Grupo quer manter o lado escuro da Lua livre de “poluição”; entenda

Sempre virado para o lado oposto à Terra, o lado escuro da Lua tem uma “pureza”, segundo defensores, que permite pesquisas mais aprofundadas
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 15/02/2022 13h42, atualizada em 15/02/2022 16h33
lado escuro da lua
lado escuro da lua. Imagem: Dotted Yeti/Shutterstock
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A Academia Internacional de Astronáutica criou um grupo especial para defender o lado escuro da Lua de “interferências de rádio”. O chamado “Comitê De Proteção Permanente Do Lado Escuro Da Lua” (Moon Farside Protection Permanent Committee, no inglês) argumenta que ondas de radiofrequência amplamente usadas em projetos astronômicos na Terra podem “poluir” a região escura do nosso satélite, inviabilizando certas pesquisas.

Para isso, o grupo defende a criação de um “Círculo Antípoda Protegido” (“PAC”, na sigla em inglês) de quase 2 mil km de tamanho e que, a grosso modo, corresponderia à região mais protegida do lado escuro da Lua, onde ninguém poderia instalar dispositivos de rádio que interferissem com a área.

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O lado escuro da Lua é completamente protegido de ondas de rádio, então interferências vindas da Terra não atrapalham escutas e pesquisas na região. Expansão espacial, porém, pode ameaçar essa preservação
O lado escuro da Lua é completamente protegido de ondas de rádio, então interferência vinda da Terra não atrapalha escutas e pesquisas na região. Expansão espacial, porém, pode ameaçar essa preservação (Imagem: OceanicWanderer/Shutterstock)

O lado escuro da Lua está sempre virado “para longe” da Terra. Consequentemente, ele é protegido de toda e qualquer onda de rádio — o próprio “corpo” da Lua assegura essa defesa. Seu ambiente também é mais seco e estável, o que permite que observações do tipo sejam mais precisas — imagine que você está isolando as orelhas com as mãos para focalizar um som distante. É mais ou menos isso, só que para estudos do espaço.

“O PAC não interfere com nenhuma outra área de interesse da atividade humana”, disse Claudio Maccone, um astrônomo italiano membro do SETI (“busca por inteligência extraterrestre”, traduzindo a sigla). “O PAC é a única área no lado escuro da Lua que nunca será tocada pela radiação emitida por bases lunares futuras localizadas no quarto e quinto pontos de Lagrange dentro do sistema Terra-Lua”.

A premissa do grupo é a de que, com o aumento de participantes do setor espacial, a entrada do Programa Artemis da NASA e o inevitável aumento de missões à Lua e além, algum esforço para preservar certas áreas do nosso satélite deve ser empreendido, pelo bem de algumas observações espaciais específicas.

Por isso, a vontade do novo grupo é a de que o PAC seja oficialmente reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma zona protegida, onde a contaminação de rádio por dispositivos humanos é proibida.

Entretanto, vale a explicação: “livre de dispositivos de rádio” não é necessariamente “livre de rádio” em si. Maccone argumenta que, no intuito de preservar a capacidade de estudos do lado escuro da Lua, a instalação de um radiotelescópio viria bem a calhar, e ele já até apontou a Cratera de Dédalo (Daedalus) como o ponto ideal.

A cratera tem uma borda bastante alta, ideal para bloquear ondas de rádio que venham de outras bases que porventura sejam instaladas na região oposta da Lua. O problema visto pelo grupo é a chamada “RFI” — sigla em inglês para “radiointerferência”. Basicamente, onde há muitos dispositivos emissores desse tipo de onda, nenhum deles “escuta” muita coisa. Hoje, isso já é um problema na Terra, mas a expansão espacial pode levar isso também à Lua.

“O lado escuro da Lua é um local único para nós, em todo o universo. É próximo da Terra, mas protegido de todo o barulho de rádio que nós mesmos estamos criando, em uma quantidade cada vez maior que faz dos nossos telescópios mais e mais cegos”, disse Maccone.

Evidentemente, o projeto ainda está em suas fases iniciais, e uma série de linhas para um código de conduta ainda precisa ser desenvolvida. No presente momento, é impossível dizer se isso surtirá algum efeito mais globalizado — e não se sabe nem mesmo quem seria responsável por executar sanções e punições em caso de qualquer violação.

O grupo, no entanto, parece confiante.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital