Um estudo liderado por cientistas da Universidade do Texas (UT) em Austin, que analisou 9 mil anos da história da Terra, concluiu que o padrão climático El Niño varia ao longo do tempo a tal ponto que os cientistas poderão ter dificuldade em detectar sinais de que o fenômeno está ficando mais forte com o aquecimento global.

A equipe de cientistas se baseou em dados climáticos contidos em corais antigos e usaram um dos supercomputadores mais poderosos do mundo para conduzir suas pesquisas, cujas conclusões foram publicadas em um artigo científico na Science Advances. O estudo foi motivado pela necessidade de se ter uma visão mais clara de como as mudanças climáticas podem afetar o El Niño no futuro.

Animação da Nasa mostra a evolução do fenômeno El Niño em um de seus registros mais fortes, em 2015. Imagem: Nasa

Fortes eventos de El Niño, como os de 1997 e 2015, que provocaram incêndios nas florestas tropicais de Bornéu, na Ásia, e causaram branqueamento generalizado nos recifes de coral do mundo, ocorreram cerca de uma vez por década.

Segundo os pesquisadores, os modelos computacionais, no entanto, não são claros sobre se os eventos do El Niño se tornarão mais fracos ou mais fortes à medida que o mundo aquece devido às mudanças climáticas.

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“Grande parte da temperatura e chuvas do mundo são influenciadas pelo que acontece no Oceano Pacífico tropical, onde o El Niño começa”, disse a principal autora do estudo, Allison Lawman, que iniciou a pesquisa como projeto de Ph.D. na Escola Jackson de Geociências da UT e agora é pesquisadora de pós-doutorado na Universidade do Colorado. “A diferença de chuvas entre eventos de El Niño maiores ou menos fortes será uma questão crítica para os planejadores de infraestrutura e recursos”.

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El Niño tem natureza altamente variável

Lawman e seus colaboradores usaram o supercomputador Lonestar5, no Texas Advanced Computing Center da UT, para executar uma série de simulações climáticas de um período da história da Terra antes das influências humanas, quando a principal fonte de mudança climática veio de uma inclinação na órbita do planeta. As simulações foram verificadas usando um emulador de coral que Lawman havia desenvolvido anteriormente para compará-las com registros climáticos de corais antigos.

Eles descobriram que, embora a ocorrência de fortes eventos de El Niño tenha se intensificado ao longo do tempo, a mudança foi pequena em comparação com a natureza altamente variável do El Niño.

“É como tentar ouvir música suave ao lado de uma britadeira”, disse o coautor do estudo Jud Partin, pesquisador do Instituto de Geofísica da Universidade do Texas.

Para conseguir isso, Partin, Lawman e outros autores do estudo sugerem mais investigações em épocas ainda mais antigas da história da Terra, como a última era glacial, para ver como o El Niño respondeu a mudanças mais intensas nas forças climáticas.

“Os cientistas precisam continuar empurrando os limites dos modelos e olhar para intervalos geológicos mais profundos no tempo que podem oferecer pistas sobre a sensibilidade do El Niño às mudanças no clima”, disse o coautor Pedro DiNezio, professor associado da Universidade do Colorado. “Porque se houver outro grande El Niño, será muito difícil atribuí-lo ao aquecimento do clima ou às próprias variações internas do El Niño”.

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