Prós
  • Potência considerável
  • Design adiciona personalidade
  • Faz o que se propõe
Contras
  • Menos tecnologia que em outras versões
  • Absorve muito calor no verão
  • Preço salgado, apesar de dentro do mercado

Cruze Midnight é um sedã intermediário que vem de fábrica com jeito de mexido. Ele parece um projeto de paixão nascido de uma garagem, com melhorias e uma redecoração que parece arrancar mais que uma folha de sua inspiração de… Batman.

E aqui iremos responder: pode o Cruze Midnight dizer “Eu sou a noite” ou somente adotou a escuridão?

Dark, mas com opções

Fazendo jus ao nome, o carro é inteiro preto por dentro e por fora, com alguns detalhes metálicos internos. A frente não é diferente da dos outros Cruze, nem foge ao design geral escolhido pela Chevrolet, mas a combinação desse design com o preto monocromático parece dar um quê Gotham City ao sedã.

Um detalhe aqui não estava na imagem original | Crédito: montagem sobre imagem de divulgação

E falo isso no melhor sentido: é uma coisa boa parecer um Batmóvel. Quem não gostaria de ter um Batmóvel? Parece que o dono pegou um cruze padrão e modificou-o para homenagear Bruce Wayne. É uma das coisas que faz com que ele passe a sensação de ser um carro mexido.

publicidade

Esse toque faz com que o Cruze Midnight tenha um design bem atraente para um carro intermediário, e mais ainda quando a gente pensa que é o segundo mais básico que de sua linha, R$ 3 mil a mais que o Cruze LT de entrada. A traseira não tem nada de espetacular em comparação com a frente, mas o conjunto tem seu charme especial.

Mas, por mais que eu ame as histórias do Cavaleiro das Trevas, pode ser literalmente doloroso usar um carro preto no verão do Brasil, como foi no teste.

Para nos salvar disso, o ar condicionado – básico, universal, sem seleção diferente para cada lado – só funciona com o motor ligado. Não dá para pré-condicionar. Talvez seja subjetivo, porque não testei com um termômetro, mas pareceu ficar aquém dos 16 graus prometidos. Mas foi suficiente deu para tornar o forno que estava ficando num ambiente habitável e dirigível.

Para quem se incomoda com o calorão e/ou não passou seus anos formativos lendo quadrinhos ou ouvindo Siouxsie, Bahuaus e The Cure, o carro também oferece, neste ano, as opções cinza e azul – que não deixam de ser cores noturnas (cinza também conta para Batman, se for o dos anos 60).

Espécie ameaçada

E a gente pode estar falando de um carro em extinção. Lançada em 2007, a linha começou a ser fechada no mundo inteiro a partir de 2018. Só resta a linha de montagem na Argentina, de onde vêm os modelos vendidos no Brasil.

Segundo a própria GM, a razão da sobrevivência é que o compacto acaba ocupando um nicho diferente em países diferentes. Se aqui é um intermediário, nos EUA era um veículo de entrada, que terminou vítima da SUVmania que assola o país, mais que todos. Mas aqui se tornou, ainda segundo a GM, um sucesso cult: quem tem Cruze costuma ser fiel.

Há quatro versões disponíveis do Cruze no Brasil, com RS e Midnight sendo as mais recentes, chegando em fevereiro passado. São duas ideias diferentes para tornar o modelo mais esportivo. O RS é um hot hatch um pouco mais avançado. O Midnight é bem próximo do modelo mais básico da linha, saindo a (salgados, mas é a situação em que estamos) R$ 135 mil. Ambos contam com a mesma motorização.

Motor EcoTec do Chevrolet Cruze Midnight
Motor Ecotec 1.4 Turbo do Chevrolet Cruze Midnight | Imagem: divulgação

E aqui é outra coisa na qual o Cruze Midnight parece um carro mexido. Ele tem um motor 1.4 Turbo, de 153 cv. Para um compacto leve assim, dá mais que para o gasto, e a GM diz que ele faz de 0 a 100 em 9 segundos e tem uma máxima de 214 km/h.

Na prática, o motor é algo com que você se acostuma. Ele tende a perder velocidade com o pé no meio do acelerador. Você precisa descer o pé, como dando uma esporada num cavalo. O motor turbo acorda, ruidosamente. Não é obviamente um motor de carrão esportivo, mas tem sua dose de emoção. É o que mais dá essa sensação de você estar num carrinho mexido.

Outras “mexidas” são coisas que parecem saídas de modelos mais caros nele. É automático, com uma opção pseudo-manual mexendo a alavanca para frente e para trás para forçar o modo manual – a GM fala em usar em subidas, mas, sinceramente, pareceu mais um placebo para quem faz questão absoluta de mudar as marchas.

Também tem um controle de velocidade máxima bem confiável, exceto por descidas: aí o freio é a única solução. Há uma notável assistência à partida na subida, e um controle de tração.

Outra coisa que ainda é considerada luxo, mas devia a esta altura ser obrigatória, é a câmera traseira. É analógica, não tem muita resolução, mas os sistemas detectam bem pedestres e proximidade, e a previsão de trajeto funciona. Não há sensores frontais ou laterais, presentes em outras versões do Cruze. Também não há a função de estacionamento automático.

Há espelhos motorizados, mas os assentos são ajustados mecanicamente mesmo, com uma alavanca.

Interior do Chevrolet Cruze Midnight
Interior do Chevrolet Cruze Midnight | Imagem: divulgação

O computador de bordo é mais para ser “terceirizado”. É bem básico, mas permite parear celulares para atender ligações, e compartilhar Wi-Fi, se você assina pelo serviço. Não tem GPS.

A ideia é mais você ligar seu celular e usar o Android Auto ou Apple Car Play. Só dá para ligar por cabo USB, e o compartimento de celular é meio pequeno. Meu celulão LG Velvet (16,72 cm de comprimento) não coube e não parava no lugar. Acabei tendo que botar mais atrás, com o cabo cruzando a alavanca de câmbio.

Em termos de espaço interno, é o que se espera de um compacto. Os bancos são em material sintético e tem ajuste manual, e a traseira, apesar de ser um sedã “cotoco”, com a traseira não se estendendo quase nada, tem generosos 440 litros: cabe a bagagem da família inteira e ainda sobra para um isopor de cerveja.

Aliás, uma graça especial: a chave eletrônica tem um botão dedicado para abrir o compartimento de carga. E, como é padrão, tem uma versão física escondida.

Veredito

Mas, enfim, vale a compra?

A razão desta resenha ter se saído irreverente assim é a relação que acabei criando com o carro – que comecei a chamar de “carrinho”. Foi de certa intimidade, foi certa apropriação. Eu só fiquei por uma semana, sabendo obviamente que era um empréstimo. Mas, por alguma razão misteriosa, começou a parecer que era meu.

Não gostei de começo. Parecia um pacote meio leve, meio básico, talvez porque eu tivesse sido mimado por dois carrões nos últimos testes.

Mas, eventualmente, o coração pareceu se aquecer. É aquele sensação de “meu número”. O Cruze Midnight simplesmente funciona para o que se propõe, e faz mais um pouco. Não passa perto de ser um carro de luxo, mas faz muito bem aquilo a que se propõe: dar personalidade a um veículo médio. É mesmo como um carro mexido, que acaba virando xodó do dono.

O preço é sinceramente salgado para um carro assim. Mas, comparado a outras ofertas na mesma faixa, inclusive outros Cruze, não fica mal. Se você compra sem expectativas irreais, pode acabar se encantando pelo conjunto e se juntar ao fã-clube.

E, se esse é o caso, é bom não esperar demais, porque o fim da linha e o fim dos sedãs compactos, devorados pela SUVMania, pode estar perto.

Leia mais:

Nossa avaliação
Nota Final
7.7
  • Design
    8.5
  • Conforto
    7.5
  • Potência
    7.5
  • Custo-benefício
    7.0
  • Acessórios
    8.0