Pássaros estão botando ovos mais cedo por causa do aquecimento global

Comparado há 100 anos, ninhos com ovos começam a se formar um mês antes da primavera, a fim de se ajustarem à disponibilidade de comida
Rafael Arbulu25/03/2022 18h03
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Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução
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Em mais um efeito atrelado ao aquecimento global, pesquisadores descobriram que 72 espécies de pássaros estão botando ovos um mês mais cedo do que há 100 anos. O motivo para isso é simples: os animais estão adaptando seus períodos de reprodução à disponibilidade de larvas e outros alimentos – estes afetados pelas mudanças climáticas.

O estudo que chegou à essa conclusão foi conduzido por John Bates, curador de ornitologia no Museu Field, em Chicago. Ele, junto de Chris Whelan (ecologista da Universidade de Chicago) e Mason Fidino (ecologista do Zoológico de Chicago) produziram o material que foi publicado no Journal of Animal Ecology.

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Pássaros da região de Chicago estão botando ovos cada vez mais cedo em resposta às mudanças causadas pelo aquecimento global
Pássaros da região de Chicago estão botando ovos cada vez mais cedo em resposta às mudanças causadas pelo aquecimento global (Imagem: Chicago Tribune/Reprodução)

Basicamente, os três especialistas coletaram dados de dois períodos distintos – 1880 a 1920 e 1990 a 2015, contemplando quase um século de tempo pesquisado. De acordo com Bates, esse vazio no meio dos dois períodos não foi intencional, mas foi aí que entrou a expertise de Fidino.

“Por causa dessa amostra desigual, tivemos que compartilhar um pouco de informações das espécies dentro de nosso modelo estatístico, o que poderia nos ajudar a melhorar as estimativas para os pássaros mais raros”, disse o especialista. “Percebemos rapidamente que poderiam haver alguns pontos fora da curva nos dados que, se não fossem contabilizados, poderiam impactar amplamente nos resultados. Por isso, tivemos que construir um modelo que reduzisse a influência de qualquer espécie excludente, caso encontrássemos alguma”.

A conclusão do modelo estatístico surpreendeu os três: um terço das espécies pesquisadas estava começando a construir ninhos em média 25 dias antes do esperado se comparados há 100 anos. A partir daí, os pesquisadores começaram a procurar os motivos para isso, efetivamente chegando nos insetos e larvas que servem de alimento aos animais voadores.

Isso porque as mudanças climáticas ocorridas dentro do período analisado casam quase que perfeitamente com as alterações nas ocorrências de reprodução de insetos. E os insetos começaram a aparecer antes em resposta a plantas de variados tipos – comida, para eles – começarem a brotar também antes.

“Na região que nós estudamos há um volume de mais ou menos 150 espécies de pássaros, todos com históricos evolucionários diferentes e biologias exclusivas, então tudo se resume aos detalhes”, disse Bates. “Essas mudanças nas datas dos ninhos podem resultar neles competindo por comida e recursos de uma forma que, antes, eles não faziam. Existe todo tipo de nuance que precisamos saber em termos de como os animais estão respondendo às mudanças climáticas”.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.