O cineasta iraniano Mohsen Makhmalbaf, uma das principais vozes do cinema de arte, afirmou durante entrevista à Variety que a era dos streamings está matando o cinema independente, embora a tecnologia apresente uma oportunidade de mostrar um filme para muitas pessoas, ela também “destrói outros tipos de mídia” e, a Covid-19 acabou impulsionando – talvez acelerando – a situação.

“Você pode comer sua comida no seu quarto, mas por que você vai a um restaurante para comer com outras pessoas? Se você é religioso, pode ir rezar em seu quarto, mas vai a uma igreja, templo ou mesquita, porque quer fazer isso com os outros. Você pode ver o filme no seu celular sozinho, mas você vai ao cinema para ver o filme com outras pessoas”, comparou Makhmalbaf.

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“O cinema está morrendo dessa maneira. Porque exceto festivais, em muitos países não temos cinema. E, como a Covid nos empurrou para o isolamento, esses tipos de mídia [também] nos levaram a um isolamento, sentamo-nos em nossa casa e assistimos ao filme na TV”, apontou o cineasta ressaltando que a experiência no cinema é única por poder apreciar nuances que uma tela muito menor não irá transmitir.

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O cinema está morrendo devido a era do streaming, afirma o cineasta Mohsen Makhmalbaf. Imagem: Top_CNX/Shutterstock

Makhmalbaf é diretor do vencedor do prêmio de Cannes por “Kandahar” e também ganhou o título de Melhor Diretor no Festival da Catalunha por “Gabbeh”, o filme é consiado um clássico e também recebeu o Prêmio da Associação Catalã de Críticos e Roteiristas de Cinema, o Prêmio Tela de Prata no Festival de Cingapura e Prêmio de Melhor Contribuição Artística no Festival e Tóquio. Ele também levou títulos em Veneza por “O Silêncio”.

“Quantos cineastas podem receber essa quantia de dinheiro e você acha que a Amazon quer fazer ‘Gabbeh’ ou eles querem fazer filmes comerciais? Então o cinema de arte está em perigo. Porque estávamos fazendo coisas com baixo orçamento e então estávamos tentando ter diversidade na arte, mas a Amazon pode sugerir ‘Ok, venham alguns de vocês e façam o filme que eu gosto’ – então este é o fim da arte”, explicou o cineasta.

O diretor ainda acrescentou que muitos grandes artistas deixaram o cinema porque não queriam fazer filmes para Netflix e Amazon. Ele também criticou as práticas de distribuição dos streamers, citando como exemplo seu filme “O Presidente”, que a Netflix adquiriu apenas para os EUA.

Nos últimos 16 anos, Makhmalbaf escreveu ao menos 30 roteiros e encerrou a entrevista questionando “quantos deles podem ser aceitos pela Amazon ou Apple TV?” Atualmente, o diretor está com “The Quarters” nas mãos, filme que se passa em Jerusalém e teve sua produção atrasada devido a situação pandêmica. As gravações serão retomadas em breve.

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