Sinal de rádio a 3,5 bilhões de anos-luz nos ajuda a pesquisar o espaço entre galáxias

Estudo publicado na revista Nature fala sobre dezenas de disparos repetidos de sinais, o que empolgou cientistas que os identificaram em 2019
Rafael Arbulu08/06/2022 18h29
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Imagem: Ahmed92pk/Shutterstock
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Uma série de disparos rápidos de sinais de rádio (FRBs) identificados em 2019, são objetos de uma nova pesquisa publicada na revista científica Nature, onde os astrônomos usaram os telescópios Five-hundred-meter Aperture Spherical radio Telescope (FAST) e Very Large Array (VLA) para posicionar esses disparos e estudar o que chamam de “mediano intergalático” – o espaço entre as galáxias.

“Examinar o mediano intergalático é muito difícil”, disse o co-autor do estudo, Shami Chatterjee, cientista de pesquisa astronômica da Universidade Cornell, nos EUA. “Esta parte é chata de sondar, então é por isso que sinais velozes de rádio são tão empolgantes. Esses disparos nos permitem estudar as propriedades dessa região em alto detalhe”.

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Sinais rápidos de rádio - ou FRBs - são emissões de rádio dispersadas em galáxias distantes, e que nos permitem estudar diversas características delas por meio de telescópios especificamente projetados para ouví-los
Sinais rápidos de rádio – ou FRBs – são emissões de rádio dispersadas em galáxias distantes, e que nos permitem estudar diversas características delas por meio de telescópios especificamente projetados para ouví-los (Imagem: Martin Aleksov/Shutterstock)

Segundo os autores, quatro disparos foram detectados pelo FAST em 2019, durante um escaneamento rápido (24 segundos). As observações continuaram entre abril e setembro do mesmo ano, onde outros 75 disparos foram vistos. Os astrônomos afirmam que a velocidade desses sinais indicam que o FRB (designado “FRB 20190520B”) é bastante jovem e está localizado a 3,5 bilhões de anos-luz de nossa posição.

“Ele parece estar posicionado em um ambiente de plasma bem complexo, do tipo esperado quando falamos dos restos de uma supernova”, explicou Chatterjee, em referência ao fenômeno de explosões estelares. “Então uma possibilidade é a de que essa fonte bem ativa seja recém-nascida e, neste caso, ela traz um cenário evolucionário intrigante para fontes FRB, no qual fontes jovens podem ser associadas a emissões de rádio persistentes. Esse tipo de emissão vai desaparecendo conforme o volume de repetição desacelera. Claro, isso ainda é uma hipótese e estamos empolgados para testá-la ao comparar [esse objeto] com outros FRBs”.

O que deixou os cientistas intrigados é o fato do FRB 20190520B se comportar de forma diferenciada de seus pares: normalmente, FRBs passam por quantidades modestas de gás (elétrons livres) em meio às galáxias onde eles estão localizados. Com isso, a contagem desses elétrons é facilitada.

Não aqui: o FRB 20190520B encontrou muito mais gás do que o esperado, o que está fazendo com que os autores do estudo desafiem as aplicações tradicionais.

Agora, o objetivo é usar esses dados para entender como o mediano intergalático se forma.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.