Todo mundo está falando, mas será verdade? Cansada do comportamento indevido do cantor canadense Justin Bieber, a Ferrari o teria colocado numa lista negra, um grupo de pessoas proibidas de comprar carros de sua marca.

Essa situação foi divulgada por jornais italianos (berço da montadora) e, daí, ao resto do mundo. Mas a suposta entrada do ícone pop canadense na lista da Ferrari foi noticiado, no mínimo, já em 2020. O Corriere Motori diz que essa história do Bieber “proibido de comprar carro da Ferrari” vem de antes ainda: 2016.

O susposto aqui é porque, na mesma matéria do jornal italiano, há a informação de que a montadora nega a existência dessa lista de banidos. Não foi possível encontrar nada oficial da Ferrari sobre as supostas “personas non gratas”. Nicolas Cage, um dos compradores que aparecem como “banidos” nessas matérias, é na verdade um colecionador de Ferraris, e jamais fez algo com o que Bieber teria feito (abaixo).

“Isso é uma fake news de 7 anos”, informa Carlos Quintanilla, diretor de comunicações da Ferrari para a América Latina e Península Ibérica. “Então qualquer coisa além disso de nossa parte é não comentar.”

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Curto e grosso: é fake. Bieber (e Nicolas Cage etc.) não estão proibidos de comprar Ferraris, ponto.

Lenda com fundo de realidade

Mas o que explica a lenda urbana? Existe uma coisa que parece com ela, mas é bem diferente de ser chutado pego pelo colarinho e jogado pra fora de uma concessionária da Ferrari. Existe um programa separado para comprar modelos exclusivos: os hipercarros de edição limitada. Qualquer um pode comprar uma Ferrari F90 ou Roma, mas um Monza SP2, só quem a Ferrari aprova.

“Em séries limitadas como o Monza SP2”, afirma Quintanilla, “há um processo de validação interna, mas, para qualquer carro de produção que nós temos, qualquer um tentando comprar qualquer modelo é mais que bem-vindo nas nossas concessionárias pelo mundo”.

Quando se fala em série limitada, o processo seleciona proprietários exemplares, geralmente já donos de múltiplos exemplares, que tratam seus carros com respeito, e que não têm uma persona pública que possa ser vista como constrangedora para a marca (na real, qualquer um pode ser vetado por pura implicância do diretor de marketing da Ferrari, que dá a palavra final). Coisas como modificar uma Ferrari clássica são um sacrilégio imperdoável.

Enfim, o que é fato é que a Ferrari decide quem compra os exclusivos, mas não existe essa política para modelos de linha. É chegar na concessionária e comprar, como qualquer carro. E não precisa de lista negra para exclusivos, quando é um processo no qual cada pessoa é avaliada e todo mundo pode receber um não.

E Bieber provavelmente receberia um não se tentasse, porque ele, de fato, não é um cliente ideal.

Justin Bieber e sua Ferrari

Ferrari do cantor Justin Bieber customizada
Imagem: Reprodução/Twitter/West Coast Customs

Bieber tem uma história complicada com a Ferrari. Em 2016, o músico canadense, que hoje tem 28 anos de idade, dirigiu bêbado o modelo Ferrari 458 e esqueceu onde o havia estacionado, deixando o carro abandonado.

Bieber teve que procurar o carro por duas semanas e quem acabou encontrando a Ferrari foi um membro de sua equipe.

As modificações que o cantor fez no veículo também não caíram bem para a marca italiana. A Ferrari ganhou uma cor azul, substituindo o branco original, e ganhou um novo sistema de som com 2.000 watts. Toda personalização que ocorre nos carros da montadora deve ser, segundo os princípios Ferrari, feita por quem tenha licença da marca, e ela própria tem um programa para customizar os fábricos na compra.

O cantor recorreu à californiana customizadora especializada West Coast Customs para o trabalho. Nas redes sociais, a empresa chegou a parabenizar Justin Bieber pelo seu aniversário, com direito a imagens da máquina toda trabalhada.

A Ferrari modificada de Bieber (que também já foi autuado por dirigir sem habilitação) foi leiloada pouco tempo depois da personalização. Ferraris limitadas – de novo, só limitadas – são vendidas com uma cláusula que impede que sejam revendidas no primeiro ano. Isso é feito para evitar que alguém torne um negócio comprar esses modelos e revendê-los.

50 Cent, Nicolas Cage e outros nomes “vetados”

A lista negra da Ferrari ser um mito (ou estar, literalmente, na cabeça de um executivo) não impede que outros nomes sejam adicionados a ela.

O rapper e compositor Curtis James Jackson – o 50 Cent, se o nome não acendeu nenhuma luz – é outra figura que circula nas notícias falsas como vetada. A imagem da marca teria sido atacada pelo artista em inúmeras ocasiões em suas redes sociais: com direito a comentários inapropriados sobre os carros, até um deles tomando um banho de champanhe.

Nicolas Cage também é citado por um fator delicado e curioso. Por causa de dívidas pessoais, o ator teve que vender sua Ferrari Enzo.

Quando alguém compra uma Ferrari de série limitada, assina um contrato dizendo que não irá vendê-la no primeiro ano. Isso é feito para evitar a especulação, tornar a revenda de Ferraris exclusivas um negócio. Mas isso só se aplica a carros novos, e a Ferrari de Cage tinha mais de 50 anos.

Nicolas Cage
Imagem: LaCamera Chiara/iStock

Outro rapper listado como no “proibidão” da Ferrari é o americano Tyga, que não fez o pagamento do aluguel de uma Ferrari 458 Spider em 2016. Já o apresentador e influenciador do mundo automobilístico Chris Harris escreveu um artigo que deu a entender que a Ferrari burlava as regras para garantir que seus carros sempre recebessem as melhores classificações de revistas e editores.

A lista continua com Kim Kardashian, Blac Chyna e o pugilista Floyd Mayweather… E pode marcar também Popeye e Pato Donald, porque qualquer um pode adicionar um nome numa lista fictícia.

Atualizado em 06/05/2022 às 10h15: a Ferrari respondeu, informando que está ciente da notícia falsa e que ela é antiga; a matéria foi editada para refletir essa confirmação.

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Imagem: Kathy Hutchins/Shutterstock