Mudanças no interior de Marte levaram à perda de seu campo magnético, diz estudo

Ainda não sabemos porque Marte perdeu seu campo magnético há bilhões de anos: novo estudo sugere alteração extensa no núcleo como motivo
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 11/02/2022 13h41, atualizada em 08/05/2023 11h44
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Imagem: Dotted Yeti/Shutterstock
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Marte não consegue sustentar água líquida em sua superfície, graças à finíssima atmosfera que sofreu com o fim do campo magnético do planeta vermelho há bilhões de anos. Mas nós nunca soubemos o motivo desse campo ter desaparecido — embora um novo estudo publicado na Nature Communications sugira uma explicação bem coerente.

Segundo o documento, mudanças intensas no núcleo de metal derretido de Marte fizeram com que o campo magnético enfraquecesse em um ritmo muito acelerado. Assim como na Terra, esse campo magnético protege a atmosfera de degradação. Uma coisa acabou levando à outra: com o enfraquecimento e eventual desaparecimento do campo magnético, a atmosfera de Marte foi ficando cada vez menos resistente e, hoje, ela é incapaz de “filtrar” a radiação do espaço e da luz solar, eliminando chances de suporte à vida na superfície.

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Buraco feito pelo rover Perseverance no solo marciano: superfície de Marte é árida e não sustenta água líquida devido à ausência do campo magnético do planeta vermelho (Imagem: Nasa/Divulgação)

Pesquisadores da Universidade de Tóquio, no Japão, simularam em laboratório as condições mais antigas do interior de Marte, usando amostras de materiais que eles julgaram serem encontrados nele — ferro, enxofre, hidrogênio, por exemplo — e posicionaram isso entre dois diamantes, comprimindo e aquecendo o conjunto a fim de recriar as pressões e calor imensos encontrados no núcleo.

Observando as alterações conforme elas ocorriam, a equipe descobriu que o material do núcleo, anteriormente homogêneo, começou a se separar em duas camadas líquidas distintas.

“Um dos líquidos ferrosos era rico em enxofre, enquanto, no outro, o hidrogênio era mais presente; e isso é essencial para explicar o nascimento e eventual morte do campo magnético de Marte”, disse o co-autor do estudo, Kei Hirose, que é professor no Departamento de Ciências Terrenas e Planetárias da universidade japonesa.

O estudo percebeu que a camada com hidrogênio, menos densa, subia mais que a camada com enxofre, o que gerou correntes de convecção parecidas com as da Terra — o consenso científico é o de que campos magnéticos planetários se formam assim. Até aqui, tudo em ordem.

O problema foi que, segundo o estudo, após a separação definitiva dos líquidos, as correntes cessaram, por ficarem sem atividade para estimular a convecção. Na mesma ocasião, o hidrogênio presente na atmosfera começou a ser espalhado no espaço, cortesia dos ventos solares. Isso gerou uma redução na atmosfera que, por sua vez, levou à eventual quebra do vapor d’água (cujo hidrogênio é um elemento de formação). O hidrogênio foi acabando e, com ele, a presença de água líquida.

“Com os nossos resultados à mão, futuros estudos sobre a atividade sismológica de Marte vão, com sorte, confirmar as camadas distintas que prevemos”, disse Hirose. “Se esse for o caso, isso vai nos ajudar a completar as lacunas na história sobre como planetas rochosos — incluindo a Terra — se formaram, explicando suas composições”.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital