Que golfinhos são inteligentes, todos nós já sabemos, mas um time de cientistas da Universidade de Strathclyde e dos institutos Clyde Porpoise CIC e CESIMAR–CCT CENPAT-CONICET, na Escócia, conseguiram encontrar um único golfinho capaz de se comunicar com animais focenídeos – o popular “boto”. A descoberta rendeu um estudo publicado no jornal científico Bioacoustics.

Embora fisicamente parecidos, as duas espécies possuem algumas diferenças óbvias: o rosto de um golfinho é mais alongado e “bicudo” que o dos botos, que tendem a ter o rosto mais achatado e serem mais “cabeçudos”. Essas diferenças também são vistas na comunicação dos animais: os primeiros “conversam” por um assobio similar ao ar de uma bexiga passando por uma saída apertada, e botos preferem “cliques” estridentes. Os golfinhos, porém, conseguem “clicar” também – e esse é um detalhe importante.

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O golfinho Kyle e um grupo de botos na Escócia parecem "conversar" em idioma próprio, intrigando cientistas quanto à interação improvável das duas espécies
O golfinho Kyle e um grupo de botos na Escócia parecem “conversar” em idioma próprio, intrigando cientistas quanto à interação improvável das duas espécies (Imagem: Universidade de Strathclyde, Clyde Porpoise CIC, CESIMAR–CCT CENPAT-CONICET/Reprodução)

Ao ouvirem relatos da população local do Fiorde de Clyde, uma entrada litorânea na Escócia, os cientistas decidiram investigar e descobriram “Kylie”, o golfinho solitário que, segundo os residentes, ocasionalmente é visto interagindo com os botos. Sabendo das diferenças das duas espécies, os pesquisadores conduziram um estudo para analisar mais a fundo essa relação.

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O time empregou o uso de um hidrofone – um microfone para ser usado debaixo d’água – para capturar os sons feitos por Kylie. Estranhamente, eles não ouviram nenhuma “bexiga”, mas sim cliques estridentes – na mesma frequência dos botos da área.

Explicando: a “voz” dos golfinhos é proveniente do ar que eles empurram de dentro para fora por meio de uma estrutura muscular parecida com as nossas cordas vocais. Esse ar escapa de forma pressurizada, o que gera o som que conhecemos. Entretanto, essa mesma musculatura é capaz de ”clicar”. Paralelamente, botos e outros focenídeos “clicam” um som bem estridente.

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O que eles perceberam com o hidrofone e algumas câmeras é que Kylie, o golfinho, se aproximava dos botos e tentava imitar a linguagem deles – e os botos paravam de nadar para ouví-lo.

Os cientistas não sabem informar se houve alguma compreensão dos botos pelo que Kylie “falava”, mas o som era suficiente para fazê-los prestar atenção. A grosso modo, é uma interação parecida com um humano “latindo” para um cachorro. O canino vai estranhar e buscar entender – mas isso não é o mesmo que “compreender” a conversa.

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A notícia traz um ar de fofura para a interação entre botos e golfinhos – algo que, segundo dois estudos do final da década de 1990, seria impossível: tais estudos apontaram que, além dos humanos, os golfinhos são os únicos animais que entendem o conceito de “matar por diversão”. Em alguns anos pesquisando os animais, cientistas encontraram corpos de botos e filhotes de outros golfinhos mutilados e mortos, porém não devorados. Em suma, os animais estavam matando – e isso é a ciência falando – simplesmente porque podiam.

Voltando a Kylie, o golfinho não é visto há mais de um ano, e especulações sobre a sua relação com os botos locais já começaram a saltar: há quem pense que, por ele ser o único golfinho da área, ele não queira se sentir só e, dadas as similaridades com botos, ele pode reconhecer os animais como parentes distantes.

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