A Associação Nacional dos Fabricantes de Autoveículos (ANFAVEA) apresentou nesta segunda-feira (06/12) o que seria o último relatório da indústria de compra de carros no Brasil em 2021. Os números, que vêm apresentando retrações decorrentes das chamadas “sequelas da pandemia” — no caso, a crise dos chips e o aumento dos combustíveis.

Ao todo, o país teve o licenciamento de 173 mil veículos, um número que corresponde a uma tímida melhora nas vendas na comparação com outubro (6,5%), porém, não anima. Novembro, historicamente conhecido como “um mês historicamente aquecido”, apresentou um recuo de 23,1% em comparação a 2020, quando foram vendidos 225 mil automóveis.

A estatística representa o pior novembro para  o mercado em 16 anos, mesmo com o retorno de montadoras ao funcionamento. A produção do mês, 206 mil unidades, correspondem 15,1% a mais que em outubro, porém 13,5% a menos que o mesmo período em 2020. Na prática, o valor é o pior resultado desde a crise de demanda, em 2015.

O número de exportações também apresentou baixas. Apenas 28 mil unidades foram embarcadas, correspondendo a uma queda de 6% em relação ao mês anterior, e de 36,3% em novembro do ano passado.

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Sequelas da pandemia só terão cura no final de 2022

Fábrica da Chevrolet em Gravataí (RS); semicondutores afetam produção de carros. Imagem: Divulgação/GM
Fábrica da Chevrolet em Gravataí (RS); semicondutores afetam produção de carros. (Imagem: Divulgação/GM)

Apesar da queda na compra mensal de carros, o número anual apresenta uma tímida margem de melhora. Foram 1,912,8 mil veículos adquiridos entre janeiro a novembro de 2021, um aumento de 5,4% em comparação ao primeiro ano de pandemia, com 1.814,5 mil aquisições.

O presidente da ANFAVEA, Luiz Carlos Moraes, estimou uma melhora gradual no fornecimento de semicondutores — muito embora a solução completa da crise só esteja prevista para o final do ano que vem. “Temos muitos veículos incompletos nos pátios das fábricas, a espera de componentes eletrônicos. Esperamos que eles possam ser completados neste mês, amenizando um pouco as filas de espera nessa virada de ano”, afirmou.

Em coletiva, o representante da instituição afirmou que o mercado ainda pode esperar flutuações e impactos diretos nos próximos meses até que o cenário se estabilize. “O aumento da gasolina impacta de maneira direta e indireta em sequência. Aumenta custo, produção, inflação. São as chamadas sequelas da pandemia”, lamenta.

Brasil pode virar referência para carro elétrico

Caoa Chery Arrizo 5e é um dos carros elétricos à venda no Brasil. Imagem: Divulgação/Caoa Chery
Caoa Chery Arrizo 5e é um dos carros elétricos à venda no Brasil. (Imagem: Divulgação/Caoa Chery)

Além de comentar sobre a queda da compra de carros, Luiz Carlos Moraes elabora que o Brasil pode ser um mercado exportador de elétricos — se houver investimento para a infraestrutura necessária.

“O próprio regulatório vai obrigar algum grau de eletrificação”, pontua. “A gente está imaginando mais de 30% da frota nacional num cenário conservador, e 60% num otimista. Isso corresponde a um volume de 2,5 milhões de carros elétricos no Brasil.”

Esta posição, mais moderada, reforça os estudos de agosto da instituição, envolvendo os planos de produção de EVs no Brasil. O caminho, segundo o comentário, vai ao encontro das decisões internacionais de aplicar malhas de eletromobilidade e índices de emissão zero.

“Nossa estimativa é de que isso tudo, entre montadoras e elementos envolvidos, custe aproximadamente R$ 150 bilhões. Por um lado é desafio, por outro é otimista, pois pode trazer um novo ciclo de investimento e desenvolvimento brasileiro capitaneado pelo núcleo automobilista, somado ao segmento de baterias”, comenta.

Tempos atrás, a ANFAVEA parecia apostar em um rumo diferente dos planos de transformar o Brasil no “polo referencial” de automóveis a combustão, ao declarar em evento uma projeção de 95% da frota nacional movida a biocombustível. Hoje, a posição é de acompanhar a tendência mundial.

 “A gente defende uma nova oportunidade em termos de geração de renda e de empregos — e empregos de outro nível”, finaliza o presidente. “A gente pode trazer uma nova indústria para o Brasil.”

Imagem: Divulgação/GM

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