Assim como a Terra tem tremores internos e em sua superfície, que chamamos de terremotos, o mesmo acontece em outros planetas, como Marte, por exemplo. Por lá, esses abalos sísmicos são (olha que surpresa) os martemotos. E a Nasa anunciou, nesta quarta-feira (22), que os três maiores casos desse evento foram detectados nas últimas semanas.

Sismômetro da sonda InSight, que estuda a geologia de Marte
Sonda InSight detectou os três maiores abalos sísmicos em Marte nas últimas semanas. Imagem: Nasa/JPL-Caltech

No fim do mês passado, dois martemotos foram identificados pelo módulo no mesmo dia (25), com magnitudes de 4,2 e 4,1, respectivamente. Outro de 4,2 foi registrado no último sábado (18), com duração de 90 minutos.

Antes desses, o recordista era um detectado pelo InSight em 2019, que atingiu a magnitude 3,7, o que corresponde a cerca de cinco vezes menos potência do que um de 4,2 magnitude.

O InSight (abreviação, em inglês, de “Exploração de interiores usando investigações sísmicas, geodésia e transporte de calor”) pousou perto do equador marciano em novembro de 2018, com a missão de sondar o interior do planeta com uma precisão nunca antes alcançada.

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Como funciona o detector de martemotos da Nasa

Movido a energia solar, o módulo conta com dois instrumentos científicos principais: uma sonda de calor e um conjunto supersensível de sismômetros. A equipe da missão também está usando o equipamento de comunicação do InSight para rastrear sua localização em Marte. Essa informação revela o quanto o planeta está oscilando em seu eixo, o que lança mais luz sobre sua estrutura interna.

Apelidada de “mole” (toupeira, em inglês), a sonda de calor foi fechada no início deste ano. Segundo o site Space, ela nunca conseguiu ir muito longe no subsolo, bloqueado pela sujeira marciana que é bem difícil de cavar. 

No entanto, os sismômetros têm sido suficientemente produtivos, registrando e caracterizando centenas de martemotos há três anos.

Com a análise desses tremores, a equipe InSight consegue mapear o interior marciano em detalhes. Por exemplo, as observações do módulo de pouso revelaram que o Planeta Vermelho tem um núcleo surpreendentemente grande e uma crosta relativamente fina.

E os eventos recém-descobertos podem ajudar a confirmar tal constatação. A equipe do InSight ainda está estudando o tremor mais recente, de 18 de setembro, mas os eventos de 25 de agosto já foram analisados até certo ponto. 

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Por exemplo, a equipe já descobriu que o tremor de magnitude 4,2 daquele dia se originou a cerca de 8,5 mil km de distância do InSight. 

Segundo a Nasa, é o martemoto mais distante que a sonda já detectou, tendo ocorrido muito mais longe do que a região que gerou quase todos os poderosos abalos sísmicos identificados até agora pelo InSight. A região é chamada Cerberus Fossae, uma área a cerca de 1,6 mil km da sonda.

No entanto, o epicentro desse tremor ainda não está claro. “Uma possibilidade especialmente intrigante é o Valles Marineris, o sistema de cânions epicamente longo que marca o equador marciano”, informou a agência espacial americana. “O centro aproximado desse sistema de desfiladeiro está a 9,7 mil km de InSight”.

Já em relação ao segundo martemoto registrado naquele dia, a equipe informou que ele ocorreu muito mais perto da sonda – cerca de 925 km de distância.

Enquanto o tremor de 4,2 ocorreu em frequências baixas, o de 4,1 exibia vibrações rápidas de alta frequência, de acordo com as análises.

“Mesmo depois de mais de dois anos, Marte parece ter nos dado algo novo com esses dois tremores, que têm características únicas”, disse o principal investigador do InSight, Bruce Banerdt, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, no sul da Califórnia.

Atividades do InSight em Marte terão uma pausa de duas semanas

O InSight superou adversidades consideráveis ​​para fazer as detecções relatadas recentemente. Muita poeira se acumulou nos painéis solares do equipamento desde a aterrissagem, reduzindo drasticamente sua produção de energia. 

Esse problema foi agravado pela trajetória orbital de Marte, que o afastou cada vez mais do sol. O Planeta Vermelho atingiu o afélio, seu ponto mais distante de nossa estrela, em 12 de julho.

Assim, a equipe da missão desligou temporariamente vários instrumentos para economizar energia e limpou um pouco da poeira. Eles fizeram isso usando o braço robótico do módulo de pouso para pingar areia nos painéis solares do InSight. Conforme o vento marciano varreu esses grânulos, eles carregaram um pouco de poeira junto.

Segundo Banerdt, esses esforços permitiram que o InSight mantivesse níveis de energia relativamente estáveis ​​durante o afélio. “Se não tivéssemos agido rapidamente no início deste ano, poderíamos ter perdido alguma grande ciência”.

A equipe InSight está considerando a possibilidade de realizar operações adicionais de limpeza de poeira. Essas atividades, no entanto, teriam que esperar até depois da conjunção solar, período em que Marte está no lado oposto da Terra em relação ao Sol. 

Durante esse tempo, a Nasa suspende as comunicações com Marte, pois os comandos podem ser corrompidos pela interferência solar. A interrupção deve acontecer na próxima quarta-feira (29), durante duas semanas. Segundo a Nasa, a missão InSight está prevista para encerrar definitivamente em 14 de outubro.

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