Cometa binário “morto” pode ter sido descoberto por pesquisadores brasileiros

O objeto 2017 YE5 passou próximo à Terra em junho de 2018, com o Observatório Nacional publicando estudo sobre ele em jornal internacional
Por Rafael Arbulu, editado por André Lucena 03/09/2021 18h22, atualizada em 03/09/2021 18h58
Imagem de um cometa atravessando um céu estrelado
Imagem: Triff/Shutterstock
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Astrônomos do Observatório Nacional (ON) podem ter identificado o núcleo de um cometa binário extinto – o primeiro na história dos registros de Objetos Próximos à Terra (NEOs, na sigla em inglês). O objeto conhecido como 2017 YE5 passou por nós em junho de 2018, a uma distância aproximada de seis milhões de quilômetros (km) da nossa superfície.

Os especialistas usaram informações coletadas por três telescópios de grande porte: Goldstone, Green Bank e o finado Arecibo. Na ocasião de sua aparição, esses três telescópios determinaram que o cometa se tratava de um sistema binário, ou seja, dois corpos distintos que giram entre si. Neste caso, porém, os dois objetos têm composição e massas diferentes, algo raro no campo de objetos observados próximo à Terra.

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Imagem de radar produzida pelo telescópio de Arecibo mostra o cometa binário descoberto por brasileiros
Imagem de radar mostra o cometa binário descoberto por brasileiros. Especialistas afirmam que, ao invés de morto, ele pode estar apenas dormente. Imagem: Nasa/JPL-Caltech/Divulgação

Segundo Filipe Monteiro, do ON, essa diferença de corpos pode ter contribuído para uma falta de sincronia no sistema como um todo em relação às suas órbitas:

“Geralmente, esses sistemas com corpos de tamanho semelhantes estão totalmente sincronizados, o que significa que o período orbital é igual ao período de rotação dos corpos”, explicou Monteiro. “Mas nesse sistema, um dos corpos parece não ter atingido a sincronização ainda. Uma das possibilidades é a de que o sistema seja relativamente recente e ainda não conseguiu atingir a sincronização completa”.

Segundo a equipe liderada por ele, o objeto maior tem uma rotação de aproximadamente 24 horas de duração, enquanto o menor chega a mais ou menos 15 horas.

Monteiro conta que, embora não seja possível afirmar o motivo disso, algumas hipóteses podem ser feitas: a falta de sincronia entre os objetos pode derivar de suas respectivas composições serem diferentes. Com isso, eles teriam massas diferentes entre si, com um precisando de mais tempo – e o outro, de menos – para completar sua órbita.

Órbita do cometa binário descoberto por brasilerios
Gráfico mostra a órbita do cometa binário (em verde, mais próximo à Terra, que está em azul). Imagem: Nasa/JPL-Caltech/Divulgação

Análises técnicas apontam para uma superfície bastante avermelhada, consistente com asteroides do tipo D. Esse tipo de objeto é rico em material orgânico e volátil – normalmente, silicatos e carbono, possivelmente com alguma presença de água em seu interior. Estima-se que asteroides dessa linha tenham sua origem no cinturão de Kuiper, nos arredores de Netuno.

No caso do objeto 2017 YE5, ele foi classificado como pertencente a um cometa JFC – sigla em inglês para “Cometa da Família de Júpiter”. “Por ser um objeto que possui uma órbita típica de cometas JFC, há indícios de que o sistema 2017 YE5 é um possível núcleo cometário binário, cujo material volátil foi perdido ao longo de sua história ou está guardado em seu interior”, disse Monteiro.

Entretanto, o especialista não afirma em definitivo que se trata de um cometa “morto”. Segundo ele, não foi identificada nenhuma sublimação de gelo – um sinal de que o cometa está em fim de vida -, então é possível que ele esteja apenas “dormente”, e os materiais voláteis em seu interior, desativados sob a rocha.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

André Lucena
Ex-editor(a)

Pai de três filhos, André Lucena é o Editor-Chefe do Olhar Digital. Formado em Jornalismo e Pós-Graduado em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte, ele adora jogar futebol nas horas vagas.