Como alguém que joga simuladores de futebol no videogame desde os meus quatro anos de idade, estou cansado da mesma “piadinha de tio” que os gamers insistem todo ano. “É o mesmo jogo, mimimi” ou “não muda nada, mimimi”, sabe? É irritante, e por fatores que vão muito além um review ou texto opinativo. De fato, a EA Sports vacilou em alguns títulos da franquia e não trouxe inovação nenhuma, porém quando o jogador começa a analisar mais o macro do que o micro, é possível notar o quão estupendo um produto com o mesmo gameplay há gerações pode, sim, crescer ainda mais. Afinal, é o primeiro ano de vida útil do PlayStation 5 (PS5) e dos Xbox Series X e S. ‘FIFA 22′ não podia ser, simplesmente, mais um.
A boa notícia é que um dos games mais jogados do mundo atualmente trouxe mudanças significativas baseadas na premissa também “de tio” na qual “os pequenos detalhes fazem toda a diferença”. E, spoiler alert: se você for dono de um console da nova geração, as inovações são mais notáveis.
Em ‘FIFA 22’, a EA claramente trabalhou para corrigir as falhas do jogo antecessor e fez sensíveis, mas importantes polimentos na jogabilidade e na ambientação para arriscar mais em uma excelente qualidade gráfica e imersão. Perceba ou não, o game de fato mostra que ganhou uma nova vida e que seguirá dominando o segmento de jogos de futebol com certa folga, ainda mais depois de “certas” mudanças drásticas efetuadas pelo principal concorrente.
‘FIFA 22’ é mais tecnológico: Hypermotion e uma melhora na IA – principalmente nos goleiros
Não há maior destaque no novo título de ‘FIFA’ que o Hypermotion. A EA mostrou esmero e cuidado ao fazer a captura de movimentos para o jogo. Desta vez, ao contrário do que foi feito nas últimas edições, o processo colocou dois times de 11 jogadores com uma roupa especial para que depois fosse feita de todas as circunstâncias da partida. Com machine learning, a técnica aplicada mapeou a parte tática e criou animações mais realistas.
Diferente da captura de movimento com dois, três atletas dentro do estúdio, ‘FIFA 22’ apostou na ramificação da inteligência artificial (IA) para analisar dados que automatiza a construção de modelos analíticos. Assim, a máquina aprende ao identificar padrões e, com o mínimo de intervenção humano, toma decisões.
Ou seja, o Hypermotion junto a outros recursos de IA otimizaram a interação no jogo e deixaram o gameplay mais realista, com passes menos robóticos na bola, movimentos e corridas suaves em campo e animações bem interessantes. Em questão apenas de estética, é fácil reparar nas cutscenes em meio a uma partida os jogadores reagindo às determinas situação em meio ao jogo de forma mais real, sabe? Por exemplo: se Kevin De Bruyne erra dois pênaltis seguidos, ele não só ficará bravo, mas também decepcionado – algo que, automaticamente, afetará o desempenho posterior dele no jogo.
E o resultado final é que, com poucos minutos de uma partida, percebe-se que ‘FIFA 22’ está, sim, mais vivo do que nunca, visto que os jogadores têm mais vontade própria e realizam movimentos mais realistas, mesmo sem participar da jogada efetivamente. Ao todo, o game recebeu com a tecnologia mais de 4 mil novas animações para ações de ataque, condução de bola, defesa e dribles, fruto de mais de 8,7 milhões de capturas realizadas.
Gameplay parte 1: pense, mas rápido
Toda a tecnologia aplicada em ’22’ deixou o game mais com cara de ‘PES’ nos anos áureos do que um jogo da EA, de fato. Com toque de bola rápido, dribles velozes e fluídos e outros aspectos que de fato agregam mais à diversão do que numa tentativa de simular, o jogo está mais “agitado e tenso”. Ou seja, prepare-se para uma partida muito mais brigada no meio de campo e focada na estratégia em curto período de tempos.
Os jogadores que gostam de ter domínio de bola, por exemplo, não vão gostar muito de saber que perder a bola por pensarem muito acontece muito no novo jogo. Os que gostam de contra-ataques, no entanto, vão se deliciar com a IA trabalhando de acordo com uma estratégia veloz nas laterais de campos – algo que Messi, Neymar e Mbappé em um certo Paris Saint German (PSG) deverão ser bastante utilizados.
Alguns comandos com os jogadores, como os passes em profundidade e nas arrancadas, são pontos a serem ressaltados também. Mesmo mais propondo a ser um jogo do que um simulador, as movimentações estão mais realistas, então, a necessidade de acertar um toque com mais precisão é maior. Caso não, será engraçado notar os jogadores tropeçando na bola ao receber um passe com muita força ou em profundidade.
No caso das arrancadas, tome cuidado ao utilizar o analógico direito e engatilhar uma corrida mais forte. Duas pressionadas já são o suficiente para um ganho de espaço ainda maior, mas que pode acabar com a jogada. Tudo precisa ser bem calculado, já que os defensores estão mais espertos graças à IA – e com uma menor defasagem na velocidade quando comparamos com os atacantes. Quem quer “apelar” com CR7 e outros jogadores velozes não se dará bem, lamento.
Gameplay parte 2: marcação está estupidamente mais difícil
O subtítulo diz tudo. A disputa no corpo a corpo está ridiculamente difícil, e é importante pouco de paciência para se acostumar, mesmo os mais experientes. Em ‘FIFA 22’, o sistema de marcação é bem mais complexo que os títulos anteriores ou mesmo ao rival ‘PES’ (agora ‘eFootball’). Agora, o momento certo de dar o bote é mais essencial que nunca, e apenas a pressão simples não é suficiente para desarmar.
A sensação que dá é de que o jogador precisa entrar em um jogo de “vida ou morte” para recuperar a posse de bola. E o sentimento ainda é maior por conta da nova dinâmica de marcação, que traz uma nova forma de trocar o jogador em controle quando o time está sem a bola. Ao pressionar o botão analógico direito (R3, no PlayStation), um símbolo com “R” e setas em quatro direções diferentes aparecem na tela acima de alguns jogadores. Com o analógico direito, então, você escolhe o atleta mais bem colocado para realizar a investida, seja direta ou indireta.
Parece confuso, mas na prática funciona. A troca de jogador pelo analógico não é algo novo na franquia da EA e já existe há algum tempo, todavia, a alternativa atual é mais prática e funciona melhor para um controle mais exato da jogada – diferente do botão L1 (LB, no Xbox), no qual o jogo escolhe “sozinho” quem deve ser controlado na troca.
Outro ponto legal a ser ressaltado no aspecto marcação em ‘FIFA 22’ é o R1 (RB), que envia outro jogador para pressionar o adversário com a bola. O comando no jogo anterior levava a uma pressão decepcionante, fazendo com que o usuário precisasse trocar de jogador para desarmar. Agora, é possível marcar de perto o adversário enquanto controla um outro atleta na própria área – bem semelhante ao visto no ‘PES’. Claro, todos as novas funcionalidades não facilitam a marcação do jogo, que está mais complicada.
Caso nada funcionar, troca o jogador para tentar roubar a bola e, bem, boa sorte.
Gameplay parte 3: imersão de todos os tipos em um jogo mais bonito
‘FIFA 22’ respira realismo. Os movimentos estão fluídos, o controle está mais tático do que nunca, os lançamentos, cruzamentos e as viradas de jogo ficaram mais estratégicas de serem feitas. Enfim, uma experiência completa, mas que pode chatear alguns jogadores que desejam apenas “pegar o controle e se divertir”. Felizmente, a EA se atentou a um ponto onde sempre foi criticada, seja em futebol, corrida ou futebol americano: ensinar os comandos básicos.
Mirando, FINALMENTE, novos jogadores que desejam experimentar ‘FIFA 22’, a desenvolvedora se dispôs a ensinar como jogar o game. A versão deste ano começa com uma introdução que deverá ser lembrada como uma das melhores da série. Após montar o avatar em um sistema de customização, o jogador é levado por uma simpática e habilidosa jogadora, Lisa, até o Parc de Princes, o estádio do PSG – time com destaque no jogo este ano.
O divertido caminho retoma alguns dos melhores sentimentos extinto modo campanha ‘A Jornada’, agora transformado em um tutorial muito bem-feito e executado. Enquanto percorre as movimentadas ruas de Paris rumo ao metrô, o jogador pode “bater uma bolinha” com a personagem em um aquecimento animado, ensinando técnicas básicas como condução da bola e passes simples, além de aparições de Mbappé, David Beckham e Thierry Henry.
A dinâmica é tão legal de acompanhar que parece uma comercial bem-feito da Nike ou Adidas e é extremamente bem-vindo. O único problema? A introdução será a primeira ausência, de muitas, a ser sentida para PS4, Xbox One ou PC.
Contudo, como é bom ver que o game está muito, mas muito mais bonito…
Além das melhorias no campo de jogo, ‘FIFA 22’ é, sem sombra de dúvida, o jogo de futebol mais bonito dos últimos anos, quiçá em todos os tempos. Além da tecnologia Hypermotion para dar vida aos jogadores, com movimentações e animações beirando à perfeição, além dos detalhes na pele e cabelos, o novo título está muito mais imersivo para aproveitar todos os recursos da nova geração de consoles.
Tomando o PS5 como exemplo, o DualSense ainda é tímido nas vibrações (até para evitar quebrar o controle na hora do nervosismo, acho), mas acompanha o jogador em todas as ações tomadas durante os 90 minutos, desde o chute inicial até o gol. O áudio 3D também é bem-vindo e dá uma sonoridade bacana aos jogos regados ao som da torcida no estádio e os gritos de guerra, quase como se você estivesse assistindo a uma transmissão de “domingão” às 16h.
O novo sistema de física para a bola também está mais realista e reage ao joystick, assim como curvas nos cruzamentos e lançamentos. No PS5 e no Xbox Series X/S é possível até acompanhar os quiques na grama e o ganho de velocidade de modos mais imersivos – o que de um lado prova que a EA se atentou às demandas dos novos console, mas ao mesmo tempo fica difícil imaginar a justificativa para lançar o jogo nos hardwares da geração passada e no PC sem as novidades que fazem a diferença.
Outra melhora técnica sutil, porém importante, aconteceu nos menus, que estão mais rápidos e completos, principalmente nos jogos. Agora, há mais informações e números sobre o que aconteceu na partida, incluindo mapas de calor, número de passes e chances criadas e posse de bola segmentada por período da partida.
Gameplay parte 4: goleiros melhores e mais difíceis, além de outros pontos
Ânimo, comunidade FIFA: os goleiros melhoraram bastante – aliás, foram os mais contemplados com as novas tecnologias. Em todas as partidas que joguei, os principais defensores estavam excelentes e dispostos a sacrificarem o físico virtual deles para não tomarem gol. Acho, inclusive, que estão defendendo mais bolas difíceis do que deveriam.
O que não é problema, claro, caso o jogador experiente saiba chutar de forma colocada. No ‘FIFA 22’, a prática está bem mais difícil de acertar, muito por conta do timing e da proeza dos goleiros. Um finalizador com bons atributos não deve ter problemas, mas atacantes inexperientes no modo Carreira (falo mais sobre abaixo) podem sofrer bastante, a princípio.
Falando em chute, o mesmo pode ser aperfeiçoado com o botão bolinha (B, no Xbox) quando apertado novamente no momento certo. A mecânica agora também aparece nas faltas, em que o jogador pode finalizar com um segundo toque. Se você acertar o tempo, é muito provável que saia um tremendo de um golaço (ou que o goleiro faça uma linda defesa… acontece, né?). Aliás, vale ressaltar que a movimentação do goleiro embaixo das traves está bem animada, menos robótica e repleta de pulos mais verossímeis.
Pouca inovação nos vários modos…
Como disse anteriormente, as inovações no ‘FIFA 22’ aconteceram no macro, e não no micro. Logo, não espere modos novos, retorno de ‘A Jornada’ (infelizmente) ou algo, de fato, novo. Algumas adições foram feitas aos já conhecidos Carreira e VOLTA, porém nada de tão atrativo no Ultimate Team que, bem, continua a ser a mesma coisa de sempre.
No modo Carreira, por exemplo, é possível criar o próprio clube, com escudo, uniforme e nome personalizado para disputar como manager offline. Apesar de já existir em outros jogos desde o PlayStation 1 (PSOne), a “novidade” deve agradar as pessoas que sentem saudade da saudosa Master League. As animações para contratar novos jogadores estão mais reais também, com treinadores e jogadores em negociação demonstrando algumas emoções e etc.
Vale ressaltar que é possível criar o próprio time do zero com jogadores genéricos – como já acontece no Campeonato Brasileiro, por exemplo. Porém, claro, conforme a Carreira avança, é possível contratar atletas de verdade. Quem preferir pode sempre começar com um time já existente, com as escalações verdadeiras.
No Pro Clubs, a EA acertou com uma sútil, porém grande novidade à franquia. Agora é possível criar uma personagem mulher e disputar normal partidas junto com outros homens. Aliás, é possível criar personagens femininas em todos os modos da franquia – algo simples, mas que já faz a diferença na vida de milhões de mulheres que jogam ‘FIFA’.
O Ultimate Team está um pouco mais divertido e menos competitivo para o fã casual. Diferente do ‘FIFA 21’, no qual era necessário se dedicar ao longo de toda a semana para bater uma pontuação alta e garantir uma recompensa boa (com um controverso esquema de loot boxes), agora basta ter um bom desempenho em um dia para conquistas a melhor premiação da divisão relacionada.
A EA também atendeu o pedido dos jogadores de ‘FIFA’ e “cortou” a Weekend League (WL) ao longo da semana, que agora conta com somente 20 jogos – mais rápida, porém desafiadora pelo baixo número de partidas.
O modo que mais passou por remodelação foi o VOLTA, modo quase sem regras inspirado no antigo ‘FIFA Street’ é a nova aposta da empresa para o multiplayer da franquia. Até o menu mudou de cara e virou um lobby, referenciando bastante games atuais voltados para a experiência online.
Através do menu, é possível se juntar a amigos online para jogar no “Elencos do VOLTA”, ou mesmo offline no “Batalhas do VOLTA”. Em ambos, você ganha recompensas após as partidas e pode melhorar aspectos do seu jogador. O modo também aderiu ao sistema de Temporadas, que vai trazer atualizações, skins e outros itens, além de objetivos que o jogador precisa cumprir. Há ainda uma opção Arcade, repleta de minijogos como queimada e bobinho, onde =e possível jogar contra outras três pessoas.
Vale ressaltar dois pontos, no entanto: o Arcade fica disponível apenas durante finais de semana e não é possível jogar de forma local – ou seja, é necessário ter o PlayStation Plus (PS Plus) ou Xbox Live Gold para acessar.
Em resumo, o VOLTA deixou de ser ‘Fifa Street’ e abraçou a “galho fantasiosa” ao estilo Arcade, visando uma experiência mais competitiva. O modo continua bastante divertido, mesmo assim…
‘FIFA 22’ faz estreia estupenda na nova geração de consoles
‘FIFA 22’ é um ótimo presente de boas-vindas aos jogadores da nova geração de consoles e é um renovo à franquia como um todo. Além de atualizar o gameplay e trazer novidades interessantes no VOLTA, o jogo da EA se propõe a ser o pontapé inicial novos jogadores, ao mesmo tempo em que mantém o legado para os mais experientes com imersão, diversão e realismo graças à tecnologia HyperMotion.
A maior crítica, no entanto, é o total apreço para os novos consoles e certo descaso em relação às plataformas restantes. Os jogadores de PS4, Xbox One e PC terão que se contentar com uma versão do jogo muito, mas muito aquém da que foi entregue aos players da nova geração, o que é uma pena. De qualquer forma, a franquia ‘FIFA’ não entregava um jogo tão bom e completo desde 2016, logo, merece os devidos méritos…
Não vê a hora de jogar ‘FIFA 22’? Vale ressaltar que o game será lançado oficialmente na próxima sexta-feira (1) para PlayStation 5 (PS5), PlayStation 4 (PS4), Xbox One, Xbox Series X/S, Nintendo Switch e PC. Quem comprou a edição Ultimate na pré-venda, por sua vez, já pode aproveitar o título a partir desta segunda-feira (27). O trailer oficial do jogo pode ser visto logo acima.
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