Um estudo conduzido por paleontólogos do Reino Unido e da China indica que a natureza se recuperou vigorosamente após a extinção Permo-Triássica, também chamada de Grande Morte — evento de desaparecimento de espécies em massa ocorrido há mais de 252 milhões de anos.

Evento de extinção em massa conhecido como “Grande Morte” acabou com 95% das espécies marinhas e com 70% das espécies terrestres há 252 milhões de anos. Imagem: Esteban De Armas – Shutterstock

De acordo com a pesquisa, publicada na sexta-feira (17) na revista Frontiers in Earth Science, depois desse evento, que é a extinção em massa de maiores proporções que já registrada na Terra, predadores se tornaram mais ferozes, e as presas precisaram se adaptar rapidamente para encontrar novas maneiras de sobreviver. Os ancestrais de mamíferos e as aves tornaram-se animais de sangue quente, podendo se mover mais rapidamente.

publicidade

A Grande Morte aconteceu no fim do período Permiano, quando quase todas as formas de vida do planeta foram aniquiladas, com o desaparecimento de 95% das espécies marinhas e 70% das espécies terrestres. 

Isso foi seguido por um dos momentos mais extraordinários da história da vida: o período Triássico, de 252 a 201 milhões de anos atrás, que marca um renascimento dramático da vida em terra e nos oceanos.

publicidade

“Tudo estava acelerando”, disse o professor Michael Benton, da Escola de Ciências da Terra da Universidade de Bristol, principal autor do novo estudo. “Hoje, há uma enorme diferença entre aves e mamíferos, por um lado, e répteis, por outro. Os répteis são de sangue frio, o que significa que eles não geram muito calor corporal e, embora possam morder muito rapidamente, eles não têm resistência e não podem viver no frio”.

Feixiang Wu, pesquisador do Instituto de Paleontologia de Vertebrados em Pequim, coautor do artigo, diz que a mesma coisa se deu nos oceanos. “Após a extinção em massa do Permiano, os peixes, lagostas, gastrópodes e estrelas-do-mar mostram novos estilos de caça. Eles passaram a ser mais rápidos e mais fortes do que seus antepassados”.

publicidade
Novos modos de caça surgiram depois da Grande Morte, sugerindo que os animais marinhos que apareceram depois desse período eram muito mais rápidos que seus ancestrais. Imagem: Catmando – Shutterstock

Wu analisou fósseis de peixes do Triássico da China, inclusive muitos tipos de predadores, que mostram que novos modos de caça apareceram antes do que se pensava. Ele encontrou tubarões modernos, e os longos peixes Saurichthys, muito comuns em todo o mundo naquela época, e que era um caçador de emboscadas, que espreitava em mares rasos escuros e se atirava para a frente para abocanhar todos os tipos de presas com suas mandíbulas multidentadas.

“Outros peixes triássicos da China foram adaptados para esmagar conchas”, disse Wu. “Vários grandes grupos de peixes, e até alguns répteis, tornaram-se trituradores de conchas, com grandes camadas de dentes. Até encontramos os peixes voadores mais antigos do mundo, que provavelmente se lançavam para escapar dos novos predadores”.

publicidade

Extinção em massa tornou mais quente o sangue dos animais

Os últimos répteis permianos terrestres eram geralmente de movimento lento e usavam uma espécie de postura esparramada, como os lagartos modernos, por meio da qual os membros ficavam fixos nas laterais. Quando andavam, eles provavelmente se movimentavam lentamente. Já em velocidade, podiam correr ou respirar, mas não os dois ao mesmo tempo. Isto limitou sua resistência.

“Biólogos debatem as origens da endotermia, ou sangue quente, em aves e mamíferos há muito tempo”, disse Benton. “Podemos rastrear sua ascendência de volta ao Carbonífero, há mais de 300 milhões de anos, e alguns pesquisadores sugeriram recentemente que eles já eram endotérmicos naquela época. Outros dizem que se tornaram endotérmicos apenas no Jurássico, digamos, 170 milhões de anos atrás”. 

No entanto, segundo Benton, “todos os tipos de evidências do estudo das células e até mesmo da química de seus ossos sugerem que ambos os grupos se tornaram de sangue quente após a grande extinção em massa do Permiano final, no início do Triássico”.

Leia mais:

Além disso, seus ancestrais se tornaram principalmente eretos na postura exatamente neste mesmo período. Ao ficarem em pé em seus membros, eles poderiam fazer passos mais longos. Isso está relacionado com algum nível de endotermia, para permitir que eles se movessem de forma rápida e por períodos mais longos.

Estudos anteriores sugerem que os ancestrais de aves e mamíferos triássicos pequenos e médios tinham alguma forma de isolamento térmico nas penas (no caso das aves) e nos pelos (mamíferos). Se isso for verdade – e as novas descobertas parecem confirmar -, todas as evidências apontam para grandes mudanças nesses répteis à medida que o mundo se reconstruiu após a Grande Morte.

“No geral, os animais em terra e nos oceanos estavam acelerando, usando mais energia e se movendo mais rápido”, disse Benton. “Biólogos chamam esse tipo de processo de ‘corridas armamentais’, referindo-se à Guerra Fria. À medida que um lado acelera e se torna mais de sangue quente, o outro lado também tem que fazer. Isso afeta a competição entre comedores de plantas ou a competição entre predadores. Também se refere a relações predador-presa — se o predador ficar mais rápido, a presa também deve ficar para escapar”.

Não somente em terra, mas na água também. “À medida que os predadores se tornaram mais rápidos e mais espertos em atacar suas presas, os animais marinhos tiveram que desenvolver defesas”, disse Wu. “Alguns têm conchas mais grossas, ou espinhas desenvolvidas, ou se tornaram mais rápidos para escapar”.

Benton explica que nada disso é novidade. “O que é novo é que agora estamos descobrindo que todos esses eventos estavam aparentemente acontecendo ao mesmo tempo, através do Triássico”. 

Segundo ele, isso enfatiza um “aspecto positivo” das extinções em massa. “Extinções em massa, claro, foram notícias terríveis para todas as vítimas. Mas, a limpeza em massa dos ecossistemas, neste caso, deu um grande número de oportunidades para que a biosfera se reconstruísse, e ela o fez com maior resistência do que antes da crise”.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!