O que difere chimpanzés e humanos? Parte “esquecida” do nosso DNA pode ter a resposta

Embora sejamos parentes próximos, os chimpanzés não têm as mesmas características dos humanos - novo estudo atribui isso ao DNA
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 03/11/2021 12h09, atualizada em 03/11/2021 13h34
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Imagem: Patrick Rolands/Shutterstock
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Em termos de evolução, os chimpanzés são os parentes mais próximos dos humanos. Entretanto, uma simples olhada para eles e para nós já mostra que, de uma forma geral, somos bem diferentes. De acordo com um novo estudo, isso pode ter a ver com uma “parte esquecida” do nosso DNA.

Especialistas em pesquisas com células-tronco da Universidade de Lund, na Suécia, identificaram um pedaço de nosso DNA que não era exatamente desconhecido, mas era comumente ignorado. Chamado de “DNA não codificado”, ele basicamente explica porque o cérebro dos primatas é tão diferente dos cérebros humanos.

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Montagem mostra chimpanzés (direita) e humanos (esquerda), simbolizando a proximidade genética das duas espécies
Em novo estudo, cientistas conseguiram identificar possível fator genético que nos separa dos chimpanzés, apesar de sermos muito próximos deles na escala evolucionária (Imagem: Dean Drobot/Patrick Rolands/Shutterstock)

“Ao invés de estudarmos chimpanzés e humanos vivos, nós usamos células-tronco cultivadas em laboratório. Essas células foram reprogramadas com base em células epiteliais [da pele] fornecidas por parceiros na Alemanha, EUA e Japão. Depois, nós examinamos as células-tronco que se tornaram células cerebrais”, disse Johan Jakobsson, Professor de Neurociência da instituição e autor primário do estudo.

Por definição, células-tronco são a matéria-prima do corpo. São delas que vêm todas as células específicas para as várias funções do organismo (ou “células-filhas”). Nas condições corretas, as células-tronco podem formar outros tipos de células, direcionando-as a áreas específicas do corpo. Nenhum outro tipo tem essa capacidade.

Usando as células-tronco desenvolvidas em laboratório, Jakobsson e seu time criaram células cerebrais de chimpanzés e humanos, estudando as diferenças de cada um ao longo de todo o processo de formação. E eles perceberam que uma parte específica do DNA compartilhado entre as duas espécies é usada de forma diferente, dependendo de quem estamos falando.

No meio científico, essa parte era até então referida como “sucata de DNA” e, basicamente, consiste em uma longa cadeia que se repete por toda a sua estrutura e que, segundo pensávamos, não tinha nenhuma função. Por causa disso, cientistas e biólogos que já estudaram esse assunto no passado tinham o hábito de pesquisar apenas as cadeias do nosso DNA que formam as proteínas essenciais – o que contempla apenas 2% do nosso genoma – ignorando o restante.

Usando uma técnica reconhecida até mesmo pelo Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 2012, os cientistas de Lund conseguiram reprogramar as células epiteliais em células-tronco e, a partir delas, células cerebrais. E graças a essa análise, conseguiram entender que muito das diferenças entre chimpanzés e humanos reside fora da cadeia proteica do DNA.

“Isso sugere que a base da evolução do cérebro do homem vem de mecanismos genéticos muito mais complexos do que imaginávamos, já que se pensava que a resposta para essa pergunta residia naqueles 2% do DNA genético”, disse Jakobsson. “Nossas conclusões indicam que a parte mais significativa para o desenvolvimento cerebral está, talvez, escondida nos 98% ignorados, que aparentemente são bem importantes. Essa descoberta foi mesmo uma surpresa”.

A ideia de estudar essas diferenças veio de uma curiosidade do próprio professor, aliás, que admitiu uma fascinação no que transforma espécies tão geneticamente próximas em seres tão diferentes. “O que faz dos humanos… bem, humanos? Como nós, enquanto espécie, conseguimos usar nossos cérebros para construir estruturas complexas de sociedade, educar nossas crianças e desenvolver tecnologia? É tudo muito curioso”, ele conta.

Mais além, Jakobsson acredita que essa descoberta poderá servir de base para estudos em outros campos, como determinar causas genéticas para distúrbios psicológicos, como a esquizofrenia.

“Mas é importante ressaltar que, antes de chegarmos a esse ponto, ao invés de continuarmos pesquisando apenas aqueles 2% de DNA codificado, nós agora seremos forçados a estudar todos os 100% – uma tarefa consideravelmente mais complicada e mais demorada”, diz o especialista.

O paper completo foi publicado e revisado por seus pares no jornal científico Stem Cell.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital