychonauts 2’, a trama cartunesca e o visual estilizado – que até parece tirado de animações como ‘Coraline’ e ‘A Noiva Cadáver’ – é o meio utilizado para tratar temas sérios, como vício, transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade e depressão. Falando assim até parece que jogá-lo pode ser uma experiência carregada, mas Double Fine tem a delicadeza suficiente para retratar esses temas de maneira subjetiva, ao mesmo tempo que educa.

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Raz, que tem poderes psíquicos que vão desde manipulação de objetos até a capacidade de levitar ou entrar na mente de outros seres e enxergar pelos seus olhos, deve explorar os confins da mente humana (para muitos, a verdadeira fronteira final) para descobrir de quem é o plano por trás das ações do Dr. Loboto e se os Psiconautas têm em suas fileiras um agente infiltrado. Dentro desse universo, adversários são censores (que atacam pensamentos incômodos) e remorsos, e colecionáveis são malas – ou bagagens emocionais – que devem ser etiquetadas.

Como parte dos Psiconautas, Raz faz uso dos seus poderes psíquicos para cumprir suas missões. Imagem: Double Fine Productions/Divulgação
Como parte dos Psiconautas, Raz faz uso dos seus poderes psíquicos para cumprir suas missões. Imagem: Double Fine Productions/Divulgação

‘Psychonauts 2’ é um jogo de plataforma em 3D com muitos quebra-cabeças ao longo do caminho. Para resolver os desafios e derrotar os inimigos, Raz deve combinar seus poderes, que podem ser melhorados com o tempo, conforme você coleta pontos das memórias e das bagagens emocionais. Enquanto alguns adversários podem ser derrotados só na “pancada”, outros irão precisar de recursos como telecinesia e a capacidade de disparar projéteis mentais para acertas seus pontos fracos.

Embora trate de distúrbios mentais sérios, ‘Psychonauts 2’ é um jogo sobre empatia e a capacidade de superar obstáculos. Todo personagem, herói ou vilão, tem suas motivações e justificativas para suas ações, o que leva o jogador a mudar constantemente seu ponto de vista sobre os acontecimentos. Aliado à direção de arte única, o game é tanto educativo quanto divertido. Se jogado com atenção, pode levar-nos a no mínimo termos mais responsabilidade com a nossa saúde mental, bem como com a dos outros.

Psychonauts 2 será lançado para PC Windows, PlayStation 4, Xbox One e Xbox Series X (para esses dois últimos, estará incluso no Game Pass Ultimate). A cópia para este review foi gentilmente fornecida pela Microsoft.