A província argentina de Salta aprovou o desenvolvimento de um algoritmo da Microsoft, em 2018 que supostamente poderia determinar quais “futuras adolescentes” de baixa renda provavelmente engravidariam. A investigação do portal Wired aponta que o algoritmo – que a Microsoft chamou de “um dos casos pioneiros no uso de dados de IA” – usou dados demográficos, incluindo idade, etnia, deficiência, país de origem e se a casa deles tinha ou não água quente no banheiro, para determinar quais das mulheres e meninas que vivem nessa pequena cidade argentina foram “predestinadas” para a maternidade.
O programa, que foi até celebrado em rede nacional pelo então governador Juan Manuel Urtubey, foi oferecido à província pela Microsoft em 2018, ao mesmo tempo em que o Congresso da Argentina debatia se deveria descriminalizar o aborto no país.
A reportagem descobriu também que as mulheres e meninas identificadas pelo algoritmo da Microsoft como aspirantes a mães adolescentes eram frequentemente desprivilegiadas de várias maneiras, desde ter origens pobres e famílias migrantes até herança indígena.
![Gravidez. Imagem: Shutterstock](https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2021/06/Gravidez.jpg)
O algoritmo, conhecido como Plataforma Tecnológica para Intervenção Social, merece destaque pelo fato de uma empresa americana como a Microsoft ter optado por implantar tal programa em um país com um longo histórico de medidas de vigilância e controle populacional.
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Essas inclinações são aparentes na falta de transparência em torno do programa. No entanto, o governo argentino nunca avaliou formalmente o impacto do algoritmo em meninas e mulheres.
De acordo com o Wired, o programa envolveu a implantação de “agentes territoriais” que pesquisaram as adolescentes identificadas pela IA como predestinadas à gravidez, tiraram fotos delas e até registrando suas localizações por GPS.
Ainda não está claro o que os governos provinciais ou nacionais fizeram com os dados e como – ou se – eles se relacionaram com o debate sobre o aborto, já que, em 2020, a Argentina votou pela descriminalização da prática, um momento histórico para o país vizinho ao Brasil.
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