Astrônomos do Observatório Nacional (ON) podem ter identificado o núcleo de um cometa binário extinto – o primeiro na história dos registros de Objetos Próximos à Terra (NEOs, na sigla em inglês). O objeto conhecido como 2017 YE5 passou por nós em junho de 2018, a uma distância aproximada de seis milhões de quilômetros (km) da nossa superfície.
Os especialistas usaram informações coletadas por três telescópios de grande porte: Goldstone, Green Bank e o finado Arecibo. Na ocasião de sua aparição, esses três telescópios determinaram que o cometa se tratava de um sistema binário, ou seja, dois corpos distintos que giram entre si. Neste caso, porém, os dois objetos têm composição e massas diferentes, algo raro no campo de objetos observados próximo à Terra.
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Segundo Filipe Monteiro, do ON, essa diferença de corpos pode ter contribuído para uma falta de sincronia no sistema como um todo em relação às suas órbitas:
“Geralmente, esses sistemas com corpos de tamanho semelhantes estão totalmente sincronizados, o que significa que o período orbital é igual ao período de rotação dos corpos”, explicou Monteiro. “Mas nesse sistema, um dos corpos parece não ter atingido a sincronização ainda. Uma das possibilidades é a de que o sistema seja relativamente recente e ainda não conseguiu atingir a sincronização completa”.
Segundo a equipe liderada por ele, o objeto maior tem uma rotação de aproximadamente 24 horas de duração, enquanto o menor chega a mais ou menos 15 horas.
Monteiro conta que, embora não seja possível afirmar o motivo disso, algumas hipóteses podem ser feitas: a falta de sincronia entre os objetos pode derivar de suas respectivas composições serem diferentes. Com isso, eles teriam massas diferentes entre si, com um precisando de mais tempo – e o outro, de menos – para completar sua órbita.

Análises técnicas apontam para uma superfície bastante avermelhada, consistente com asteroides do tipo D. Esse tipo de objeto é rico em material orgânico e volátil – normalmente, silicatos e carbono, possivelmente com alguma presença de água em seu interior. Estima-se que asteroides dessa linha tenham sua origem no cinturão de Kuiper, nos arredores de Netuno.
No caso do objeto 2017 YE5, ele foi classificado como pertencente a um cometa JFC – sigla em inglês para “Cometa da Família de Júpiter”. “Por ser um objeto que possui uma órbita típica de cometas JFC, há indícios de que o sistema 2017 YE5 é um possível núcleo cometário binário, cujo material volátil foi perdido ao longo de sua história ou está guardado em seu interior”, disse Monteiro.
Entretanto, o especialista não afirma em definitivo que se trata de um cometa “morto”. Segundo ele, não foi identificada nenhuma sublimação de gelo – um sinal de que o cometa está em fim de vida -, então é possível que ele esteja apenas “dormente”, e os materiais voláteis em seu interior, desativados sob a rocha.
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