Um estudo noticiado pelo Olhar Digital na última segunda-feira (24) disse que a suposta água líquida no pólo Sul de Marte era “apenas uma miragem”. Dois dias depois, uma nova pesquisa vem para indicar o contrário, afirmando uma boa probabilidade de que a região tenha “água salgada” sob a camada de gelo na curva mais baixa do planeta vermelho.

De acordo com dados coletados pelo Southwest Research Institute (SwRI), no Texas, as propriedades da análise de componentes do gelo marciano a temperaturas de -98,3º C (Celsius) confirmam uma alta possibilidade da existência de água “salinizada” na região citada.

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Ilustração mostra possibilidade de água líquida em região polar de Marte
As regiões extremas de Marte contam com a presença de gelo, mas estudos bem fundamentados divergem sobre a presença – ou ausência – de água líquida sob as camadas polares do planeta vermelho (Imagem: HAKAN AKIRMAK VISUALS/Shutterstock)

O novo estudo refuta a pesquisa do início da semana, ao mesmo tempo em que oferece suporte à análise mais antiga, feita a partir de dados coletados pelo MARSIS – instrumento operado pela agência espacial europeia (ESA). O artefato afirmou a possibilidade de existência de água líquida sob o gelo após observar reflexos da superfície do pólo Sul de Marte em suas antenas.

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“Lagos de água líquida de fato existem sob as geleiras das nossas regiões ártica e antártica, então existem análogos da Terra para buscarmos por água abaixo do gelo [em outros planetas]”, disse o Dr. David Stillman, geofísico do SwRI. “Os sais exóticos que nós já sabemos existirem em Marte possuem notáveis propriedades ‘anti congelantes’, permitindo que as treliças de gelo permaneçam líquidas mesmo em temperaturas negativas. Nós estudamos esses sais em nosso laboratório para entender como eles responderiam ao radar”.

“Treliças de gelo” são, de uma forma simples, o composto derivado da cristalização da água em gelo. O sal não se ajusta à estrutura química do gelo, então ele acaba expulso, formando objetos dispersos.

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A consideração dos reflexos observados pelo MARSIS foi essencial para a nossa pesquisa: dotado de uma antena de cerca de 40 metros (m), o aparato da ESA sobrevoa um planeta, refletindo ondas de rádio sobre uma área específica e analisando os ecos e reflexos que recebe de volta.

No caso de água líquida próxima à superfície, esses reflexos são exibidos de forma extremamente brilhante, ao passo em que gelo e corpos rochosos são menos evidentes. O que Stillman fez foi revisar os dados mais antigos, mas usando novos métodos – especificamente, uma câmara ambiental dentro do SwRI que permite chegar a temperaturas próximas ao nitrogênio líquido, e imitar pressões parecidas com o ambiente de Marte – para analisar a presença de sais como perclorato e cloreto.

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“Meus colegas italianos [autores da primeira pesquisa] me procuraram para avaliar se meu experimento em laboratório daria suporte à presença de água líquida na geleira marciana”, ele contou. “Minha pesquisa mostrou que não temos lagos de perclorato ou cloreto, mas esses químicos podem existir entre os grãos de gelo e sedimentos, o que é suficiente para exibir uma resposta dielétrica poderosa. Algo parecido ocorre quando a água do mar deixa grãos de areia saturados na praia; ou como aromatizantes artificiais permeiam bebidas como raspadinhas e slushies”.

Stillman ressalta, porém, que a presença de água líquida naquela área, especificamente, não deve ser entendida como “sinônimo” para a presença de vida em Marte. Segundo ele, a área é tão fria que torna o surgimento de vida inviável. Mas ainda assim, ela levanta questões interessantes sobre a evolução de Marte ao longo de bilhões de anos.

O paper completo foi publicado no Earth and Planetary Science Letters.

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