Na semana, um vídeo com uma multidão desesperada para fugir cercando um cargueiro C-17 americano no aeroporto de Cabul correu o mundo. E quem viu o vídeo do avião começando a se mover entre as pessoas correndo em volta, tentando sobreviver ao Talibã, várias montadas nas portas do compartimento do trem de pouso do avião, imediatamente deve ter imaginado: “isso não pode terminar bem”.

De fato, não terminou. Outro vídeo, por outro ângulo, mostra pessoas que haviam tentando viajar nas portas do trem de pouso do avião caindo no meio do céu logo após a decolagem. O resto da história foi descoberto quando o mesmo avião posou na Base Aérea Al Udaid, em Doha, Qatar. Lá, restos humanos de um homem foram encontrados no seu compartimento do trem de pouso.

Mas teria sido completa loucura desesperada, ou esse homem teria alguma chance? Afinal…

Há como sobreviver a um trem de pouso?

Pessoas tentando viajar no trem de pouso de um avião são um incidente relativamente frequente. Entre 1947 e 2015, uma compilação da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos registrou 117 incidentes do tipo – só nos EUA. O mesmo relatório demonstrou que a chance de morrer é de 76%. O que responde a nossa pergunta: sim, dá para sobreviver.

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A primeira questão para saber se alguém vai sobreviver a voar no compartimento do trem de pouso é óbvia: esses lugares não são feitos para levar pessoas. Se não há espaço para uma pessoa, a pessoa é esmagada pelo trem de pouso ao se recolher: é uma peça de metal de muitas centenas de quilos, a máquina não vai ceder.

Mas, se existe o espaço, o trem de pouso continua a ser uma cabine não pressurizada num avião voando entre 9.100 m a 12.400 m do solo. A pressão não é suficiente para manter a consciência humana e a temperatura pode cair a menos de 60 graus negativos. São condições tão extremas o que é há de se perguntar é como nem todo mundo morre.

Mistério da medicina

E aí, paradoxalmente, essas condições talvez expliquem a sobrevivência numa viagem no compartimento do trem de pouso. Se a pessoa não tiver morrido na subida por síndrome de descompressão (o mesmo mal que aflige mergulhadores) ou hipotermia, lá em cima, as condições podem salvar alguns mais sortudos.

A explicação não é definitiva ainda, mas é estudada por médicos. Em entrevista à BBC, Ken Braile, médico consultor da Universidade de Endinburgh, descartou a hipótese e trouxe uma mais próxima do consenso: “Se você está muito frio, seu cérebro leva mais tempo para morrer”. A hipotermia e inconsciência adiam o cérebro ter uma isquemia – isto é, morrer – por falta de oxigênio. A pessoa está assim quase morta, mas ainda pode ser recuperada.

De fato, várias das pessoas que morrem em voos nunca são registradas porque elas caem nesse estado, ainda vivas, quando o compartimento reabre e o trem de pouso se abaixa. Levando a incidentes como em 2012, quando o angolano José Matada aparentemente caiu do céu em uma calçada em Londres.

Mas mesmo quem, por pura sorte, sobrevive pode ter até membros amputados por dano causado por congelamento, que pode levar a necrose.

Enfim, não faça isso.

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