Apesar do hype dos NFTs em 2021, o volume de transações vem decaindo nos últimos 3 meses, o que não quer dizer que ele enfraqueceu ou vai acabar. Modesta Masoit, diretora de análise financeira do site DappRadar – um dos maiores sobre NFTs atualmente, acredita que isso seja mais um sinal da consolidação desse mercado. Com isso, diversos artistas seguem na espreita e na tentativa de monetizar em cima dessa tecnologia. E o mercado da música com certeza não quer ficar de fora.

Após o bem sucedido lançamento do disco do Kings of Leon, no ano passado, em modelo NFT, a tecnologia entrou definitivamente na pauta do mercado fonográfico. O álbum permitiu acessos exclusivos aos ouvintes. Para mim, o grande negócio por trás do mundo da música sempre foi atribuir valor a algo que fundamentalmente resiste a uma avaliação precisa – quem pode dizer quanto valem nossas músicas favoritas?

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Na maior parte da última década, a resposta tem sido serviços de streaming como Spotify e Apple Music, que oferecem acesso a uma vasta biblioteca de faixas gravadas por taxas relativamente baixas. Com o argumento implícito que o acesso substituiu a propriedade.

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Aliás, deixo uma pergunta em aberto: quando foi a última vez que você comprou uma música?

O declínio das vendas de mídia física (CD, Vinil, …) deixou um enorme buraco no mercado e os serviços de streaming entraram com tudo em cena. De acordo com o relatório de final de ano da Recording Industry Association of America, o streaming representa mais de 83% da receita de todo o setor. Mas os pequenos artistas não têm tantas oportunidades. O porcentual pago e o modelo de negócio dos serviços priorizam apenas os grandes. Seguindo mais ou menos a mesma lógica de como o mercado fonográfico sempre funcionou, apenas 184.500 dos 1,2 milhão de artistas no Spotify ganham mais de US$ 1.000 por ano.

Recentemente, uma equipe de especialistas da indústria musical britânica construiu um “marketplace” de NFTs que visa revolucionar a forma como os músicos são pagos – e recompensar os fãs de música também.

O produtor e fundador do mercado de NFT baseado em música Token Traxx, Tommy Danvers, também conhecido como TommyD, percebeu que o sistema em questão estava quebrado. Mas ele não conseguiu encontrar uma solução, até que o primeiro lockdown da covid, no início de 2020, o levou a conectar os pontos entre seu amor pela música e o interesse em criptomoedas e blockchain.

Com receitas de streaming baixíssimas para tantos artistas e medidas de distanciamento social que significaram o cancelamento de shows, boates e festivais, havia uma necessidade urgente de encontrar maneiras para reconectar artistas com seus fãs e permitir que eles vivessem de suas músicas.

Token Traxx não foi o primeiro a juntar música e NTFs, mas o cofundador Miles Leonard, ex-presidente da Parlophone e Warner Bros UK, que também trabalhou para gravadoras como Virgin, EMI e Roadrunner, acredita que tratar NTFs como um produto não é a melhor abordagem. Afinal, o que são CDs, vinis e cassetes se não apenas NTFs físicos? A nova tecnologia precisa oferecer algo que nunca foi possível antes, caso contrário, qual é o sentido?

Segundo ele, o NFT é um clube. Um espaço fechado para seus maiores fãs. “Todo mundo fala sobre 3LAU, que lançou também um projeto em forma de NFT em 2021, porém existem outros artistas desconhecidos por aí que tiveram sucesso com seus lançamentos nesse formato. E a pergunta é, por quê? Porque eles se envolveram na comunidade cripto e também se conectaram com os fãs de sua música”, disse Leonard.

Através da Traxx Token, os artistas podem facilmente tokenizar músicas, álbuns e merchandising. Mas eles também são encorajados a ter um plano de longo prazo para o que eles possam oferecer a seus fãs, além de simples lançamentos de NFT, com shows exclusivos, Meet & Greets, até avatares que podem ser usados no metaverso no futuro.

Uma das maneiras mais significativas de oferecer isso é com NFTs de royalties – tokens que têm uma porcentagem da receita do escritor alocada por meio de um contrato inteligente, que dá direito ao titular uma porcentagem do que o artista ganha.

Existem diversos modelos e novas práticas surgindo. A venda do Generative Music é um exemplo: são músicas diferenciadas geradas por sistemas. Hoje, grande parte dos NFT’s bem-sucedidos estão atrelados a discos de vinis físicos; versões digitais de partituras originais com anotações dos artistas, como a de “Hey Jude” dos Beatles; memorabília; percentual de direitos autorais, entre diversos outros caminhos.

Todos estão buscando um “lugar ao sol” no novo mundo cripto, e como toda revolução, isso traz mistérios, anseios e dúvidas, mas também oportunidades.

Para entender essas novidades, precisamos continuar atentos.

*Luciano Mathias é o CCO da TRIO

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