Descrito dessa exata mesma forma desde que foi anunciado em 2020, não dá para resumir ‘Back 4 Blood’ de outra maneira: o jogo, sem tirar nem pôr, é o sucessor espiritual do clássico ‘Left 4 Dead’. A franquia iniciada em 2008 impactou a indústria – e o gênero de games com mortos-vivos – mais do que pensamos e a proposta do novo título da Turtle Rock Studios (que, olha só, é a mesma desenvolvedora de ambos) é simples: matar zumbis até você se cansar.

E só, goste ou não – e é aí que está o maior diferencial. Como citado anteriormente, ‘Left 4 Dead’ não foi o primeiro jogo de zumbis a existir, mas foi tão popular que criou até o próprio gênero (algo cooperativo em um mundo pós-apocalíptico, sei lá…). ‘Dead Island’, ‘Killing Floor’, ‘Payday’ e até o “modo Zombies” de ‘Call of Duty’ claramente “bebem da fonte” do clássico de terror, porém não é a mesma coisa. “Back 4 Blood’, então, acerta aí.

Com o objetivo de sobreviver no meio do caos, o game cooperativo ao melhor estilo First-Person Shooters (FPS) mistura elementos de terror e survival horror e coloca até quatro jogadores para enfrentarem muitas (mas muitas mesmo, até mais que ‘Days Gone’) hordas de zumbis de tamanhos e poderes variados. A experiência é longe de profunda e a campanha não é nada impactante, mas quer “meter porrada” em mortos-vivos? Então, bem-vindos!

Utilizando praticamente a mesma jogabilidade de ‘Left 4 Dead’, o título basicamente se propõe a ser um modo história prático e não tão demorado, dividido por quatro atos (totalizando 14 fases) e com até oito personagens jogáveis (inicialmente, apenas a metade está disponível), sendo que cada um oferece armas e vantagens variadas, que funcionam como classes.

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A campanha pode ser jogada sozinho ou em até quatro jogadores. Basicamente, e insisto no basicamente, os jogadores devem sair de um ponto “A”, matar muitos zumbis e chegar a um local seguro “B” (a famigerada “safe house”). Em meio ao frenesi, não esqueça de dar uma coletada em armas e itens e descobrir novos tipos de infectados de todos os tipos – dos mais simples, que morrem com poucos tiros, até os grandalhões que exigem mais trabalho e coordenação em equipe. Em suma, ‘Back 4 Blood’ é isso – e isso, de longe, não é ruim!

Os atos da campanha consistem em várias fases, que como explicado fazem o jogador andar do ponto “A” ao “B” enquanto estão com milhares de zumbis a enfrentar. Alguns níveis delas são suavemente mais elaboradas e contam com objetivos extras para prosseguir, mas que são tão simples que mesmo o pior player de jogo de tiro (tal qual aquele que vos escreve) não precisa de muito esforço para realizá-los. Então, se simplesmente o gameplay é seguir sempre a linha de “reconhecer a missão”, “eliminar ninhos” e “alcance o refúgio”, qual é a graça de ‘Back 4 Blood’?

Destruir zumbis! Sério, após anos convivendo com histórias profundas no gênero, tais quais ‘The Last Of Us’ e ‘ Days Gone’, ou mesmo focadas no terror e “jump scares”, como os novos ‘Resident Evil’, a indústria precisava de um game mais slasher onde o foco fosse menos trama imersiva e mais jogabilidade destrutiva. Isso não pode agradar alguns, e é super compreensível, porém para quem quer só se divertir por algumas horas de forma despretensiosa, vale a pena.

Três personagens de Back 4 Blood exploram cenário armados
Três personagens de ‘Back 4 Blood’ exploram cenário armados. Imagem: Warner Bros. Interactive Entertainment

Um dos pontos mais fortes de ‘Back 4 Blood’ que ajudam no fator diversão é o visual, inclusive. A experiência não economiza em sangue, gore e explosões. Mesmo em um estilo frenético de gameplay, quem puder dar uma checada nos cenários poderá perceber cores vivas e a boa construção dos segundos planos gráficos – locais abandonados e destruídos há muito tempo, cadáveres, poças de sangue, neblinas, plantações e etc.

Há também estruturas que auxiliam (ou atrapalham) durante o combate, o que força a atenção do jogador nos arredores o tempo inteiro. E, claro, há os zumbis: que são grotescos e desprovidos de qualquer tipo de inteligência. Mesmo assim, as criaturas são asquerosas, assustadoras e ágeis – com sons de arrepiar. Atirar com qualquer tipo de arma, obviamente, gera mutilação de membros, sangue espirrado e partes de corpos para todos os lados…

No entanto, o game pode soar repetitivo. Muitas fases repetem os cenários, fazendo o jogador passar muitas vezes pelo mesmo lugar com pequenas variações, como diferentes horários e climas e portões fechados. Outra única maneira que o jogo tenta dificultar a conclusão de missões é não indicando o caminho que deve ser seguido, fator que força os players a explorarem o mapa e muitas vezes se perderem.

As armas que podem ser usadas contra as criaturas ao longo do caminho são tantas que seria mais fácil classifica-las em categorias (escopetas, fuzis e metralhadoras). Por outro lado, todas oferecem a mesma sensação de morte e não causam impacto ao alternar entre elas – nem mesmo com o DualSense do PlayStation 5 (PS5), feito para isso.

Ou seja, não existe aquela sensação de explodir os zumbis com uma arma de maior calibre e uma faca ou um machado também não são diferentes. A mesma falta de cuidado se repete por todo o arsenal, como com granadas, por exemplo, que não geram efeitos diferentes e, por fim, são sem graça de utilizar. A sensação que fica é a de que aniquilar hordas incontáveis de zumbis não seja tão legal quanto deveria ser, ainda mais quando é o foco do jogo.

Sistema de cartas

A maior novidade na jogabilidade de ‘Back 4 Blood’ acaba sendo um sistema de cartas, que funciona como a base da build do jogador. O recurso consiste em um baralho personalizável de 15 opções, além de “cartas soltas” – que funcionam como uma ajuda extra que pode ser escolhida antes de cada partida.

O tal sistema é bem interessante no papel, visto que cada carta possui uma habilidade específica, que geralmente é para compensar alguma fraqueza de cada personagem, ou para diminuir sutilmente as ameaças dos oponentes. Há centenas de combinações possíveis dentro das 15 opções.

Como cada jogador escolhe com qual carta quer começar o mapa (a cada fase é possível aplicar novas, vale ressaltar), o jogo em time ocorre da mesma forma na hora de justamente selecionar as cartas. Com “supply points” conquistados nas fases normais, o jogador ainda pode desbloquear novas cartas e formar um deck mais forte para as jogatinas seguintes.

Muitas cartas oferecem vantagens (e, ao mesmo tempo, desvantagens – tal qual ‘Lost in Random‘) que afetam a vida, vigor e outras características do personagem escolhido. Basicamente, cabe ao jogador escolher as que mais se adequam ao seu estilo de combate e, para ser sincero, não importa. O recurso não traz um impacto tão grande assim na jogabilidade e dão vantagens pequenas, fazendo o jogador sentir pouca diferença na prática.

Outro detalhes: todas as cartas já ficam disponíveis desde o início e não precisam ser desbloqueadas. Logo, coletar e economizar recursos é algo desnecessário.

História é o que menos importa

Cansado de jogos multiplayer nos quais depende de outras pessoas para aproveitar? Bom, ‘Back 4 Blood’ é uma experiência bacana para quem é adepto do “game solitário”. A campanha pode ser jogada sozinha, com três bots ocupando o lugar dos outros jogadores que te ajudariam. As inteligências artificiais são até espertas e nunca ficam no seu caminho, por exemplo, e sempre correm para te resgatar quando você “cai” – momento em que perde toda a energia e fica impossibilitado de andar, necessitando que um companheiro te salve.

Acompanhado, a história do título flui legal e é dinâmico o suficiente para entreter sem virar algo extremamente competitivo.

Aliás, por falar em campanha, existe uma trama em ‘Back 4 Blood’ sim, mas ela é praticamente inexistente e não importante. O jogo se passa em um planeta Terra distópico e pós-apocalíptico assolado por um vírus altamente contagioso, que faz com que as pessoas se transformem em zumbis, que querem atacar qualquer sobrevivente para disseminar o parasita. Então, cabe a um grupo de sobreviventes acabar com a ameaça toda.

Há algumas cenas e diálogos durante as fases que contam para onde os sobreviventes estão indo, mas tudo é feito de forma simples, superficial e, por fim, rasa. Não há desenvolvimento de personagens que vão além de frases cômicas no meio da porradaria ou mesmo algum aspecto que te deixe apegado a qualquer uma das faces do jogo. Ou seja, complementam as lutas, porém sem nenhum apelo cinematográfico.

Caso queira entender a história, vale assistir algumas cutscenes para ligar os pontos entre os atos da campanha. Todavia, caso pular essas cenas, não vai perder nada. Se mira ação e gameplay, recomendo assistir as primeiras somente para se situar e fim de papo. Venhamos e convenhamos: alguém que vá atrás de um sucessor espiritual de ‘Left 4 Dead’ quer realmente focar na trama?

‘Back 4 Blood’ vale a pena, mas não leve o jogo a sério

back 4 blood
‘Back 4 Blood’ vale a pena demais pelo jogo caótico, mas não leve o título a sério. Imagem: Warner Bros. Interactive Entertainment

As duas maneiras de jogar ‘Back 4 Blood’ são extremamente divertidas para quem busca algo despretensioso e simples. Não espere um título revolucionário de zumbis tal qual ‘The Last of Us’ ou o modo “Zombies” de ‘Call of Duty’, mas sim algo que foca na estrutura e a jogabilidade básica para funcionar. O título também não é tão longo, assim, basta desligar o cérebro e se divertir com alguns tiros em zumbis. Caso buscar algo mais significativo, se arrependerá.

Gráficos modestos, porém a atmosfera dos cenários funciona e estourar os mortos-vivos é bacana por certo tempo ou mesmo para descontrair. Contudo, aponto para uma fórmula um tanto quanto repetitiva – gameplay e mapas com poucas mudanças. Aliado a um sistema de cartas pouco eficaz, o jogo pode vir a ser repetitivo para alguns players depois de algum período de jogatina – visto que, em poucas horas, tudo já é feito de forma automática.

Em geral, o jogo vale a pena somente pelo estourar de crânios (de novo e de novo) e pela nostalgia da fórmula de sucesso do clássico ‘Left 4 Dead’. Entre aclamar o título ou afirmar que o mesmo não soube aproveitar as ideias e mecânicas que tinha em mãos, prefiro apenas pensar o game se propõe a ser divertido. E assim o farei…

Disponível desde o dia 12 de outubro, ‘Back 4 Blood’ está inteiro em português do Brasil, incluindo a dublagem, para PlayStation 4 (PS4), PlayStation 5 (PS5), Xbox One, Xbox Series X/S (incluindo Game Pass) e PC (via Steam e Epic Games Store). Vale ressaltar que o review foi feito com uma cópia cedida pela Warner Bros. Interactive Entertainment. Confira o trailer e a sinopse do jogo abaixo:

“Back 4 Blood é um jogo de tiro cooperativo em primeira pessoa dos criadores da franquia aclamada pela crítica Left 4 Dead. Você está no centro de uma guerra contra os contagiados. Esses humanos portadores de um parasita mortal se transformaram em criaturas assustadoras inclinadas a devorar os restos da civilização. Com a extinção da humanidade em jogo, cabe a você e seus amigos enfrentar esse inimigo, erradicar os contagiados e reconquistar o mundo.”

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