A história de que a origem dos povos americanos teve início há 13 mil anos, com a entrada dos primeiros humanos via Estreito de Bering, está cada vez mais ultrapassada. Já havíamos divulgado uma pesquisa da Universidade Estadual de Iowa (ISU) que refuta a teoria. Agora, um novo estudo traz evidências ainda mais fortes de que tudo começou muito tempo antes.

Descobertas no Parque Nacional de White Sands, no Novo México (EUA), as impressões foram feitas entre 21 mil a 23 mil anos atrás. Imagem: Matthew Bennett – Universidade de Bournemouth

Pesquisadores da Universidade de Bournemouth analisaram pegadas humanas fossilizadas descobertas no Novo México (EUA) e afirmam que têm a primeira evidência inequívoca de que os humanos já estavam na América do Norte há, pelo menos, 21 mil anos.

“O povoamento das Américas é uma coisa que tem sido por muitos anos muito controversa, e muitos arqueólogos têm opiniões com zelo quase religioso”, disse Matthew Bennett, professor e especialista em pegadas antigas da Universidade de Bournemouth e autor de do estudo, publicado na revista Science nesta quinta-feira (23).

Bennett lamenta que “um dos problemas é que há muito poucos pontos de dados”.

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Por meio do estudo, Bennett e sua equipe conseguiram datar com precisão 61 pegadas por radiocarbono de camadas de sementes de plantas aquáticas que foram preservadas acima e abaixo delas. 

Descobertas na Bacia de Tularosa, no Parque Nacional de White Sands, as impressões foram feitas entre 21 mil a 23 mil anos atrás.

Fósseis descobertos datam da última Idade do Gelo

Segundo Bennett, as pessoas que deixaram as pegadas – a maioria crianças e – viviam no Novo México no auge da última Idade do Gelo, ocorrida há 19 mil e 26 mil anos, quando  duas enormes camadas de gelo cobriram o terço norte do continente e alcançaram o sul até as cidades de Nova York, Cincinnati e Des Moines. 

O gelo e as temperaturas frias teriam tornado uma viagem entre a Ásia e o Alasca impossível naquela época, o que significa que as pessoas que deixaram as pegadas provavelmente chegaram muito antes. “É o primeiro local inequívoco e um bom ponto de dados que posiciona as pessoas no sudoeste americano em torno do último máximo glacial”, disse Bennett.

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David Rachal, um consultor de geoarqueologia que trabalhou com rastros de humanos e animais na Bacia de Tularosa por oito anos, disse que as datas das pegadas fornecidas por Bennett e sua equipe pareciam “extremamente sólidas”, com sementes fornecendo idades muito confiáveis ​​e precisas por meio de datação por radiocarbono .

“Além disso, essas datas vêm de camadas de sementes localizadas acima e abaixo da superfície do trilho, que engloba o evento de formação de trilhos. Você não poderia pedir uma configuração melhor”, disse Rachal, que não esteve envolvido no estudo.

Marcas foram deixadas por crianças de 9 a 14 anos

No entanto, ele considera intrigante que nenhum artefato, como ferramentas de pedra, tivesse sido encontrado na área. “Essas faixas sugerem que as pessoas chegaram ao Novo México muito antes do esperado. Este é um tema que está ganhando força na literatura. No entanto, precisamos ser cautelosos, e mais pesquisas precisam ser feitas antes de comemorarmos”, disse.

As pegadas fossilizadas foram feitas por crianças e adolescentes. Imagem: Matthew Bennett – Universidade de Bournemouth

De acordo com a CNN dos EUA, o estudo indica que as pegadas provavelmente foram feitas em solo macio na borda de um pântano, e que é possível que o vento tenha soprado poeira sobre a superfície, assoreando as impressões.

Pela análise das dimensões das pegadas, os estudiosos afirmam que elas foram feitas por crianças entre 9 e 14 anos – um padrão visto em outros locais de pegadas fossilizadas (como o caso dos fósseis encontrados no Tibet).

“Uma hipótese para isso é que a divisão do trabalho, na qual os adultos são envolvidos em tarefas especializadas, enquanto buscar e carregar são delegados aos adolescentes”, supõem os pesquisadores. “As crianças acompanham os adolescentes e, coletivamente, deixam um número maior de pegadas que preferencialmente registradas no registro fóssil”.

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