Cientistas afirmam ter criado “vidro inquebrável” e prometem mais proteção a smartphones

Novo material é inspirado nas conchas de moluscos e apresenta a mesma resiliência que plástico durante uma queda
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 05/10/2021 17h19, atualizada em 06/10/2021 11h46
Imagem de um vidro estilhaçado
Imagem: francesco de marco/Shutterstock
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Inspirados nas conchas de moluscos, cientistas da Universidade McGill, nos EUA, afirmam ter criado um “vidro inquebrável” capaz de oferecer maior proteção a smartphones e outros dispositivos eletrônicos com telas. O paper do novo material foi publicado no portal Science e, em algum lugar da história, o Nokia 3310 acordou e disse “me chamaram?”

De acordo com a equipe, o novo produto – que eles se limitaram a chamar apenas de “vidro inquebrável” – tira inspiração da camada interna das conchas de moluscos, que é ao mesmo tempo maleável e resistente. Por essa razão, diante de uma queda, a criação dos cientistas se comporta mais como um plástico, ao invés de se estilhaçar por completo como os pratos que todos nós já derrubamos.

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Imagem de um vidro em várias camadas, supostamente inquebrável
A madrepérola é um dos materiais mais resistentes, e serviu de base para a criação do “vidro inquebrável” da Universidade McGill (Imagem: Texturemaster/Shutterstock)

“Até agora, havia ‘trocas’ entre força, resistência e transparência”, disse Allen Ehrlincher, professor adjunto do Departamento de Bioengenharia da Universidade McGill. Ele se refere a técnicas que ampliam a resistência do vidro – como laminação ou temperação – mas que sacrificavam outras qualidades, como a cor e transparência.

“O nosso novo material não só é três vezes mais forte que o vidro comum, mas também é cinco vezes mais resistente a fraturas”, continuou o especialista.

De forma simplificada, esse vidro “inquebrável” consegue imitar a madrepérola, que combina ao mesmo tempo dureza e maleabilidade em seus materiais. “Desta forma, ela tem o melhor de dois mundos”, disse Ehrlincher. “A madrepérola é feita de pedaços rígidos de matéria similar ao giz, mas que trazem camadas de proteínas maleáveis altamente elásticas. Essa estrutura produz força excepcional, fazendo dela até três mil vezes mais resistente que os materiais que a compõem”.

Para reproduzir isso, os cientistas usaram a arquitetura da madrepérola como base, combinando flocos de vidro e acrílico, gerando um composto excepcionalmente forte, porém opaco. Decidindo seguir seu experimento, eles então fizeram o material ficar totalmente transparente, tal qual vidro: “ao ajustar o índice de refração do acrílico, nós fizemos com que ele se combinasse ao vidro de forma homogênea, tornando tudo um composto verdadeiramente transparente”, disse Ali Amini, também da universidade.

O chamado “vidro inquebrável” é um objeto historicamente reconhecido, com relatos vindos desde o Império Romano: no reinado de Tibério Cláudio Nero Cesar, um inventor trouxe à corte imperial uma tigela de vidro que, quando arremessada ao chão, apenas entortou sua borda, mas não quebrou (não confunda esse imperador com Nero Cláudio César Augusto Germânico: o primeiro viu o vidro inquebrável, o segundo ateou fogo em Roma – uma diferença importante).

De acordo com historiadores da época, como Petrônio, a exibição terminou de forma… problemática: o inventor assegurou ser o único capaz de produzir o tal “vidro inquebrável”. Temendo que o novo material reduzisse o valor do ouro e da prata – dois pilares que apoiavam a economia romana -, Tibério ordenou a sua morte.

Não é essa a intenção dos pesquisadores da Universidade McGill (esperamos!). Ao invés de execuções, eles pretendem aplicar o novo vidro em smartphones, tablets e outros aparelhos. Para isso, porém, ainda falta um tempinho: testes futuros vão avaliar aspectos como a condutividade, reprodução de cores e qualidade de imagem antes de incorporar o material a produtos inteligentes.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital