No deserto do Atacama, no Chile, há uma extensa faixa de terra sobre a qual, segundo especialistas, um cometa teria passado, elevando a temperatura ao ponto de fundir a areia e criar “pedras de vidro” – ou “silicato” – há aproximadamente 12 mil anos.

A informação vem do jornal científico Geology, que publicou um paper assinado por pesquisadores da Universidade Brown, nos EUA. Segundo o resumo, o material coletado do deserto, em análise, mostrou ter uma composição geralmente encontrada em rochas de origem extraterrestre.

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Imagem do Deserto do Atacama, por onde um cometa passou há 12 mil anos e explodiu, criando "pedras de vidro"
Rochas de silicato identificadas no Deserto do Atacama, no Chile, têm suas origens em um cometa que explodiu sobre a superfície da Terra há cerca de 12 mil anos (Imagem: Brown University/Reprodução)

O estudo tirou como base as amostras do cometa Wild 2 (pronunciado “vilt”, em referência a Paul Wild, o astrônomo suíço que o descobriu em 1978), localizado na órbita de Júpiter, bem na fronteira da parte mais interna do nosso sistema solar. As amostras foram coletadas e devolvidas à Terra pela sonda Stardust, em 2011.

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“Essa é a primeira vez que temos uma evidência clara de que vidro na Terra foi criado pela radiação térmica e ventos de uma bola de fogo explodindo pouco acima da nossa superfície”, disse Pete Schultz, professor emérito do Departamento de Ciências Planetárias, Ambientais e da Terra na Universidade Brown.

“Para causar esse efeito tão dramático em uma área tão grande, com certeza essa deve ter sido uma explosão massiva”, ele comentou. “Muitos de nós já viram bólidos cruzando o céu, mas esses seriam pequenos pontinhos de luz comparados a esse cometa”.

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A faixa de vidro é mais concentrada na região de Pampa del Tamarugal, uma área de planalto ao norte do Chile, localizada entre a Cordilheira dos Andes (a leste) e a faixa litorânea do Chile (a oeste). Ao longo de 75 km, é possível ver trechos de cor verde-escura ou preto, que refletem minimamente a luz. Segundo Schultz, não há evidência de atividade vulcânica na área, então a origem do material só pode ser extraterrestre.

No passado, alguns cientistas teorizaram que o vidro teria sido formado por incêndios naturais – considerando que o Deserto do Atacama nem sempre foi um “deserto”: no período Pleistoceno (2,6 milhões – 11,7 mil anos atrás), a região era lotada oásis, rios e pântanos, antes de amplos incêndios destruírem essa paisagem.

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De acordo com o paper, porém, as formações rochosas de silicato não seriam possíveis em incêndios comuns. As rochas de vidro têm sinais de que foram torcidas, dobradas, enroladas e até mesmo arremessadas ainda em suas formas mais quentes e maleáveis, o que é mais consistente com um impacto de grande escala e com a onda de choque que vem depois de uma grande explosão. Em outras palavras, a explosão do cometa esquentou tanto a areia que a derreteu e, dela, fez pedras de vidro.

Por meio de uma análise química detalhada, Schultz e sua equipe encontraram minerais chamados “zirconitas”, que foram decompostos pelo calor até formarem um derivado extremamente raro, conhecido como “baddeleyita”. Mais além, a presença de cubanitas e troilotes trazem uma assinatura mineral igual às amostras retiradas do cometa pela Stardust.

“Esses minerais nos contam que esses objetos têm todas as marcas de um cometa”, disse Scott Harris, geólogo planetário do Centro Fernbank de Ciências e co-autor do estudo. “O fato de eles terem a mesma mineralogia que vimos nas amostras da sonda Stardust é uma evidência poderosa de que o que estamos vendo é resultado de uma rajada de ar quente de um cometa”.

Mais estudos são necessários para determinar a idade exata das rochas e, por meio disso, o momento exato da explosão do corpo celeste. Estimativas bem abertas, porém, afirmam que ela ocorreu mais ou menos na mesma época em que os grandes mamíferos desapareceram da região. Entretanto, os autores dizem não ser possível afirmar se a queda do cometa seria responsável pela morte das espécies da área.

“Ainda não podemos afirmar se há uma relação de causa e consequência nisso”, disse Schultz. “Há também uma pequena chance de que o evento tenha sido visto pelos primeiros humanos modernos, que teriam acabado de chegar à região”.

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