Ex-funcionários dizem que a Neuralink funciona “à base do medo”

Seis trabalhadores que deixaram a empresa de Elon Musk acusam-na de pressionar funcionários de forma irreal, mesmo em momentos positivos
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 31/01/2022 17h20, atualizada em 01/02/2022 11h20
Elon Musk
Imagem: Alex Gakos/Shutterstock
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As coisas seguem complicadas para a imagem pública da Neuralink, que agora tem seis ex-funcionários acusando-a de fomentar uma cultura de medo e pressão em seus empregados. A empresa de Elon Musk vem sendo atacada por fazer promessas tidas como irreais no desenvolvimento de um implante cerebral que, segundo seu fundador, promete ajudar pessoas com dificuldades motoras, além de permitir, futuramente, “fazer o upload de sua consciência e não ficar para trás das máquinas”.

Na última semana, o Olhar Digital publicou texto mostrando como alguns experts desacreditaram Elon Musk, que prometeu que a Neuralink logo executaria testes clínicos em humanos, o que causou medo e preocupação na comunidade científica.

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Foto do bilionário Elon Musk
Elon Musk fundou ou ajudou a fundar empresas como Tesla, SpaceX e Neuralink. Curiosamente, todas essas já se viram envolvidas em casos de assédio ou pressão excessiva contra funcionários. Imagem: Naresh777/Shutterstock

Falando à revista Fortune, os seis ex-funcionários disseram que a Neuralink exerce uma pressão incomum sobre seus funcionários, normalmente pedindo por resultados que beiram o impossível e exercendo um peso contínuo mesmo quando o momento é de favorabilidade.

“Havia essa insatisfação de cima para baixo com o ritmo de nossos progressos, ainda que estivéssemos avançando a velocidades sem precedentes”, disse uma das fontes da revista. “Mesmo assim, Elon [Musk] nunca estava satisfeito”.

Segundo eles, o próprio Musk criou um ambiente tóxico onde as pessoas mais temiam “irritar” o bilionário, que “insistia em impor prazos irreais para objetivos excessivamente ambiciosos”. Um dos entrevistados disse que, por essa razão, o percentual de turnover (termo corporativo que se aplica ao volume de pessoas que deixam uma empresa e são substituídos) da empresa é um dos maiores do setor.

As informações não foram comentadas pela Neuralink, mas rumores sobre essa média mais alta não são exatamente novos: em maio de 2021, Max Hodak, co-fundador da Neuralink, anunciou abruptamente a sua saída da companhia, mas sem detalhar o motivo. Informações levantadas pela mídia americana, contudo, indicavam que ele e Musk não mais se olhavam, e que Hodak teria, segundo alguns, sido expulso da empresa por influência do bilionário.

O nome de Elon Musk também já foi relacionado a culturas tóxicas de trabalho em suas outras empresas: em uma matéria de novembro de 2021 veiculada pelo jornal Washington Post, veio a público o processo de Jessica Barraza, que alega ter enfrentado tanta pressão na Tesla que acabou enfrentando episódios de ansiedade e crises de pânico. Ela teve, posteriormente, um diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) — um problema que normalmente se vê em soldados que voltam da guerra.

No mês seguinte, em dezembro, um artigo independente assinado por Ashley Kosak, ex-estagiária de engenharia da SpaceX durante quatro anos, chamou a atenção pelas acusações de assédio sexual e que casos do tipo denunciados à área de recursos humanos (RH) da empresa eram sumariamente enterrados sem investigação. A SpaceX nunca respondeu aos pedidos de comentários feitos pela CNBC, que cobriu o caso na época.

Os seis ex-funcionários que acusam a Neuralink de fomentar a cultura de medo corporativo não se identificaram, mas suas acusações adicionam peso a uma imagem pública que já vem sendo grandemente deteriorada. Aliada ao fato da empresa se recusar a comentar as preocupações apresentadas por especialistas que duvidam de sua ética ou capacidade de implantar chips em cérebros de pessoas (especialmente em 2022), a empresa vem enfrentando um escrutínio público ainda maior.

Mesmo assim, a Neuralink preferiu, mais uma vez, o silêncio.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital