Sonho de consumo de muitos professores nas décadas de 70 e 80, o mimeógrafo fez história e contribuiu para facilitar a vida tanto na elaboração de provas quanto na divulgação de jornais estudantis. Considerado o avô da impressora, o mimeógrafo era um aparelho que reproduzia cópias a um baixo custo por meio de um método simples e bem caseiro. E tinha uma característica bem marcante: o cheiro de álcool nas folhas que exalava sala adentro. 

Entenda como funcionava o mimeógrafo  

Patenteado no dia 8 de agosto de 1887, por Thomas Alva Edison, nos Estados Unidos, o mimeógrafo teve como desenvolvedor o mesmo cientista que criou a lâmpada elétrica, a caneta elétrica (precursora da máquina de tatuagem), o gerador elétrico, o fonógrafo e mais de mil patentes, sem falar na fundação da General Eletric.  

De sua mente, surgiu a invenção que continuou popular mesmo com o surgimento da fotocopiadora, em 1938, tendo em vista o alto custo dessa nova máquina. 

Basicamente, o mimeógrafo funcionava da seguinte forma: o professor escrevia a mão ou datilografava um texto com exercícios sobre uma folha especial conhecida como estêncil, que tinha carbono em sua superfície. 

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Sendo uma matriz, o estêncil passava o texto para outra folha porque havia um feltro umedecido com álcool na máquina. E aqui havia um detalhe importantíssimo: quanto mais álcool, maior a clareza da impressão. 

O texto aparecia então no lado oposto da folha. Ao colocar no rolo da máquina com a parte escrita voltada para cima, era só girar a manivela e as cópias começavam a sair, sempre impressas em um azul forte bem próximo do roxo. 

Apesar do primeiro modelo ter sido a manivela, houve outras variações ao longo dos anos, como um mimeógrafo elétrico. 

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Raio X do mimeógrafo 

O mimeógrafo possuía três controles na parte externa. O primeiro servia para informar a quantidade de álcool que seria enviada para a folha. O segundo para definir a pressão que seria colocada sob o papel e o terceiro indicava quantas cópias tinham sido feitas.  

De uma maneira geral, o avô da impressora possuía uma alavanca, um cilindro, um disco, algumas molinhas, chapas de alumínio e um gatilho. E dentro havia muita poeira e história, seja em impressões de exercícios de matemática, desenhos para colorir ou questões de Língua Portuguesa.  

Revolução na comunicação 

Em uma época em que a difusão de informações era lenta e cara, o mimeógrafo teve um papel preponderante para ajudar estudantes e intelectuais a divulgarem seus ideais. 

Muitos jornais estudantis foram impressos na máquina assim como escritores utilizavam a invenção para colocarem nas ruas seus pensamentos, sendo uma verdadeira popularização da antiga prensa de Gutenberg, criada no século XV. 

Dessa maneira, era possível criar e difundir ideias sem a necessidade de uma gráfica. Apesar da fotocopiadora ter sido desenvolvida em 1938, ela só chegou ao mercado em 1959, produzida pela Xerox, mas seu alto custo impossibilitava a aquisição.     

Geração Beat nos EUA

Foi então que o mimeógrafo ajudou imensamente os jovens intelectuais e escritores a criticarem o governo norte-americano ao longo da Segunda Guerra Mundial por meio do grupo que ficou conhecido como geração Beat. 

Grandes escritores, como Allen Ginsberg, Jack Kerouc e William Burroughs só encontraram espaço para divulgarem suas ideias graças ao mimeógrafo. Foi aí que explodiu a cena da literatura independente e revolucionária. 

Tiragens com 500 exemplares logo atingiam milhares de leitores, contribuindo com a formação de vários artistas, inclusive sendo um precursor do movimento Hippie. 

Causas como o amor livre, ecologia, liberdade sexual e libertação feminina chegaram ao conhecimento público graças aos panfletos e fanzines impressos na máquina que exalava a álcool. 

mimeógrafo
Mimeógrafo foi uma máquina que contribuiu com movimentos de resistência ao poder vigente tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, dando voz a artistas, poetas, escritores e universitários. Imagem: Arquivo pessoal Eliete de Souza Violla

Geração mimeógrafo no Brasil

No Brasil, a geração mimeógrafo teve o auge na década de 70, divulgando posicionamentos contrários à ditadura militar. Assim, poetas, estudantes, professores universitários e artistas tinham um meio alternativo para divulgarem seus escritos. 

Portanto, se hoje podemos desfrutar de uma comunicação livre e de todos os benefícios da internet, é porque lá atrás houve alguém girando a manivela de um mimeógrafo com a certeza de que era possível resistir e propagar novas ideias e ideais.

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