Pesquisadores americanos conseguiram usar a Starlink, plataforma de internet via satélite da SpaceX, como via de posicionamento global (mesmo sistema do GPS), no que marca a primeira vez que a plataforma da empresa de Elon Musk foi usada fora de um ambiente controlado por ela.
Segundo os especialistas, o método é seguro no que tange à privacidade de usuários, já que eles não “viram” qualquer informação de identificação, e mesmo assim, desenvolveram um processo onde consegue determinar posicionamentos desejados com precisão de oito metros. Seu estudo foi exibido no último dia 22, durante a conferência anual do Instituto de Navegação GNSS, em St. Louis, e serão publicadas na próxima edição do jornal IEEE Transactions on Aerospace and Electronic Systems.
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“Nós escutamos o sinal, então desenhamos algoritmos sofisticados para determinar a nossa posição, e mostramos que isso funciona com grande precisão”, disse Zak Kassas, diretor do Centro de Pesquisa para Veículos Automotores com Navegação Multimodal Assegurada (do inglês: “CARMEN”), uma instituição voltada à pesquisa em transportes instalada dentro da Universidade de Ohio.
“Mesmo que a Starlink não tenha sido projetada para fins de navegação, nós mostramos que é possível que ela aprendesse partes do sistema [de GPS] para ser usada de tal forma”, ele continuou.
Basicamente, Kassas e sua equipe observaram os sinais de seis satélites da Starlink, sem a ajuda da SpaceX. Depois, criaram o algoritmo que usava esses sinais para encontrar posições específicas na Terra. Finalmente, eles posicionaram uma antena no campus da universidade, ordenando seu sistema a localizá-la, o que foi feito com uma margem de erro de 7,7 metros. Comparativamente, isso é inferior à exatidão de um GPS, mas não muito: o sistema de posicionamento global tem margem de erro entre 0,3 e 5 metros.
Essa questão, porém, deve melhorar automaticamente, já que, segundo Kassas, muito dela é atrelada à disponibilidade de satélites na hora de uma busca por localização. Em outras palavras, quanto mais satélites a SpaceX colocar na baixa órbita da Terra, mais exata será a localização do que for buscado pelo sistema.
Hoje, a SpaceX conta com mais de 1,7 mil satélites da Starlink no espaço, oferecendo conexão banda larga à internet para mais de 100 mil clientes nos EUA e outros 12 países. Nada no produto está diretamente relacionado a sistemas de localização, então evidentemente o uso dos satélites da empresa para essa finalidade demonstra que eles são bem mais capazes do que o próprio CEO da empresa, Elon Musk, deve antecipar.
A comparação com o GPS não é feita à toa: presente em nossas vidas há pelo menos 30 anos, o GPS é o que permeia produtos de localização no mundo hoje. Seus sinais são abertos – o equivalente a um software open source -, o que permite que dispositivos capazes de lê-los sejam instalados em produtos como smartphones, notebooks, pulseiras fitness e outros eletrônicos.
Por outro lado, ser tão aberto torna o sistema mais vulnerável a ataques. Além disso, os satélites usados pelo GPS estão mais altos no espaço que os da Starlink. Consequentemente, eles tendem a ter um sinal mais fraco. Diante de um dos dois cenários acabar derrubando o sistema, a descoberta do time do CARMEN pode servir como um backup mais seguro, já que os sinais emitidos pela Starlink são de caráter privado. Ataques a eles teriam que ser bem mais complexos e evidentes do que em um sistema aberto.
“O mais importante aqui é que nós não estamos ‘escutando’ o que se envia ou recebe por esses satélites”, disse Kassas, assegurando mais uma vez o respeito pela privacidade de clientes da Starlink. “Nós aprendemos a mexer com os sinais apenas o suficiente para direcioná-los ao propósito de navegação”.
Elon Musk, CEO da SpaceX, normalmente comenta esse tipo de descoberta em suas redes sociais, mas até o fechamento desta nota, ele ainda não havia falado sobre o assunto.
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