Pesquisadores que investigam a exposição de pequenos mamíferos a plástico no Reino Unido encontraram vestígios nas fezes de mais da metade das espécies examinadas. Em um artigo publicado nesta segunda-feira (4) na revista Science of the Total Environment, a equipe, formada por cientistas da Universidade de Sussex, da Sociedade de Mamíferos e da Universidade de Exeter, afirma que as densidades de plástico excretadas por animais como ouriços-terrestres e ratos marrons são comparáveis com as relatadas em estudos humanos.

Foram recolhidas e analisadas amostras de fezes de sete espécies. Em quatro delas (o ouriço-terrestre, o rato-do-campo, o arganaz-do-campo e o rato marrom) foram encontradas quantidades de microplásticos comparáveis com as relatadas em estudos humanos. Imagem: E. Thrift, A. Porter, T. S. Galloway, F. Mathews et. al

“Analisando as fezes de alguns de nossos pequenos mamíferos mais difundidos, conseguimos fornecer um vislumbre do potencial impacto que o plástico tem na vida selvagem — e identificar os plásticos mais comumente descarregados em nosso ambiente”, disse Fiona Mathews, professora de Biologia Ambiental da Universidade de Sussex, coautora do estudo.

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Segundo o site Phys, a pesquisa identificou polímeros plásticos em quatro das sete espécies das quais foram recolhidas amostras fecais: o ouriço-terrestre, o rato-do-campo, o arganaz-do-campo e o rato marrom.

Os pesquisadores esperavam ver concentrações mais altas em amostras de locais urbanos e menos volume em espécies herbívoras, no entanto, eles descobriram que a ingestão de plásticos estava ocorrendo em locais variados, bem como dividido quase igualmente em herbívoros, insetívoros e onívoros.

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Ouriço-terrestre, rato-do-campo, arganaz-do-campo e rato marrom foram as quatro espécies de pequenos mamíferos com quantidades significativas de microplásticos encontradas nas fezes. Créditos: Eric Isselee/Rudmer Zwerver/Pakhnyushchy – Shutterstock

Emily Thrift, pesquisadora de mestrado pela Universidade de Sussex, diz que é muito preocupante que os traços de plástico tenham sido tão amplamente distribuídos entre locais e espécies de diferentes hábitos alimentares. “Isso sugere que os plásticos podem estar se infiltrando em todas as áreas do nosso ambiente de diferentes maneiras. Também estamos preocupados que o ouriço-terrestre e o arganaz-do-campo sejam espécies que sofram declínios em número no Reino Unido”.

Das 261 amostras fecais analisadas, 16,5% continham plástico, sendo que os tipos mais comuns identificados foram poliéster, polietileno (amplamente utilizado em embalagens de uso único) e polinorborneno (usado principalmente na indústria da borracha). 

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Responsável por 27% dos fragmentos identificados, o poliéster foi encontrado em todas as espécies, exceto no rato-do-campo. Amplamente utilizado na indústria têxtil, esse tipo de plástico contém microfibras que entram no sistema de águas residuais pela limpeza das edificações e, posteriormente, acabam no solo por meio do uso de lodo de esgoto como fertilizante.

Mais de 25% dos plásticos encontrados no estudo eram considerados “biodegradáveis”. Os autores alertam que, embora esses tipos possam se decompor mais rápido que os polímeros, eles ainda podem ser ingeridos por pequenos mamíferos e causar impactos biológicos ainda desconhecidos.

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“Precisamos entender melhor as implicações da ingestão de plástico em mamíferos terrestres — e os potenciais impactos que isso tem em seu estado de conservação”, disse Mathews. 

Segundo o artigo, os microplásticos encontrados entraram no organismo das espécies como resultado do consumo de presas contaminadas ou mesmo por ingestão direta, ao serem confundidos com alimentos pelos animais.

Segundo a pesquisadora, os excrementos de ouriços-terrestres carregavam a maior quantidade de polímeros plásticos. “Como espécie, eles já estão em declínio no Reino Unido por razões amplamente desconhecidas e são classificados como vulneráveis à extinção na Lista Vermelha regional compatível com a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN)”. 

Ela explica que os ouriços-terrestres consomem minhocas, que, por sua vez, contêm microplásticos. “Portanto, precisamos de mais pesquisas para estabelecer a escala e a rota de exposição com mais precisão, e avaliar a prevalência em espécies predatórias que consomem pequenos mamíferos, para que possamos tomar medidas adequadas para tentar proteger nossa vida selvagem em declínio contra plásticos”.

“Devemos mudar nossa relação com o plástico todos juntos; afastando-se de itens descartáveis e caminhando para substituir o plástico por melhores alternativas, estabelecendo economias verdadeiramente circulares”, disse Adam Porter, pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Exeter.

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